Na onda do desafio de 10 anos (#10yearschallenge) o portal Eu, Rio! mostra como era a economia nacional há dez anos e compara com 2019. O Brasil vive, uma vez mais, uma crise econômica grave que está afetando a vida de todo mundo. Com intuito de entendermos o que se passa com a economia do país, o portal entrevistou o professor Valter Duarte Ferreira Filho, doutor em Economia, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O especialista fez uma análise da nossa situação em 2009, que vivia sob os efeitos do “boom das commodities”, e da expectativa da sociedade com o novo governo.
O Brasil vive momentos de incertezas, principalmente em relação a nossa economia que há dez anos viveu um dos seus melhores momentos. É possível fazer uma previsão otimista?
Valter Duarte - Em 2009, tínhamos no Brasil um segundo mandato presidencial em curso. Não era mais um governo imprevisível. Em 2019, temos um governo novo, com um presidente sem histórico de mandatos executivos, com um ministério de caráter geral indecifrável e base parlamentar incerta. Não é possível ter expectativas claras em relação a esse governo.
Vivemos, então, momentos de incerteza em relação à economia?
Numa sociedade capitalista, isso faz grande diferença por dizer respeito a algo decisivo para os investidores: a confiança. Na incerteza os investidores se recolhem.
Mas o Brasil passou relativamente bem pela crise de 2008, por exemplo. O que aconteceu naquela época?
Em 2009, houve queda dos investimentos externos por conta da crise financeira que começara no ano anterior nos Estados Unidos. Mas o chamado “boom das commodities” fazia o possível, desde 2004. O elevado nível de emprego, o de salários e tudo o que decorrente disso faz o capitalismo funcionar e crescer. As receitas públicas aumentaram.
Mas essa bonança chegou ao fim...
Naquela época, o governo podia gastar, promover políticas sociais, honrar o pagamento do serviço da dívida externa e ainda aumentar as reservas cambiais. Desde então, muitas coisas mudaram. Tudo indica que o fim desse chamado “boom das commodities”, que terá sido em 2011, obrigou o país a reorganizar todas as suas relações financeiras.
Só a partir de então que o governo percebe que deveria fazer algo?
Num país em que taxa de juros é alta, obrigações sociais e impostos elevados fazem qualquer investimento ser muito arriscado, quase sempre é por iniciativas governamentais que se tem a recuperação.
Foi quando o governo decidiu a fazer o ajuste fiscal?
Foram os bancos que sinalizaram isso e veio o ajuste fiscal. A partir daí tudo desmoronou. O governo teve de reduzir os seus gastos e isso retraiu os investimentos que não tinham mesmo onde buscar de volta o dinheiro que fosse investido.
Quando o reajuste começou efetivamente?
O ajuste fiscal começou no segundo governo Dilma (ex-presidente). Além de ter sido obrigado a reduzir os seus gastos, o governo tinha que continuar a pagar as suas dívidas. Hoje, o governo está moralmente impedido de aumentar impostos e não tem como teve em 2009, suficientes meios financeiros pra governar e movimentar o país.
O governo atual adotou o discurso o qual diz que, para aquecer a economia, é preciso atrair investimentos estrangeiros. É por aí?
Não podemos nos esquecer de que o principal poder executivo do país é o dinheiro. Parece que a tentativa de obtê-lo passa por atrair capitais externos. Isso implica reformas como a da Previdência e a Trabalhista. É o recurso extremo de entregar um povo barato e sem proteção social, como se não bastassem tem ainda as anunciadas privatizações de empresas públicas e a venda de recursos naturais do nosso subsolo.
É possível sonhar com um país com as contas mais bem organizadas e consequentemente por dias melhores?
O novo governo terá que, primeiro, passar por 2019, construir alguma história e ser objeto de expectativas favoráveis. Se houver a esperada resposta em investimentos externos, ela ficará para 2020.
Amanhã, desafio de 10 anos no ESPORTE