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'A aldeia Maracanã é um lixo urbano', diz deputado Rodrigo Amorim em plenário da Alerj

Politico do PSL é contestado por grupo de indígenas. Deputado ainda diz que UFRJ destruiu Museu Nacional

Por Jonas Feliciano em 29/03/2019 às 13:20:33

Foto: Divulgação/Mônica Lima

Na última quarta-feira (27), durante um discurso no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ) afirmou que a Universidade Federal do Rio de Janeiro destruiu o Museu Nacional. Na ocasião, o parlamentar discutia o fato que envolveu a presença dele e do Alexandre Knoploch (PSL-RJ) na Aldeia Maracanã, no último dia 26.

De acordo com relatos de moradores do local e de testemunhas, os dois políticos estavam fazendo uma filmagem "difamatória, racista e fascista" contra o Movimento Indígena Aldeia ReXiste. Em um vídeo que circulou pelas redes sociais, eles aparecem chegando ao local acompanhados de seguranças particulares e usando coletes à prova de balas.

Ainda segundo denúncias do grupo, Rodrigo e Alexandre xingaram, ameaçaram e intimidaram homens, mulheres e crianças afirmando que todos ali eram selvagens e, por isso, não poderiam ficar na localidade, pois a região é uma área nobre. Apesar dos moradores convidarem os representantes do estado para se retirarem, eles disseram que sairiam, mas que os indígenas não iriam se livrar.

Na ALERJ, Rodrigo Amorim reagiu à possibilidade da quebra do decoro parlamentar. Na sua fala, afirmou que o seu mandato não será calado, pois é uma prerrogativa do cargo visitar qualquer equipamento do governo. Para ele, a aldeia está indevidamente ocupada por "meia dúzia" de índios, além de ter se transformado em uma cracolândia.

"O lugar é uma afronta a saúde e a segurança pública. É necessário uma imediata intervenção do estado. Nós não podemos nos calar. Gostem ou não gostem! A esquerda pode vir aqui e fazer o discursinho que bem entender. Nós não nos calaremos. Esta semana retornaremos aquela área do Rio de Janeiro, faremos uma intervenção com o auxílio da Defesa Civil Estadual e de forças policiais. Aquele prédio está em escombros, ele está tão deteriorado que nem a dança da chuva é possível fazer. Isso é um alerta trazido a esta casa e que o poder executivo precisa tomar uma providência. Aquilo é uma tragédia anunciada. O prédio vai cair, vai matar as pessoas que estão consumindo droga ou não. Vai acontecer exatamente o que aconteceu com o vizinho do prédio. Lembro que, na Quinta da Boa Vista, por conta de omissão, incompetência e o aparelhamento cultural e partidário, a UFRJ destruiu o Museu Nacional. A Aldeia Maracanã é um lixo urbano e nós vamos limpar o Rio de Janeiro", alertou o deputado.

O parlamentar ainda citou que pretende restaurar a ordem e tomar as mesmas medidas em outros locais como o Canecão, por exemplo. Rodrigo também se referiu a militância de esquerda como um grupo que adora vítimas, cadáveres e caixões para fazer palanque eleitoral. Ele prometeu que a oposição terá dias muito difíceis na ALERJ.

Manifesto 

Mônica Lima é uma das ativistas do grupo de indígenas da Resistência Aldeia Maracanã. Ela não mora no local, mas dorme por ali algumas vezes. Mônica também é  professora da universidade autônoma e indígena Aldeia Maracanã. É na região que, juntamente  com outros pesquisadores, são desenvolvidos trabalhos sócio-ambientais e de educação ambiental. Além disso, a ativista é professora de biologia da SEEDUC, cientista da UERJ e uma índia da etnia Manaú da Amazônia.

Mônica afirma que os residentes da aldeia foram à casa dos parlamentares, também na quarta-feira (27) para denunciar as ameaças dos deputados que inspiraram o ódio e a violência em seus atos racistas contra os indígenas. 

Em um texto em seu perfil no Facebook, a indígena escreveu que eles discriminaram não somente índios, mas também todos que estão em situação vulnerável, como pretos, pobres, favelados, doentes mentais, pessoas em situação de rua, crianças, mulheres, imigrantes e professores. Para ela, os políticos assustaram e desrespeitaram crianças e idosos, inclusive uma cadeirante indígena, ao adentrarem autoritariamente e covardemente o território. 

Ainda de acordo com a representante, o comparecimento a ALERJ foi um gesto de cobrança para que a comissão cumpra com seu dever, assim como, a comissão de direitos humanos, pois quem atualmente ocupa o local possui o manejo indígena e a posse do território da Aldeia Maracanã, até segunda ordem, de acordo com sentenças do Ministério Público Federal. Por tal motivo, o estado do Rio de Janeiro não deveria se meter em uma questão federal.

"Resistiremos para honrar nossos ancestrais, pois somos a Universidade Autônoma Indígena Aldeia Maracanã e temos as nossas raízes fincadas em nosso território ancestral! Porque somos indígenas em qualquer lugar que estejamos e traremos a floresta que vivenciamos na alma (anga) de volta à cidade!", concluiu Mônica.

A reportagem do portal Eu,Rio! procurou tanto a assessoria do deputado Rodrigo Amorim, que em nota, afirma que "A Aldeia Maracanã é um case de marketing político da esquerda, nada mais que isso. Recebemos sérias denuncias de que o prédio corre risco de desabamento após as chuvas desse trimestre. Mas a narrativa de esquerda quer fazer o público acreditar que aquilo é uma aldeia. Mesmo os indígenas que foram colocados lá merecem um lugar mais de acordo com sua cultura e tradição. Ali pode haver um centro cultural ou um espaço voltado pro esporte, gerando emprego e renda, que é o que o Rio precisa hoje". A Universidade Federal do Rio de Janeiro também foi procurada. Contudo, até o fechamento desta matéria,  não obteve nenhuma resposta.

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