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Fiocruz negocia alerta precoce de surtos na África e na América Latina

Sistema desenvolvido em parceria com a UFRJ cruza dados para detectar epidemias e pandemias em estágios muito iniciais

Por Pamela Lang (Agência Fiocruz de Notícias) em 27/10/2023 às 15:18:24

Sistema de Alerta Precoce para Surtos com Potencial Epi-Pandêmico, desenvolvid com parceria com a UFRJ, é um dos trunfos da Fiocruz na cooperação com a Organização Mundial de Saúde. Foto: Agência Fioc

o presidente da Fiocruz destacou a necessidade de incluir no plano de trabalho a possibilidade de adaptar o Sistema de Alerta Precoce para Surtos com Potencial Epi-Pandêmico (Aesop) para que ele pudesse ser testado em um país africano e outro latino-americano. A plataforma, lançada este ano pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz), busca rastrear surtos em estágio inicial, utilizando técnicas de inteligência artificial e machine learning para integrar diferentes fontes de dados. Em dezembro está prevista nova reunião, desta vez na Fiocruz, com membros do Hub para avaliar as atividades que vêm sendo desenvolvidas no âmbito da parceria e aprofundar o plano de trabalho.

Após cumprir intensa agenda institucional ao longo do World Health Summit, em Berlim, a delegação da Fiocruz, acompanhada do presidente Mario Moreira, fez a primeira visita oficial ao Hub da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Inteligência Pandêmica e Epidêmica, com sede na capital alemã. A Fundação é parte integrante do Hub desde maio deste ano, quando assinou com a OMS um memorando de entendimento para colaborar com a iniciativa no desenvolvimento e expansão de ferramentas de vigilância em nível global.

O encontro, que ocorreu em 18 de outubro, reuniu equipes da Fiocruz e da OMS para dar início à elaboração de um plano de trabalho conjunto. “A partir de toda a expertise já acumulada pelos nossos profissionais, entendemos que a Fiocruz pode contribuir, na perspectiva do hub, tanto para o desenvolvimento e a implementação de ferramentas de vigilância em outros países, como também atuar numa etapa prévia, de preparação dos sistemas de informação, num modelo de cooperação estruturante, em países que ainda carecem de bases de dados consistentes”, destaca o presidente Mario Moreira.

Para o diretor-geral assistente da OMS e chefe do Hub, Chikwe Ihekweazu, a necessidade de unir esforços para apoiar países no desenvolvimento de ferramentas de vigilância tem sido foco de um debate global. “Essa é uma questão que tem surgido em diversos fóruns. As expectativas da Fiocruz estão perfeitamente alinhadas aos objetivos de atuação do Hub”, pontua Chikwe.

Fiocruz reforça busca de equidade para o desenvolvimento de sistemas de vigilância

Segundo os pesquisadores envolvidos na parceria, um dos objetivos centrais do Hub é identificar ferramentas, cujos componentes possam ser adaptados e utilizados para outras situações e países, com sistemas de vigilância diferentes. Ou seja, não se trata de implementar uma ferramenta já desenvolvida pela Fiocruz em outros países, mas de identificar elementos da plataforma que possam ser ajustados e combinados a outros para que se possa construir algo, de forma colaborativa, que atenda a necessidade de vigilância em determinados países.

Ouça no podcast do Eu, Rio! o depoimento sobre a importância do intercâmbio entre sistemas de monitoramento e vigilância sanitária,de Marcelo Gomes, pesquisador em Saúde Pública no Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz.

“O papel do Hub aqui é identificar o que há de mais atual nessa área para que a OMS, por meio de seus diferentes parceiros, possa servir como uma espécie de provedor de métodos e sistemas para diferentes países. E isso se relaciona com a busca de uma maior equidade no mundo, para que a capacidade de ação na vigilância epidemiológica não fique restrita a apenas alguns países que já têm maior investimento no campo. A ideia é que justamente esse conjunto de informações e metodologias possa ser adaptado e implementado em diferentes locais, com diferentes realidades”, destaca o pesquisador do Programa de Computação Científica (Procc/Fiocruz) e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes. Físico de formação e cientista de dados, com foco em epidemiologia, Marcelo Gomes foi responsável por dar início à condução técnica do trabalho em parceria com o Hub. O pesquisador chegou a Berlim no início do outubro e retorna à Fiocruz no dia 28 deste mês.

Responsável por dar início à condução técnica do trabalho em parceria com o Hub, o pesquisador Marcelo Gomes afirma que a Fiocruz tem um papel de destaque tanto no Brasil, como fora do país, na área de modelagem e desenvolvimento de métodos analíticos, especialmente com foco em sistemas de vigilância epidemiológica (Foto: Divulgação)

Para ele, a Fiocruz vem tendo um papel de destaque tanto no Brasil, como fora do país, na área de modelagem e desenvolvimento de métodos analíticos, especialmente com foco em sistemas de vigilância epidemiológica.

“A ideia de trabalharmos com modelagens na vigilância é sermos capazes de identificar quando a coisa está saindo do normal e disparar alertas, de tal forma que as autoridades de saúde pública possam readequar, quando necessário, a sua estrutura de atendimento e disparar ações junto à população. As trocas de experiência aqui no Hub estão sendo extremamente frutíferas. Um exemplo é a situação preocupante de leishmaniose em Vanuatu. O Hub da OMS convidou a Fiocruz, por meio do ProCC, a participar desse esforço coletivo para apoiar as autoridades locais a se apropriarem dessas metodologias de vigilância e desenvolver sistemas adequados à realidade local para que possam fazer um monitoramento adequado e ter a melhor resposta possível”, explica o pesquisador.

Na interação com a Hub da OMS, algumas plataformas desenvolvidas pela Fiocruz têm sido consideradas estratégicas para contribuição no campo da vigilância global em saúde:

Sistema de Alerta Precoce para Surtos com Potencial Epi-Pandêmico (Aesop): desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Permite rastrear, em um único sistema, surtos em estágio inicial, integrando dados coletados da Atenção Primária com outras fontes de dados de saúde, ambientais e sociodemográficos, incluindo venda de medicamentos e rumores nas redes sociais. Utiliza inteligência artificial e técnicas de machine learning para identificar áreas de espalhamento da doença.

Cidacs Clima – Plataforma de Dados Climáticos, Ambientais e de Saúde: ainda em estágio inicial de desenvolvimento pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz). Trata-se de uma plataforma que busca integrar dados climáticos e de ecossistemas, socioeconômicos, geográficos e de modelagem para responder a questões científicas sobre a interação entre saúde e clima.

InfoDengue e InfoGripe: sistemas desenvolvidos pelo Programa de Computação Científica (ProCC) da Fiocruz e pela Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (EMAp/FGV) para o acompanhamento de arboviroses e de doenças respiratórias, respectivamente. Os sistemas trabalham a partir de suas abordagens: vigilância e modelo. A vigilância permite o acompanhamento de infecções respiratórias severas e de arborviroses, definindo um retrato do momento. Já a modelagem, se refere à produção de modelos estatísticos e computacionais para entender o comportamento dos vírus no passado e, a partir daí, poder estimar seu comportamento futuro no curto prazo.

Sistema de Informação em Saúde Silvestre (Siss-Geo): sistema de vigilância participativa de emergências de zoonoses desenvolvido pela Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre (Pibss/Fiocruz) com apoio do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Permite estimar a favorabilidade de emergência de zoonoses. A partir do registro da fauna por colaboradores presentes em todo o território brasileiro, o sistema opera por georreferenciamento e gera alertas para os gestores em tempo real, sempre que observada alguma anormalidade. Os gestores então levam sua equipe a campo para coleta do animal e a de amostras biológicas que são levadas ao laboratório para análise.

Por Pamela Lang (Agência Fiocruz de Notícias)
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