Com o encerramento oficial dos desfiles nas avenidas Marquês de Sapucaí e Intendente Magalhães, os integrantes das escolas de samba do carnaval carioca entram de férias. Mas apesar do fim da folia, muitos ainda comentam sobre tudo o que foi visto no Sambódromo, principalmente no Grupo Especial. E um dos assuntos que ainda tem dado o que falar, além da conquista do título da Mangueira com a homenagem a Marielle Franco, foi o rebaixamento da Imperatriz Leopoldinense.
A agremiação de Ramos, na Zona Norte do Rio, caiu para o Grupo A justamente no ano que completa 60 anos de existência, sendo que há exatos 30 conquistou o Brasil com o samba-enredo "Liberdade, Liberdade". No carnaval de 2019, a escolafalou sobre ganância, a história do dinheiro e a relação do homem com a moeda. E um dos destaques foi a musa Natália Nascimento, que deu vida a uma prostituta durante o desfile.
Em conversa com o "Portal Eu, Rio!", Natália falou que resolveu fazer uma laboratório ao ver o figurino que receberia nos desfiles. E escolheu o local mais conhecido do Rio para estudar o cotidiano de quem se prostitui: a Vila Mimosa, localizada na Praça da Bandeira, na Região Central. Além disso, a sambista - que também é advogada - falou do choque que sentiu ao ouvir diferentes histórias de vida. Ela também revelou que não sentiu medo de ir a um dos mais antigos e tradicionais prostíbulos da cidade, mas admite que precisou pedir autorização para conhecer os relatos mais de perto.
"Lá é um ambiente extremamente pesado, triste e durante alguns minutos eu simplesmente parei. O que me chamou muita atenção foi sobre a falta de oportunidades das meninas. Eu mesmo me perguntava: 'O que essa menina está fazendo aqui? Meu Deus!', pois tinha mulher que fazia o programa por 20 reais!Eu sou muito corajosa e queria mostrar a realidade de milhares de mulheres, muitas abandonadas, dependentes de drogas, com filhos na casa dos outros. Tem cada história muito complexa e é óbvio que pedi autorização para entrar nesses lugares", contou Natália que está na Imperatriz há três anos.
Afirmando não ter nenhum tipo de preconceito pelas origens humildes na infância, a musa revelou que os desabafos que ouvia a inspiraram a se jogar na Sapucaí. Contando ter feito o trabalho que exigiu sua maior entrega, ela falou que a energia de cada uma delas foi a motivação para o desfile.
Problemas internos atrapalharam a Imperatriz
Mas apesar do seu esforço, a escola foi rebaixada na condição de penúltima colocada com 266,6 pontos. A sambista não fugiu do assunto e com a mesma coragem que teve para falar de "mulheres que são apedrejadas 24 horas, sem ter como se defender" disse alguns dos problemas que a agremiação enfrentou em 2019. Citando problemas como "falta de comunicação, disputa e ego", Natália acredita que a Imperatriz Leopoldinense dará a volta por cima.
"Tem que ter mudança em todos os sentidos para que a escola tenha mais união. Gastamos como qualquer outra escola, só que fomos infelizes. Também aconteceram problemas que poderiam ter sido evitados, como falta de comunicação, disputa e ego. Não te dou 100% de certeza, mas 95% de garantia que em 2021, voltamos à elite. Será um ano de renovação. Cada ano as escolas brigam e fazem diferente pra levar o título. Mas muita coisa tem que mudar", reconheceu Natália.