O Rio de Janeiro registrou na última semana um caso de dengue sorotipo 4. Há 5 anos esse sorotipo não circulava nesse território, ou seja, os nascidos após 2018 não tiveram contato com esse sorotipo da doença e, portanto, não desenvolveram imunidade contra ele. A médica infectologista e patologista clínica Carolina Lázari, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), destaca a importância de compreender as características desse sorotipo e suas consequências para a saúde pública.
De acordo com Carolina, existem quatro sorotipos do vírus da dengue, e todos eles provocam a mesma doença, sem que um seja mais grave do que o outro isoladamente. "O desafio surge quando um sorotipo ausente por um período retorna à circulação, como é o caso do sorotipo 4 no Rio de Janeiro. Essa reintrodução pode resultar em um aumento expressivo no número de casos durante a temporada", ressaltou.
Ela enfatiza que cada sorotipo só causa dengue em uma pessoa, uma única vez. "Quando um mesmo sorotipo predomina por vários anos consecutivos, as pessoas que foram infectadas recentemente não apresentam risco de contrair a doença novamente por esse mesmo sorotipo. No entanto, a reintrodução de um novo sorotipo cria um cenário diferente, levando todas as pessoas que tiveram dengue recentemente a uma nova vulnerabilidade. Isso frequentemente resulta em um aumento considerável nos casos, pois mais pessoas se tornam suscetíveis à infecção", explicou a infectologista e patologista clínica da SBPC/ML.
Importante salientar que um segundo episódio de dengue pode ser mais grave do que o primeiro devido a mecanismos imunológicos específicos da doença. "Essa peculiaridade ressalta a importância de medidas preventivas e do acompanhamento médico adequado para casos de dengue, especialmente diante da circulação de novos sorotipos", relatou Carolina.
Ouça no podcast do Eu, Rio! o alerta de Carolina Lázari, infectologista da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, a respeito da volta do sorotipo 4 da dengue ao Estado do Rio, depois de cinco anos de trégua.
Diagnóstico rápido e preciso é essencial para balizar tratamento e medidas de prevenção
Com o aumento de casos de arboviroses - dengue, chikungunya e zika - e, principalmente, o retorno de um novo sorotipo de dengue, é fundamental realizar exames diagnósticos para identificar a presença do vírus quando as pessoas apresentam os sintomas típicos, como febre, dor no corpo e manchas vermelhas.
“O Brasil tem sido vítima de uma série adicional de infecções causadas por vírus que nos são transmitidos pela picada de mosquitos. Mas a boa notícia é que os laboratórios de Patologia Clínica e a indústria do setor possuem hoje uma série de testes capazes de identificar qual vírus está infectando a pessoa e de forma mais rápida. Assim, auxiliam no tratamento dos pacientes, com a escolha certa do tratamento e contribuem para o registro de casos, ampliando -se o conhecimento da epidemiologia das doenças e consequentemente, a melhor forma de prevenção”, pontua o médico Celso Granato, infectologista pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e especialista e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
Sintomaticamente, as infecções agudas por zika, dengue e chikungunya são muito semelhantes e não é confiável o diagnóstico destas doenças apenas pelo quadro clínico. “É necessário fazer exames etiológicos, em particular, a RT-PCR na fase aguda da doença ou através da detecção do antígeno viral, no caso da dengue’, explica.
Normalmente, os testes existentes detectavam a presença do vírus no organismo a partir do 4ª dia de sintoma, quando apareciam os anticorpos, substâncias produzidas pelo próprio organismo para combater a infecção. Mas os testes de antígenos disponíveis hoje conseguem o diagnóstico muitas vezes a partir do primeiro dia da infecção, por conta de glicoproteínas que estão sendo utilizadas para a replicação dos vírus e já podem ser encontradas com antecedência no sangue. Já os testes de PCR são os mais precisos, mas por serem mais caros, nem sempre são a primeira opção.
Em menor ou maior escala, estão disponíveis à disposição dos clínicos e da população, os seguintes testes:
- Febre amarela - sorologia (IgG e IgM) e teste molecular (PCR) - está disponível na maior parte das regiões em laboratórios públicos de referência, mas em alguns estados em laboratórios privados;
- Dengue - Teste para antígeno viral NS1 (antes do 5º dia) e sorologia IgG / IgM (após o 6º dia de sintomas). O teste molecular - RT PCR detecta o RNA viral e caracteriza a presença dos quatro tipos do vírus (1, 2, 3 e 4) no período sintomático da infecção até o 5º dia. A detecção do RNA viral geralmente precede à produção de anticorpos específicos, e mesmo à detecção do antígeno NS1. É o único exame que identifica o vírus e que não sofre alteração caso o paciente tenha tido alguma infecção anterior por outro sorotipo. É importante fazer uma leitura precisa do resultado, já que o RNA viral pode se tornar negativo após alguns dias de sintoma. Portanto, o RT PCR não é em geral o exame de primeira escolha para casos com mais de uma semana de sintomas;
- Chikungunya - O teste molecular RT PCR pode ser realizado a partir do primeiro dia da doença e permanece positivo nos primeiros oito dias da doença. A sorologia IgG/IgM deve ser realizada a partir do 4º dia do início dos sintomas;
- Zika -Teste molecular - em amostras de sangue (1º e 5º dia) e urina (1º e 8º dia) do início dos sintomas, após este período por sorologia IgM e IgG.
Os testes moleculares do tipo RT PCR são mais diretos e evitam o “falso-positivo” dos testes rápidos (Imunocromotografia), além de não sofrerem reações cruzadas com outros vírus da mesma família. "Existem exames de RT-PCR que fazem a detecção destes três agentes de uma só vez que podem ser uma boa opção para casos em que não haja nenhuma suspeita epidemiológica, ou seja, não há muitos casos de um mesmo tipo de infecção na região e não fica uma “dica” da possível infecção”, finaliza o patologista clínico, Dr. João Renato Rebello Pinho.