Fadiga, ansiedade, perda de memória e queda de cabelo foram alguns dos principais sintomas, três meses após a fase aguda da Covid-19, apontados pelos participantes da pesquisa com brasileiros que tiveram a doença. O levantamento mostrou que quase 60% deles desenvolveram Covid-19 longa. Realizado pela Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade, o estudo utilizou um questionário on-line divulgado por e-mail e nas redes sociais, e dirigido a pessoas que tiveram Covid-19. Ao todo, eles citaram mais de 50 sintomas persistentes, agrupados em dez categorias: cardiovasculares/coagulação, dermatológicos, endócrino-metabólicos, gastrointestinais, músculo-esqueléticos, renais, respiratórios, neurológicos e de saúde mental, além de sintomas gerais, como dor e tontura.
Para a análise, foram considerados os 1.230 participantes que responderam ter tido seu diagnóstico de Covid-19 confirmado por teste PCR. Desses, 720 mantiveram sintomas por três meses ou mais, e 496 relataram ainda não estar totalmente recuperados no momento da pesquisa. Os efeitos prolongados da doença foram mais frequentes entre os indivíduos não vacinados e mais de 80% dos participantes com Covid-19 longa demandaram serviços de saúde por causa da persistência dos sintomas.
Os resultados do estudo estão na nota técnica nº 44 da Rede de Pesquisa, publicada em janeiro. Entre os pesquisadores que assinam a nota, estão Claudio Maierovitch, Vaneide Pedi, Erica Tatiane da Silva e Mariana Verotti, da Fiocruz Brasília, além de Rafael Moreira e Marcos Pedrosa, da Fiocruz Pernambuco. A publicação analisa os sintomas da Covid-19 longa no Brasil e o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. De acordo com a equipe técnica responsável, “a falta de dados inviabiliza o desenho de estratégias para alertar a população sobre os riscos de desenvolver esta forma de Covid-19 e de serviços de assistência para atender às pessoas que sofrem de sequelas prolongadas”.
O objetivo da pesquisa foi justamente contribuir para o preenchimento dessas lacunas de dados. Protocolos de monitoramento de pacientes com sequelas persistentes, investimentos em atividades de reabilitação com abordagem multidisciplinar e atenção especial à Covid-19 longa nas populações mais socialmente vulnerabilizadas estão entre as recomendações do documento. “A compreensão de como se configuram os casos e sintomas da Covid-19 longa no Brasil, dos fatores associados e dos segmentos da população mais vulneráveis contribui, do ponto de vista de políticas públicas de atenção e prevenção, na resposta a esta demanda, de modo que ocorra com orientação comum, nacional e local do SUS”, avaliam os pesquisadores.
O que se sabe sobre a Covid-19 longa
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos pacientes considerados livres do Sars-CoV-2 e da doença aguda podem apresentar Covid-19 longa, isto é, entre 2,8 milhões e 5,6 milhões de brasileiros poderão precisar de cuidados de saúde por sofrer de Covid-19 longa. Esta condição se refere a uma variedade de sintomas que permanecem ou até aparecem pela primeira vez até três meses após a infecção por Sars-Cov-2, sintomas esses que não podem ser explicados por outros motivos e que trazem prejuízos à saúde e à qualidade de vida.
Embora o mecanismo exato que leva à Covid-19 longa ainda seja desconhecido, acredita-se que ela esteja associada ao processo inflamatório causado pelo vírus, que começa no pulmão e se espalha para outros órgãos e tecidos. Apesar de mais frequentemente observada em idosos, mulheres e pacientes graves na fase aguda, a Covid-19 longa pode se manifestar em qualquer pessoa.
O tratamento varia conforme os sintomas apresentados e o desfecho depende de fatores como a gravidade desses sintomas, a existência de outras doenças crônicas e o acesso ao cuidado e à reabilitação. “Estudo recente sugere que as vacinas e, principalmente, as doses de reforço podem amenizar o quadro ou diminuir as chances de desenvolver a Covid-19 longa”, destaca a nota técnica, reforçando que a população deve ser informada sobre a importância de evitar infecções sucessivas e sobre os riscos de desenvolver sequelas.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias