O chamado ‘mercado da bola’ vive dias de incerteza nesse início de 2019. Com a iminente saída da Caixa Econômica Federal do posto de maior patrocinadora do futebol brasileiro, os principais clubes do país temem a perda de uma fatia considerável de receita anual. Contudo, o mesmo governo que tira com uma mão, oferece a outra com uma nova alternativa. A Lei 13.756, que criou as apostas esportivas, pode ser a luz no fim do túnel. Tanto, que antes mesmo de ser regulamentada, já rende frutos para clubes como Vasco, Fortaleza e Vitória.
O movimento entre empresas estrangeiras ligadas a apostas e clubes brasileiros já começou. O Fortaleza E.C. firmou contrato de patrocínio, no final de janeiro, com a NetBet, que entra com a marca na barra da camisa. A NetBet também fechou com o Vasco, no início de março, e estampa a barra inferior frontal da camisa. Além dos times cearense e carioca, o Vitória, da Bahia, está perto de selar um acordo com o site Sua Lotérica. A empresa é intermediária em loterias oficiais e tem planos de investir intensamente no futebol. Cruzeiro e o Flamengo também negociam com a companhia.
A Caixa tem sido um grande parceiro dos clubes. Cerca de R$ 663,6 milhões foram investidos em patrocínio nos últimos sete anos. Deste valor, mais de R$ 138 milhões apenas no ano passado. Para Luiz Felipe Maia, Sócio da FYMSA Advogados, o mercado de apostas esportivas pode substituir o banco federal. Para ele, que é professor e advogado certificado em regulação de cassinos e apostas pela Universidade de Nevada, EUA, o potencial de investimento de empresas privadas em marketing no futebol brasileiro pode chegar perto dos R$ 200 milhões.
“O potencial de patrocínio para o futebol brasileiro com o início das operações das apostas esportivas no país é imenso. Estimativas de analistas internacionais apontam para mais de R$ 6 bilhões em receitas, com o mercado aberto e maduro. Assim, é razoável concluir que há um cheque de cerca de R$ 190 milhões em patrocínio e parcerias de marketing pronto para ser entregue aos clubes e federações”, explica Maia, que completa. “É claro que o tamanho exato do cheque vai depender de como essa atividade será regulada pelo governo. Principalmente se haverá livre concorrência, sem restrições ao número de empresas operadoras, bem como ao patrocínio de entidades esportivas.”
Empresas de apostas patrocinam clubes ingleses
Para o advogado, a estimativa de R$ 6 bilhões é conservadora quando comparada com o mercado inglês. O montante no Reino Unido apenas com apostas captadas chega a quase R$ 10 bilhões, sendo que aproximadamente 60% dos clubes das duas primeiras divisões são patrocinados por empresas de apostas. “Os nove times da Premier League patrocinados receberam, na temporada 2017-2018, mais de R$ 220 milhões. Na Segunda Divisão do Campeonato Inglês o valor total do patrocínio de empresas de apostas foi de R$ 46 milhões. Esses valores são mais do que o dobro do que a Caixa patrocinou no ano passado para todas as divisões do futebol brasileiro", analisa.
A Lei 13.756 criou as apostas de quota fixa sobre eventos esportivos em dezembro de 2018. Antes de entrar em vigor, o próximo passo é a regulamentação pelo Ministério da Economia. “Assim que o processo de regulamentação estiver concluído, as licenças para operação de apostas esportivas poderão ser outorgadas e é esperado que diversas empresas internacionais venham para o país. Estamos falando de um mercado que gera receitas bilionárias em todo o mundo, com empresas de capital aberto que, atualmente, são os maiores patrocinadores do futebol mundial”, explica Maia.
O advogado está confiante no êxito desse novo mercado. “Com a lei já aprovada, basta que o governo conclua a regulamentação. Quando fizer isso, pode tirar com uma mão o patrocínio da Caixa, pago pelo contribuinte, e dar com a outra mão o patrocínio das empresas de apostas esportivas, de valor maior e pago exclusivamente por meios privados”, conclui.