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Suspeita de sarampo sobe de cinco para 17 casos no Rio de Janeiro

No total, foram aplicadas 573 vacinas em integrantes da comunidade acadêmica, no Direito da UFRJ

Por Cesar Faccioli em 04/07/2018 às 23:50:02

A segunda dose da Tríplice Viral (SCR) também está disponível nas unidades municipais de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde)

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) divulgou que acompanha 17 casos de suspeita de sarampo. O primeiro caso, notificado às autoridades sanitárias pela Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem resultado preliminar positivo. 
O diagnóstico definitivo aguarda confirmação pelo laboratório de referência nacional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A paciente, uma jovem aluna que participou em Petrópolis, Região Serrana do Rio, dos Jogos Jurídicos, foi atendida e liberada para viajar ao encontro da família em seu estado de origem, onde prosseguirá em tratamento. 
O acompanhamento e testagem dos demais 16 pacientes, além de investigação do provável local de infecção e o bloqueio vacinal, estão sendo feitos pela SMS em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A aplicação de 573 doses da vacina contra o sarampo foi a primeira ação de bloqueio do vírus na Faculdade Nacional de Direito. Na segunda-feira, a Secretaria Estadual de Saúde divulgará nota admitindo quatro casos suspeitos da doença, além do primeiro, que receberá diagnóstico preliminar positivo.
Os casos suspeitos no Rio coincidem com sinais de retorno da doença, dois anos depois de o Brasil receber o certificado da Organização Pan-Americana de Saúde de estar livre da circulação do vírus, conforme notícia da Agência Brasil. Amazonas e Roraima, estados que tem fronteira com a Venezuela, já somam 500 casos confirmados, e as autoridade locais de saúde trabalham com a hipótese de surto. Os pacientes sob investigação nos dois estados somam 1,5 mil. No outro extremo do Brasil, no Rio Grande do Sul, os casos confirmados somam seis.
Na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a nota da Secretaria Municipal de Saúde, os últimos casos confirmados de sarampo datam de 2014, há quatro anos, antes mesmo de o País ser considerado livre da circulação do vírus. Os casos à época foram considerados importados, aqueles em que os pacientes contraíram a doença em viagens internacionais ou a outras regiões do país. 
Cobertura vacinal no Rio supera 100%
A cobertura vacinal contra a doença para crianças de 1 ano na cidade do Rio chega a 107%. O percentual superior a 100 reflete o fato de que o número de crianças até um ano vacinadas supera as estimativas formuladas com base no Censo de 2010 e nas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualizadas regularmente. No Estado do Rio como um todo, em 2017, a cobertura vacinal do estado para o sarampo  em crianças de até um ano de idade atingiu 94,8%, praticamente o patamar recomendado pela Sociedade Brasileira de Imunização, que é de 95%. No Brasil, a vacina contra o sarampo integra a Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola) e Tetra Viral (as três doenças citadas, mais a Catapora), disponíveis conforme calendário de vacinação do Ministério da Saúde para crianças aos 12 e aos 15 meses. 
A segunda dose da Tríplice Viral (SCR) também está disponível nas unidades municipais de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde), de acordo com a nota da Secretaria. Ela se aplica a adolescentes e adultos que não tenham sido vacinados adequadamente na infância, pois pularam a segunda dose.
Em junho, países do Mercosul firmaram um acordo para prevenir a reintrodução de doenças já eliminadas nas Américas. Entre essas doenças, figuram o sarampo, a poliomielite e a rubéola. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile acertam o reforço da vigilância de saúde nas fronteiras e da assistência aos migrantes, para manter sob controle a transmissão de casos. No dia 8 de junho, a Opas emitiu alerta aos países, após a confirmação na Venezuela de um caso de pólio. 
Dados do governo federal mostram que 312 municípios brasileiros estão com cobertura vacinal contra pólio abaixo de 50%. 
Quarenta e quatro cidades de São Paulo, estado mais rico do País, têm baixa procura pela vacina contra a poliomielite. Diante disso, o governo estadual recomendou aos pais que levem suas crianças aos postos antes mesmo da campanha marcada para agosto.
Falta de convívio com sarampo e pólio leva gerações mais jovens a relaxar controle da vacinação
Em entrevista à Rádio Nacional, o infectologista Alberto Chebabo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), advertiu que muitos pais não se preocupam com sarampo, pólio e doenças infantis em geral. O problema ocorre em parte devido à desinformação, por falta de convívio com casos dessas doenças, nas gerações mais jovens.
“Na realidade, a gente tem uma baixa cobertura para a maior parte das vacinas disponíveis. Há uma diminuição na procura da população pelas vacinas de um modo geral. As que preocupam são a gripe, a pólio, sarampo e difteria, que são doenças que podem voltar devido à baixa cobertura vacinal”, explica o especialista.
Chebabo recomenda o reforço das campanhas e a orientação da opinião pública, para combater preconceitos e desinformação. O desgaste do sistema político termina afetando a credibilidade do aparelho estatal e das instituições públicas, mas segundo o especialista não deveria se aplicar ao sistema de imunização brasileiro, que demonstrou confiabilidade ao longo das últimas décadas.
“Existem alguns movimentos antivacinas, que estão crescendo no mundo inteiro, impulsionados pela força das redes sociais. Esses movimentos, fortes até em países de alto nível educacional como França e Alemanha, não levam em conta que as doenças são muito mais graves do que qualquer efeito adverso da vacinação”, avalia. Chebabo lembra que os médicos, e particularmente os pediatras, devem insistir com os pais sobre a importância de todas as vacinas.
Somente assim se poderá alcançar a cobertura de 95% na média do País, patamar considerado minimamente adequado pela Sociedade Brasileira de Imunização. O Ministério da Saúde admite a existência de 312 cidades com adesão inferior a 50% do público-alvo na vacinação contra a poliomielite, doença capaz de trazer paralisia dos membros inferiores, entre outras complicações graves, e até matar. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai, pediu a ampliação dos horários de funcionamento de postos de saúde. Listou, ainda, a divulgação de fake news pelas redes sociais e a falta de conhecimento sobre doenças consideradas erradicadas, fatores já citados pelo colega Alberto Chebabo, como obstáculos à prevenção.

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