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'Repulsa por Marielle, sozinha, não explica o assassinato'

Advogado do Caso Amarildo cobra nome do mandante: para João Tancredo, Elcio e Ronnie mataram por dinheiro

Por Alexandra Silva em 14/03/2019 às 11:04:52

Foto: Luna Costa/ Divulgação

Com a comoção internacional causada com o assassinato da vereadora Marielle Franco que nesta quinta-feira (14) completa um ano, indivíduos e vários grupos conservadores da sociedade sentiram-se incomodados diante da cobrança pela morte da vereadora e do motorista Anderson Gomes. Na semana do assassinato, a delegacia Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) abriu inquérito para apurar denúncias de publicações ofensivas contra Marielle. Essas denúncias vieram a partir de xingamentos, acusações falsas e boatos compartilhados nas redes sociais. 

De acusações partindo da desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Marília Castro Neves que acusou Marielle de engajamento com bandidos do Comando Vermelho, passando pelo boato de que a vereadora era ex-mulher de um chefe da facção e que ela fazia campanha contra policiais, culminando no mais recente ataque feito por uma chefe de torcida da Beija-Flor, inconformada com o campeonato da Mangueira.  

As ofensas partiram de diversas partes do país e dos vários seguimentos sociais. Muitas dessas ofensas têm a ver com o posicionamento da vereadora que defendia pautas como, direitos humanos, direito das mulheres, direito LGBT, entre outras.

Os crimes contra a Marielle Franco e Anderson Gomes correm nas esferas criminal e civil. Esta última, esta sendo conduzida pelo escritório do advogado João Tancredo, que atua em casos bastante emblemáticos como, o desaparecimento do pedreiro Amarildo, em 2013 e dos cinco jovens assassinados por policiais em Costa Barros, em 2015. Seu escritório possui centenas de ações que buscam reparações para as vítimas e familiares, principalmente por crimes cometidos por agentes do Estado.

Após a apresentação dos novos suspeitos pela morte de Marielle e Anderson na última terça-feira, o advogado João Tancredo, responsável pelo caso, respondeu algumas perguntas do Eu, Rio! sobre o caso.

Desde quando está acompanhando o caso Marielle e Anderson?

Como cidadão e companheiro de luta de Marielle, acompanho o caso desde o primeiro instante em que aconteceu o atentado. Como advogado, começamos a apoiar os familiares poucos dias após o ocorrido.

 O senhor já tinha conhecimento do resultado das investigações da polícia civil.  E concorda que a motivação foi a tal repulsa sentida pelo atirador, em relação à atuação política de Marielle?

Nós não tínhamos conhecimento do resultado das investigações. O atirador pode até ter repulsa pela atuação política da Marielle, mas essa explicação certamente não basta para resolver o caso. É preciso identificar o mandante. O perfil dos suspeitos do assassinato, traçado pelas autoridades, indica que eles são sicários, profissionais que ganham dinheiro para matar pessoas em nome de terceiros. Diante da quantidade de armas apreendidas é absurdo supor uma atuação isolada dos executores. Não restam dúvidas de que eles fazem parte de uma organização muito maior.

De que forma o escritório tem colaborado nas investigações?

Acompanhamos a simulação da polícia feita no local do crime. Mas, de modo geral, colaboramos indiretamente, dando suporte aos familiares de Anderson, da Marielle e, mais recentemente, da Fernanda, assessora que sobreviveu ao atentado. Vale ressaltar que o escritório atua apenas na área da responsabilidade civil. Não atuamos na parte criminal.

O senhor ficou satisfeito com o resultado das investigações?

Um passo importante foi dado e as autoridades reuniram um conjunto probatório contra os suspeitos muito robusto. Mas, consideramos a resposta tardia e incompleta. É fundamental descobrir quem mandou matar Marielle.

O senhor acha que a descoberta do(s) mandante(s) está próxima?

Espero que sim, mas esta é uma investigação atípica e de difícil previsão. Além disto, ela corre sob sigilo absoluto e nem mesmo os advogados dos familiares tem acesso ao inquérito, de modo a permitir uma avaliação mais precisa.

E quanto aos investigados, o major Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, que eram suspeitos e tinham relação com Flávio Bolsonaro. Acha que estão descartados?

Acredito que nenhuma linha de investigação deva ser descartada.

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