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Espetáculo teatral relembra 30 anos da Chacina da Candelária

Apresentações da Trupe Investigativa Arroto Cênico estão sendo realizadas na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema

Por Portal Eu, Rio! em 02/08/2023 às 14:14:52

Foto: Divulgação

O ano de 2023 é marcado pelos 30 anos da chacina da Candelária, quando oito jovens foram assassinadas enquanto dormiam em frente à Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. A Trupe Investigativa Arroto Cênico, da cidade de Nova Iguaçu, realizou uma intensa pesquisa dramatúrgica sobre a chacina e fará nova temporada do espetáculo “Candelária”, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, entre os dias 1º e 23 de agosto, às terças-feiras e quartas-feiras, sempre às 20 horas. A peça já realizou 2 temporadas contempladas no Edital FOCA – Fomento à Cultura Carioca 2021 e um circuito de apresentações através do Edital Retomada Carioca RJ 2 da SECEC.

Com dramaturgia de Karla Muniz Ribeiro e direção de Madson Vilela, o espetáculo remete ao crime de julho de 1993, mas também fala sobre o genocídio da população negra, se tornando um espetáculo manifesto que propõe uma discussão cênica a respeito da política de embranquecimento social que perdura até hoje no país.

O roteiro do espetáculo faz três recortes cênicos com base em dados históricos: Em 1525, o Brasil recebeu o primeiro navio negreiro, com negros africanos desembarcando forçosamente em terras nacionais, famílias separadas, catequização, nomes trocados e trabalho não remunerado seguido de torturas. Em 1911, uma comitiva brasileira vai até Londres participar do Congresso Universal das Raças com o intuito de doar terras, dinheiro e passagem a europeus que quisessem morar no Brasil, com o único objetivo de embranquecer a população e com planejamento de, no ano de 2012, extinguir a população negra. E, em 1993, crianças negras são mortas na cidade do Rio de Janeiro. O que esses três momentos da história do Brasil têm em comum? Esse é o mote dramático deste projeto.

“O projeto de genocídio e extermínio da população negra brasileira ganha cada vez mais força. E, com “Candelária”, nós queremos contar/dizer/gritar que esse projeto, que começou lá atrás, com o primeiro ancestral negro sequestrado e trazido para cá, passou por vários períodos da nossa história, cada vez ganhando mais força, seguindo seu curso e nós precisamos pará-lo. E o teatro é a nossa arma de denúncia. Nenhuma forma de comunicação é tão direta como o teatro. Através dele é possível refletir sobre questões que, de outra forma, teríamos imensa dificuldade de explanar e exemplificar, ou até mesmo de atingir com a mesma precisão e impacto do significado pretendido”, afirma Karla Muniz Ribeiro, dramaturga e atriz do espetáculo.

No elenco, além de Karla Muniz Ribeiro, também estão Jonathan Silva, Simone Cerqueira e Madson Vilela, artistas negros e periféricos que fundamentam a proposta, uma vez que constantemente sofrem o apagamento de sua arte numa cena carioca formada, na maioria das vezes, por artistas brancos. A montagem segue os moldes do Teatro Contemporâneo, numa encenação fragmentada que utiliza recursos que potencializam o espetáculo.

Para Madson Vilela, diretor e ator do espetáculo, os coletivos teatrais da Baixada Fluminense vêm, nos últimos anos, mostrando fôlego para romper barreiras que antes cerceavam a difusão da produção de espetáculos da região. Ainda segundo ele, isso se dá principalmente pela persistência e trabalho em rede feito pelos artistas e grupos que estão buscando cada vez mais o aprimoramento através das trocas de experiências artísticas. “Dentro desse contexto, a Trupe Investigativa Arroto Cênico vem se firmando como uma das companhias de maior atividade da região. Este espetáculo é um trabalho construído através do afeto. Sempre em roda, a cada encontro, partilhamos nossas vivências e experiências pessoais. Os atravessamentos que nos levaram até ali. E foi aí que tudo se deu: como falar dos nossos, sem falar de nós mesmos? Somos muitos. E é através desses atravessamentos que a cena se constitui”, explica Madson Vilela.

“Passados 30 anos, falar sobre a chacina de crianças e adolescentes pretos no Centro da cidade do Rio de Janeiro é sempre se perguntar: ‘Por quê?’, ‘Por que isso aconteceu?’ e ‘Por que isso continua acontecendo?’. O espetáculo nasceu de várias perguntas e tenta entender o processo de embranquecimento forçado e o genocídio da população preta. E por que falar dos mortos? Porque estar ao lado dos mortos é uma política de memória”, finaliza a dramaturga.

SERVIÇO:

Espetáculo "Candelária"

Local: Casa de Cultura Laura Alvim

Endereço: Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema, Rio de Janeiro

Data: Até 23 de agosto (terças-feiras e quartas-feiras)

Horário: 20h

Lotação: 240 lugares

Ingressos: Meia 20,00 / Inteira: 40,00

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