A Música Popular Brasileira está de luto nesta segunda-feira (24) com as mortes das cantoras Leny Andrade, aos 80 anos, e Dóris Monteiro, aos 88. Leny Andrade deixou uma lista de interpretações marcantes, dando toques jazzísticos a obras de grandes nomes da MPB. Já Doris Monteiro foi uma das precursoras da Bossa Nova, com um canto característico, baseado em divisões rítmicas inovadoras.
Leny era admirada por ícones da música nacional e mundial. Um de seus fãs era Tony Bennett, recém-falecido, que assistia a seus shows na primeira fila. No Brasil, seus fãs incluem Margareth Menezes, Mônica Salmaso e Zélia Duncan, que demonstravam sua admiração no Instagram da cantora.
A cantora acompanhou o surgimento da Bossa Nova. Aos 15 anos, já se apresentava em bailes e programas de calouros, e foi convidada a cantar no Beco das Garrafas — travessa conhecida como o berço da Bossa Nova. Conheceu nomes como Sérgio Mendes e Tom Jobim.
Leny foi uma das responsáveis por levar a música brasileira ao resto do mundo. Passou cinco anos morando no México e chegou a ter um apartamento em Nova York, onde se apresentava com frequência.
Já Doris Monteiro sempre foi associada à bossa nova. Mas ela começou sua carreira profissional bem antes do movimento estourar, quando lançou em 1951, aos 16 anos, em 1951, um compacto pela gravadora Todamérica, com duas músicas. As gravações não foram recebidas muito bem pela crítica, mas uma delas, a canção Se Você Se Importasse, se tornou sucesso e impulsionou sua carreira.
Com voz suave, sem a impostação e os vibratos tão característicos da maioria dos cantores daqueles tempos, caiu muito bem para os sambas-canção mais românticos da fase pré-bossa-nova. O canto de Doris ajudou a fundar a fase da moderna música brasileira, impulsionada pelas inovações rítmicas trazidas por nomes como João Gilberto, João Donato, Tom Jobim e Johnny Alf.
Em 1958, emplacou um novo sucesso, o samba-canção Dó-Ré-Mi, composta por Fernando Cesar. Em 1964, em um disco que levava apenas seu nome do título, abraçou a bossa nova com canções como Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, e Sambou Sambou, de João Donato.
Em 1969, Doris gravou o samba Mudando de Conversa, de Herminio Bello de Carvalho e Maurício de Tapajós, que se tornaria um de seus grandes sucessos de carreira.
Nos anos 1970, Doris gravou discos que hoje são cultuados pelos fãs da música brasileira, que a fizeram ser associadas ao que se chamou de sambalanço, com instrumentos de sopro para marcar bem o ritmo e com influência caribenha. As gravações de Coqueiro Verde, Garota do Pasquim e A Feira, do disco que a cantora lançou em 1970 são exemplos disso.
Essa fase de Doris, inclusive, já foi revisitada por cantoras brasileiras contemporâneas ao longo dos anos. Roberta Sá, por exemplo, regravou Alô, Fevereiro, que Doris lançou em 1972. Já Paula Lima buscou É Isso Aí no disco que Doris lançou em 1971.
Ainda na década de 1970, Doris estabeleceu uma parceria com o cantor Miltinho. Juntos, gravaram três discos com repertórios que privilegiavam sambas canção e sambas. Doris também continuou a gravar regularmente, com versões para canções de João Donato, Billy Blanco e João Nogueira.
A partir da década de 1980, as gravações se tornaram menos frequentes, mas Doris continuou ativa em shows e participações em álbuns de colegas.
Em 2020, o produtor Thiago Marques Luiz juntou Doris a Claudette Soares e Eliana Pittman no álbum As Divas do Sambalanço, gravado ao vivo em São Paulo. Nele, Doris canta faixa como Balanço Zona Sul, Bolinha de Papel e Mancada. As três cantoras passaram a fazer apresentações com esse projeto pelo Brasil.
Em dezembro de 2022, Doris, Claudette e Eliana se apresentaram no programa Faustão na Band, quando cantaram ao vivo. Doris, na ocasião, já aparentava estar com a saúde debilitada.