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'Sedes' estreia no Teatro Gláucio Gill com foco no aumento dos casos de ansiedade e depressão

Montagem completa trilogia 'Sangue das Promessas', iniciada há dez anos com a premiada 'Incêndios'

Por Portal Eu, Rio! em 07/08/2023 às 11:59:12

Sedes completa a trilogia de Wajdi Mouawad, autor libanês radicado no Canadá. Foto: Leonardo Aversa/Divulgação

Os cariocas terão a oportunidade de ver pela primeira vez a montagem da peça “Sedes” em solo brasileiro, que estreia em 5 de agosto, no recém reformado Teatro Glaucio Gill, em Copacabana. O espetáculo completa a trilogia escrita pelo libanês-canadense Wajdi Mouawad, autor dos textos de “Incêndios” e “Céus”. Mesclando humor, música e drama, a apresentação bebe na fonte das tragédias clássicas para desvendar um grande mistério e promover uma discussão profunda e contemporânea sobre a sociedade, com o aumento dos diagnósticos de depressão e ansiedade e, também, dos casos de suicídio.

Assim como as duas primeiras obras, “Sedes” foi idealizado pelo ator e produtor Felipe de Carolis, que conquistou o direito exclusivo das produções de Mouawad na América Latina e exportou sua montagem de “Incêndios” para o Uruguai, e de “Céus” para a Argentina.

Ouça no podcast do Eu, Rio! o depoimento de Fábio de Luca sobre a montagem de Sedes, inédita no Brasil.

Enquanto idealizador, Felipe tem o aval da companhia francesa Théâtre National de la Colline para exibir o espetáculo fora da trilogia “Sangue das Promessas” e a liberdade de apresentá-las de maneira independente, garantindo que o espectador não precise assistir às produções anteriores para acompanhar “Sedes”.

“A peça traz a ideia da vontade de viver e de inquietação em relação ao futuro. Faço um personagem que flerta com aqueles que se negam a viver no que já conhecem, que estão dispostos a promover mudanças numa sociedade inerte a tanta maldade, algoritmo de aplicativos, falta de olho no olho e, principalmente, de escuta. Nós éramos conhecidos como um dos países mais hospitaleiros do mundo. Onde vemos isso agora? Ninguém se ajuda mais”, explica Carolis.

“A estrutura do texto é enigmática, misteriosa, quase formando um quebra-cabeças, com muitas metáforas, uma importante discussão sobre a influência da arte e beleza em nossas vidas e, claro, incluídas nelas as críticas ao modelo de sociedade em que vivemos, permeado pelo capitalismo agressivo”, completa.

Busca por identidade perpassa trama da peça, com a Educação como mote

Com direção de Thiago Bomilcar Braga, a obra mostra as inquietações de Sylvain Murdoch, vivido por Felipe de Carolis; Boon, encenado na fase jovem por Lucas Garbois e, na fase adulta, por Fábio de Luca, e Noruega, interpretada por Luna Martinelli. No palco, ospersonagens vivem uma verdadeira busca por suas identidades, em uma jornada para

provar, cada um por suas próprias vivências pessoais e artísticas, que a educação pode salvar vidas.

“Essa é a terceira peça do Mouawad que o Felipe produz e atua, então ele tem um entendimento profundo da obra. O meu trabalho é orquestrar tudo isso, pegar esse mosaico de inspirações e criar um espetáculo único. Não posso negar que é um grande desafio. O texto do Wajdi é um dos mais belos que já li, com tantas camadas que podemos ficar horas

reverberando suas palavras. Ele consegue ser clássico e contemporâneo ao mesmo tempo. Além disso, as duas obras dele montadas pelo Felipe no Brasil tiveram a direção do Aderbal Freire-Filho, que é simplesmente o maior. Só tenho a agradecer”, diz o diretor.

Lançamento coincide com décimo aniversário da premiada montagem de 'Incêndios'


O lançamento do terceiro e final ato ocorre exatamente dez anos após a primeira exibição de “Incêndios”, que foi sucedida por “Céus”, ambas ganhadoras de importantes prêmios. Sucesso de público e crítica, “Incêndios” estreou no Rio em 2013, a primeira produção brasileira baseada no texto de Wajdi Mouawad, que explora uma surpreendente trama familiar. Protagonizada por Marieta Severo, a peça foi consagrada com 17 premiações, dentre eles o Shell 2013 de Melhor Direção, para Aderbal-Freire Filho, e o APTR 2014, nas categorias Melhor Espetáculo, Atriz Protagonista (Marieta Severo), Atriz Coadjuvante (Kelzy Ecard) e Melhor Cenário. Além disso, a produção foi recordista de indicações para o prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCA), o mais importante de São Paulo, e venceu os prêmios Aplauso e Questão de Crítica.

Segunda obra da trilogia, “Céus” estreou em 2016, narrando um mistério terrível em um mundo ultra-moderno. A produção recebeu o Prêmio Cesgranrio, na categoria Melhor Cenário, e o Prêmio Quem, de Melhor Ator (Felipe de Carolis), ambos em 2017, e também foi indicado ao APCA deste ano.

“Comecei essa trajetória em setembro de 2013, no Teatro Poeira, ao lado de Marieta e Aderbal. Estávamos cientes da potência que tínhamos em mãos! O incrível texto de Mouawad foi essencial para esse sucesso e a minha parceria com ele está só começando. Fui convocado para a elaboração de um novo espetáculo e passei meses em 2022 com a

companhia Théâtre de la Colline. Temos planos concretos para o futuro”, diz Felipe.

Entre 2020 e 2021, a equipe promoveu workshops e experimentações cênicas de “Sedes” abertas ao público, na cidade de São Paulo e Rio de Janeiro. Elas contaram com três diretores diferentes, propostas diversas e mais de 20 artistas, entre atores e músicos fizeram parte destas encenações. Ao final, o grupo debatia o tema com jovens e psiquiatras presentes. Após chegar à configuração de elenco atual, o espetáculo teve a estreia e montagem definitiva interrompida, e não foi à frente em razão da pandemia.


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