"Fiquei, acho que dois meses, alguma coisa assim, dentro de um tal de pulmão de aço. No dia da minha alta, o médico já conversou com a minha mãe e alou: 'olha, ela ficou com uma sequela e a dela foi uma das menores, um lado só da perna direita, mas ela não vai caminhar tão cedo, então a senhora vai ter que começar um tratamento longo e é uma sequela que ela vai ter para o resto da vida dela'. Minha mãe dizia que naquela noite internaram 49 crianças, tudo com pólio."
Essa voz é de Helena Teodoro Michelon. Nos anos 60, quando ela era um bebê, a poliomielite ainda causava surtos em todo o país e, infelizmente, Helena não escapou. Por causa das sequelas da pólio, ela precisou passar por 13 cirurgias durante a adolescência e mesmo assim teve que usar uma órtese ao longo da vida para conseguir andar. Ela conta sua história para alertar pais e mães:
"Vão vacinar seus filhos, que eu sou prova viva da sequela da pólio. É para o resto da vida."
De acordo a Organização Mundial de Saúde, uma em cada 200 infecções por pólio leva a uma paralisia irreversível, geralmente das pernas. E entre essas pessoas, de 5 a 10% morrem porque os músculos respiratórios param de funcionar. Entre 1968 e 1989, cerca de 26 mil pessoas foram infectadas pelo vírus no nosso país.
Ouça no podcast do Eu, Rio! a reportagem de Tâmara Freire, da Rádio Nacional, sobre os avanços do Programa Nacional de Imunicações em meio século de História, como a erradicação da poliomielite.
O assessor científico sênior da Fiocruz Akira Homma é um dos principais nomes da luta do Brasil contra a pólio.
"Toda a sociedade brasileira foi envolvida nesse processo. Os dias nacionais de vacinação, que ocorrem em dois dias por ano, tiveram então participação de milhares de voluntários. Fantástico! Em 1980 apareciam 1.290 casos de poliomielite. Em 1981, caiu para 122 casos. Em 82, caiu para 42 casos. O impacto na vacinação, com altas coberturas vacinais. Em um dia se conseguia vacinar 18 milhões de crianças. O último caso em 1989. E em 1994, o Brasil recebeu a certificação de que o país estava livre da poliomielite."
Essa foi a primeira grande vitória do Programa Nacional de Imunizações que, neste mês de setembro, completa 50 anos. Mas não é a única. Desde 2012, nosso país não registra casos de tétano materno e neonatal. Em todo continente americano, a doença conhecida como “mal de sete dias” provocava mais de 10 mil mortes por ano. Ela é causada por uma bactéria que não existe só em metais enferrujados, mas na natureza de forma geral. Por isso, alguns bebês se contaminavam durante o parto, no contato com instrumentos não esterilizados ou pelas condições inadequadas de higiene.
A ex-diretora do PNI e assessora da Organização Panamericana de Saúde, Carla Domingues, explica que as consequências do tétano neonatal são terríveis, mas podem ser evitadas com a vacina dtpa.
"É uma doença que se a criança adquire vai ao óbito, em quase 100% dos casos. Vai enrijecendo todos os músculos e chegando a depois morrer por asfixia. Nós temos hoje espaço com condições adequadas, mas principalmente por conta também da vacinação. Vacina a mãe principalmente no pré-natal, essa criança já nasce com uma imunidade passiva e ela não vai adquirir o tétano."
Outra doença que tem efeitos devastadores nos bebês é a rubéola, que pode ser transmitida da placenta ao feto, quando a gestante é infectada. Nestes casos, ela leva à síndrome da rubéola congênita, e pode resultar em aborto, morte fetal ou provocar anomalias nos bebês. O Brasil recebeu o certificado de eliminação da rubéola em 2015, mas para manter esse patamar, Carla reforça que é preciso cumprir as metas de vacinação.
"A rubéola é uma síndrome que dá cegueira, surdez, problemas cardíacos e que, inclusive, leva à morte. Não tem nenhum caso de síndrome da rubéola congênita desde 2010, estamos falando aí de quase 13 anos sem a doença, justamente porque a gente vacinou."
No ano passado, menos de 47% das gestantes tomaram a dtpa, que protege contra o tétano, a difteria e a coqueluche acelular. Já para se proteger contra a rubéola, é preciso tomar a vacina tríplice viral, que imuniza ainda contra o sarampo e a caxumba. Neste caso, é recomendada a vacinação na infância, e o imunizante não pode ser administrado em gestantes. Mas, em 2022, menos de 58% do público-alvo recebeu as duas doses do esquema básico. Para as duas vacinas, a meta ideal é 95%.
Fonte: Agência Brasil