Os Índios da Aldeia Maracanã realizaram, nesta quinta (31), uma manifestação em defesa dos direitos indígenas na porta da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A manifestação, que tem o apoio do Movimento Indígena Nacional, foi contra a transferência do Ministério da Justiça para o novo Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos, a desarticulação da FUNAI, a mudança para o Ministério da Agricultura da demarcação, o licenciamento ambiental de terra indígenas e as declarações de ódio do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) contra os índios da Aldeia Maracanã.
O ato contou com a presença de indígenas de diversas regiões do Brasil, com apoiadores da causa dos índios e com a participação do Deputado Estadual Flavio Serafini (PSOL), que falaram da presença do índio nas nossas raízes familiares e de sua importância na cultura do nosso país. Além disso, foi relatada a importância do trabalho realizado na Aldeia Maracanã, na construção da Universidade Indígena para o ensino dos saberes, histórias e culturas indígenas.
“A gente tem visto no Brasil inteiro uma mobilização do discurso de ódio contra os povos indígenas. O próprio presidente eleito tem discursado que os indígenas ocupam muitas áreas, que o Brasil precisa rever essas demarcações, que as áreas indígenas são vulneráveis a interferências externas, e isso acaba legitimando a atuação de grileiros e madeireiros que devastam as terras indígenas. Aqui no estado do Rio de Janeiro, onde nós temos poucas aldeias indígenas, embora tenhamos em área de florestas, temos uma presença indígena forte simbolizada pela resistência da Aldeia Maracanã. Esse ato de hoje é um ato nacional que, aqui no Rio de Janeiro, tem essa resistência dos indígenas, também urbanos, como ponto central. Nós todos estamos juntos. O Brasil tem que superar a visão colonial que sempre se reproduz para legitimar os interesses dos setores dominantes sobre os povos explorados, principalmente sobre os negros e os indígenas. Aqui estamos reafirmando os direitos civis, e que não permaneça esse genocídio que tem se desenvolvido nas diferentes regiões do país”, disse o Deputado Flávio Serafini no ato em frente à ALERJ.
Durante a manifestação, líderes do grupo indígena que representa a Aldeia Maracanã entregaram uma representação à Presidência da ALERJ contra o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) por quebra de decoro parlamentar. O deputado tem realizado declarações contra a Aldeia Maracanã e o povo indígena de incitação ao ódio e ao preconceito racial.
Na campanha para candidato a deputado estadual, Rodrigo Amorim gravou um vídeo, postado nas redes sociais, chamando a aldeia indígena de” lixo urbano, e afirmou que a mesma não possui absolutamente nada de cultural e que o prédio é utilizado por usuário de drogas e marginais”. No início do ano, ele tornou a afirmar suas palavras em sua página, em uma rede social.
“É um lixo urbano, sim! Não há absolutamente nada de cultural ou que seja de interesse da população num casarão abandonado que, apesar de histórico, está caindo aos pedaços e servindo de abrigo para quem não tem esse direito: usuários de drogas e marginais”, disse Rodrigo Amorim.
O Portal Eu Rio conversou com Micael Bare-Mawe, um dos índios integrantes da Aldeia Maracanã. Segundo o indígena, ele saiu da sua tribo no Amazonas, viajou por todo o Brasil, vendendo artesanato indígena, e resolveu ficar aqui no Rio de Janeiro. Com os constantes problemas com a Guarda Municipal, Micael resolveu fazer uma faculdade aqui no Rio de Janeiro. Bare-Mawe foi o 1º índio a entrar pelo sistema de cotas na UERJ em 2009, quando já morava na Aldeia Maracanã. Ele se formou em História, é técnico em Arqueologia e está terminando sua dissertação de mestrado. O indígena relatou que o objetivo da Aldeia é se tornar a primeira universidade indígena do país. O objetivo do local seria um espaço de ensino com a aplicação de métodos e aprendizagem da cultura indígena. O estudante aprenderia sobre a medicina indígena, sua arte, costumes e história.
Sobre as declarações do Deputado Estadual Rodrigo Amorim e as medidas do novo governo contra os indígenas Micael Bare-Mawe deu a seguinte declaração:
“O que está acontecendo atualmente é uma ignorância. Essa ignorância que já vinha sendo aplacada com algumas políticas públicas em educação, mas, com o novo olhar de um governo autoritário, estamos sofrendo mais uma vez com a ignorância. Eu costumo dizer que, para nós aplacarmos a ignorância, temos que agir com a educação. Nós temos que partir que a educação é a única arma que podemos usar contra essa falta de conhecimento da cultura indígena. Além disso, existem vários interesses monetários por trás dessas medidas. Esse discurso ideológico de colonizador é um retrocesso que eu, como indígena na universidade, venho percebendo que tem sido visto com muita força pela falta de uma verdadeira educação. Uma educação emancipadora. Aqui no Rio de Janeiro, infelizmente, esse deputado está mergulhado na ignorância, porque ele é descendente indígena, que esconde ou não sabe, devido a essa historiografia que foi escrita, diminuindo a cultura da população indígena. A única forma de lutarmos contra isso é devolvermos a ignorância em conhecimento, por meio de um diálogo e uma aproximação amorosa da educação. Eu gostaria muito de ter uma conversa com esse deputado frente a frente, para ele chegar à conclusão de que ele está mergulhado na ignorância e que, redescobrindo a sua ancestralidade indígena, será mais feliz, e todos podemos ser felizes juntos e não afastados”, disse índio Micael Bare-Mawe.
Ao final da manifestação, os indígenas presentes convidaram todos os presentes para participarem de uma dança cultural indígena, que reuniu várias pessoas.
O Censo do IBGE (2010) registrou que, no estado do Rio de Janeiro, existem cerca de 15.894 pessoas autodeclaradas indígenas, que vivem no meio urbano e nas aldeias fluminenses localizadas em Angra dos Reis, Paraty e Maricá.
A Assessoria do Deputado Estadual Rodrigo Amorim (PSL) foi procurada, mas não se pronunciou até o fechamento dessa matéria.