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“Racistas não passarão”, diz mãe de Caio Batalha após ele sofrer preconceito em ônibus

Em entrevista, o jovem falou do episódio e sobre o que pensa do racismo

Por Jonas Feliciano em 06/07/2018 às 10:12:58

"Odiar não está com nada. Sou da paz", diz Caio Batalha em entrevista ao Eu, Rio!. (Guilherme Pestana)

No inicio deste mês, o cantor carioca Caio Batalha, 23, foi notícia no Eu,Rio! quando em uma matéria com Criolo e Mano Brown falou do rap brasileiro e sobre toda a resistência que o estilo representa. Agora, o jovem volta ao nosso portal, mas dessa vez para falar de uma triste realidade: o racismo.

Nesta semana, Caio foi vítima de preconceito racial dentro de um ônibus quando voltava para casa, após sair da aula. Uma mulher branca acusou o jovem de tê-la roubado. Na ocasião, ele foi hostilizado e, por pouco, não sofreu agressões físicas.

Indignada, a jornalista Rosana Batalha, mãe de Caio, desabafou numa rede social. Seu relato ganhou notoriedade e teve mais de 400 compartilhamentos. De acordo com Rosana, o filho tem transtorno de déficit de atenção. Por isso, ele não lembra se a linha do ônibus era a 455 ou o 456.

"Através do cartão escolar estamos tentando identificar o ônibus e as câmeras. Nossa intenção, ao fazer a ocorrência, foi mais no sentido de resguardá-lo, até porque ele desceu do ônibus e as pessoas ficaram achando quemeu filho era um ladrão. Queremos que a senhora que o acusou saiba que ele não é um meliante e não pegou nada. Racistas não passarão!", afirmou a jornalista.

Rosana também contou que, além dos amigos e familiares, ela e o filho estão tendo apoio da Superintendência de Igualdade Racial e da Defensoria Pública. Em entrevista exclusiva, Caio Batalha falou sobre o ocorrido e lamentou que ainda hoje os negros possam viver situações como essas. Confira!

Como aconteceu e o que você sentiu no momento em que foi hostilizado?

Estava no ônibus, voltando da escola para casa. O veículo estava lotado e eu percebia que as pessoas estavam um tanto estressadas, até porque já havia tipo um desentendimento entre um rapaz e um senhor. De repente, eu olho uma senhora revirando sua bolsa e olhando para mim com um semblante de desconfiança. Não entendi nada. Segui minha viagem ouvindo minha música.

E aí, para minha surpresa, ela começou a falar para as pessoas ao redor algo do tipo: "esse moleque me roubou, esse moleque me roubou".

Logo, as pessoas mais próximas me olharam com ar de desconfiança. Provavelmente, elas estavam acreditando naquela acusação. Inclusive, um rapaz bem próximo se encostou em mim. Ele fez uma barreira como se quisesse me impedir de fugir, como se eu fosse realmente um bandido.

As pessoas não tentaram entender o que realmente estava acontecendo?

Não! Até pelos olhares de crítica que eu recebi. Mesmo tentando me defender mostrando minha mochila, me senti coagido. Apenas ouvi uma moça negra que falou: "Calma gente!"

Já havia sofrido algum tipo de preconceito ou foi a primeira vez?

Já sofri algumas situações como, por exemplo, entrar num mercado ou em uma loja e ser seguido pelos seguranças.

Teve uma vez que me marcou bastante. Estava em Cabo Frio, sentado e conversando com um amigo branco, quando tomamos uma dura da PM. Eram 2 policiais. O que abordou o meu amigo foi bem tranquilo. O que me abordou foi super agressivo, me xingou, me chutou, agindo como se eu fosse um marginal. Um tratamento totalmente diferente. Talvez, pelo fato da minha cor.

Alguém tentou lhe ajudar?

Não.

Dessa vez, houve algum tipo de revista policial? Como te abordaram?

No caso do ônibus, não teve polícia. Depois de ter me acusado e criado uma situação constrangedora entre as pessoas a nossa volta, a senhora de repente parou de falar e se recolheu como se nada tivesse acontecido.

Só que eu fiquei coagido e com medo, pois ela havia me acusado e aquelas pessoas com certeza devem ter acreditado. Acho até que ela possa ter encontrado a tal coisa que procurava e pode ter ficado com vergonha ou medo de ter me acusado, ou não. A verdade é que até agora não sei o que perdeu ou o que roubaram dela. Só sei que diante do ocorrido e me sentindo pressionado, tive a atitude de descer do ônibus.

E agora, qual o seu sentimento depois do acontecido?

Tristeza. Não estou com raiva, até porque é um sentimento que não me pertence, mas fico realmente assustado. Difícil ser acusado de algo que você não fez. Além disso, é preocupante saber que milhares de irmãos vivem, já viveram ou ainda viverão situações como essa. Onde as consequências podem ser ainda maiores.

O racismo existe e não é "mimimi" como alguns falam. O que você diria para essas pessoas?

Isso, infelizmente, faz parte da ignorância humana. Prefiro falar através da minha música:

"Tá sussa, tudo bem. Ninguém viu, ninguém vê, ninguém vê ninguém. Tá sussa, tudo bem. É pensando em nós mesmos que nós vamos além. Só que não."

Você acha que a sociedade algum dia vai entender sobre a importância do debate sobre esse assunto?

Sim. A arte está aí para provar isso. Não podemos nos calar e sempre procurar tirar uma lição disso tudo. Eu me sinto, neste momento, sendo um instrumento para passar uma mensagem de paz. Precisamos amar mais uns aos outros. Discriminar uma pessoa só por conta de gênero, cor da pele, ou simplesmente por ser um jovem, não faz sentido.Odiar não está com nada. Sou da paz.

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