Antes de flores, respeito. Antes de chocolate, igualdade. O Dia Internacional da Mulher foi criado para simbolizar a luta das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens. Entre os progressos significativos ao longo dos anos, está a questão da igualdade salarial.
O levantamento 'Mulheres no Mercado de Trabalho', realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que nos últimos 10 anos, houve uma redução na diferença entre salários pagos às mulheres e aos homens.
O índice que mede a paridade salarial passou de 72 em 2013 para 78,7, em 2023. A paridade de gênero é medida em uma escala de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior a equidade entre mulheres e homens. O estudo também revelou que a participação feminina em cargos de liderança passou de 35,7% em 2013 para 39,1% em 2023.
A pesquisa sai meses após o decreto de igualdade salarial, publicado no ano passado, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa equidade vem sendo sentida de forma progressiva em alguns setores do mercado de trabalho. Um deles é o mercado da tatuagem.
Aos 33 anos, a moradora de Itaboraí Aline Couto afirma que houve uma melhora no cenário ao longo dos anos. "Trabalho na 4 Art Tattoo há quatro anos e no ano passado decidi pôr em prática aquilo que escutava da recepção. Eu trabalho na parte administrativa da escola para tatuadores e convivendo com tudo aquilo, descobri a minha verdadeira vocação e paixão. Comecei a treinar depois das aulas, ganhei oportunidade e hoje me sinto muito satisfeita, tenho todo o apoio da equipe", comenta a profissional.
Aline reconhece que ainda há bastante a avançar no sentido de igualdade no mundo da tatuagem, mas quer usar a sua experiência para empoderar e abrir portas para mais mulheres.
"Quero conquistar o meu lugar e servir de inspiração para outras. Em qualquer profissão, a busca pelo reconhecimento é sempre contínua", completa.
Para ela, o Dia da Mulher é importante para dar mais visibilidade à essa busca. "Grande parte das pessoas precisa desse alerta, de um dia para enxergar a importância de nós, mulheres, na sociedade". Na 4 Art Tattoo, um terço de toda equipe é formada por profissionais mulheres, um processo que acabou sendo natural ao longo do tempo.
É claro que nem tudo são flores e o preconceito ainda acontece, porém com menos frequência.
"Nunca comentaram de forma preconceituosa diretamente comigo, por eu ser mulher, mas percebo que às vezes, há clientes que preferem fazer o trabalho com um dos meninos a fazer comigo", comenta outra tatuadora da equipe, Patrícia Modesto. Atualmente, a 4 Art Tattoo tem escola para tatuadores em Niterói e Copacabana, além do estúdio no shopping Itaboraí Plaza, em Itaboraí, na região metropolitana (@4arttattoo e @4arttattooescola).
Já a estudante de Direito e escritora de São Gonçalo, Klara Peixoto, acredita que há um longo trajeto a ser percorrido em busca da equidade ideal. "É complicado ser de qualquer ramo que começou como exclusivamente masculino, como é o caso do direito. Eu ainda estou na faculdade, mas comecei a trabalhar em escritório como assistente e é surreal a disparidade no tratamento dos clientes, especialmente por parte dos homens. Eles falam alto com a gente, são ignorantes, mas com outros homens ficam 'umas sedas'. É um tanto triste porque eu fui forçada a adotar uma postura mais rígida ao tratar com homens", conta a escritora, que faz parte do coletivo de escritoras de São Gonçalo, Escritoras Vivas (@escritorasvivas).
Apesar dos números positivos sobre a equidade no mercado de trabalho, algumas situações consideradas cotidianas ainda estão entre as disparidades que precisam ser vencidas na relação entre homens e mulheres, como comenta a professora e escritora Yonara Costa.
"Sempre que vou estacionar, percebo que os homens que administram o espaço correm para 'ajudar' a manobrar. Dispenso a ajuda. Outro dia não conseguia sair do carro, pois o motorista ao lado não respeitou o espaço da vaga. Será que quando ele foi estacionar, ninguém orientou? Só orientam as mulheres? Acham que sempre precisamos ser salvas".
No mercado literário, situações sutis também são percebidas durante entrevistas e lançamento de livros, como relata a escritora Catarina Fraya. "Quando lançamos um livro, sempre nos perguntam se é autobiográfico, se passamos por aquilo, se vivenciamos o que escrevemos. Quase nunca existe este questionamento quando o livro é publicado por um homem, mesmo que seja do mesmo gênero literário. Partem do pressuposto de que um escritor pode escrever sobre tudo, inclusive sobre personagens femininas, mas quando são mulheres, escrevem somente sobre suas próprias experiências. É uma situação bem delicada e maçante para nós, autoras", completa.