Lucas Manso Xavier é sinônimo de orgulho. O ex-aluno da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, unidade pertencente à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), em São Cristóvão, Zona Norte carioca, conquistou recentemente a primeira colocação na categoria Inovação do FIE México 2023 (Fórum Internacional de Empreendedores).
Ex-aluno também da ONG JA Rio de Janeiro e atual assistente de Projetos na organização social, que atua globalmente com foco em empreendedorismo, educação financeira e preparação para o mercado de trabalho, Lucas projetou uma pulseira específica para facilitar a comunicação de pessoas com deficiência intelectual e ajudar em sua inclusão na sociedade. A pulseira projetada tem QR Code e NFC (tecnologia de comunicação sem fio presente em smartphones), que permitem escanear informações e levar o interlocutor a entender como as pessoas usuárias do produto querem ser tratadas.
A criação da equipe liderada por Lucas – escolhido para a função, apesar de não falar espanhol fluentemente, por outras 19 pessoas de nacionalidade mexicana –, que esteve presencialmente na competição, realizada no México, teve uma inspiração familiar, misturando empatia e representatividade:
“Tive duas tias com deficiência e sempre quis ajudar na inclusão desse público”, conta o jovem, de 24 anos, o primeiro da família a chegar à universidade pública.
Para ele, que vive em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, ser vencedor de um dos maiores fóruns de empreendedorismo do mundo é a realização de um sonho. Participar da competição, que reuniu 510 pessoas de diferentes países, representou outras vitórias, como desenvolvimento e aprendizado de diferentes habilidades, cruciais tanto para a vida pessoal, quanto para a carreira, fruto também do aprendizado que ele adquiriu em cursos realizados pela JA Rio de Janeiro.
“Além de trabalhar em equipe, o que mais aprendi com o desenvolvimento do projeto foi ter empatia e resiliência para lidar até mesmo com situações adversas, como a barreira linguística. Tudo isso significou muito para mim, pessoal e profissionalmente. Possibilitou que eu assimilasse novas ferramentas de prototipagem de ideias inovadoras e lidasse com públicos bastante diversos”, afirma.
Premiação é resultado de outra competição empreendedora
Lucas contou com muita ajuda para comparecer à premiação mexicana. Fora seu esforço pessoal, lançou uma “vaquinha” on-line para custear os gastos da viagem, contando com apoio institucional e pedagógico da JA Rio de Janeiro, que também divulgou a campanha de arrecadação de fundos nas redes sociais. Premiado ainda em 2019, quando venceu um outro desafio durante o Findinexa Brasil (FNB), um dos maiores eventos de empreendedorismo jovem do país, só agora recebeu efetivamente o prêmio. O longo intervalo se deu por causa da pandemia. Apesar da espera, o sentimento é de gratidão.
“Mesmo que não tenha conseguido todo o valor, a ‘vaquinha’ me ajudou bastante. O foco, agora, é tentar captar o que falta. Ao mesmo tempo, só tenho a agradecer por todo incentivo e suporte que a JA Rio de Janeiro me deu em todos os momentos. Foi a primeira instituição a confiar em mim. Experimentei algo que vou levar para vida. Sinto muita gratidão”, destaca.
Terceira colocação em empreendedorismo cultural e educação transformadora
Além da premiação individual, Lucas teve mais uma conquista no evento. A delegação brasileira, composta por ele e mais três jovens, apresentou dados econômicos, sociais e culturais do país a um júri especializado, garantindo a terceira colocação, dentre 25 delegações, na categoria Melhor Apresentação Cultural do Minha Terra.
E mais do que entusiasmado pessoal e profissionalmente, o morador da Baixada Fluminense tem um sonho coletivo: que a educação seja, de fato, um agente multiplicador de mudanças na vida de outros jovens como ele.
“Meu maior sonho é que a educação seja uma porta de transformação social e pessoal na vida da juventude brasileira, dando oportunidade de crescimento e desenvolvendo o pensamento crítico para que nossas ações sejam pensadas e direcionadas numa sociedade democrática, justa e pacífica”, acredita.
Para Lucas, por mais que surjam adversidades na vida, é preciso persistir no caminho. Segundo ele, a conquista de espaço vem paulatinamente. “De acordo com a nossa realidade, temos a possibilidade de atingir nossos sonhos com muita atitude, garra e comprometimento”, diz.
Sobre a concretização do projeto campeão do FIE México 2023 no dia a dia de pessoas com deficiência, o assistente de Projetos na JA Rio de Janeiro esclarece: “Para que chegue ao público final, ainda é necessário aprimorar as pesquisas e entender a viabilidade dentro da realidade brasileira. É o meu sonho”, finaliza.