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Milícias crescem em Itaboraí, com mortes e medo dos moradores

Segundo denúncias recebidas pelo portal, batalhão da região e até o SINE estariam envolvidos

Por Jonas Feliciano em 18/04/2019 às 11:53:40

Foto: CAU/ Divulgação

O Rio de Janeiro não é a única cidade refém das milícias. Esses grupos criminosos também estão presentes em outras regiões do estado. A cidade de Itaboraí, por exemplo, é mais um município refém do crime organizado que cria leis locais e promove o terror para quem vive na cidade ou tem um comércio. De acordo com dois moradores que procuraram o portal Eu,Rio! para denunciar as arbitrariedades cometidas nos territórios dominados pelas milícias de Itaboraí, a localidade não está livre dos negócios ilegais financiados por este tipo de organização criminosa. Essas pessoas preferiram não se identificar por receio de represálias.

Segundo um dos denunciantes, uma facção composta por policiais militares, civis e membros do poder público aterroriza alguns bairros de Itaboraí. Ele afirma que a milícia está matando moradores que não têm dinheiro para pagar os valores cobrados pelos "serviços". Bem como, alguns comerciantes, familiares de quem já foi envolvido com tráfico e moto-taxistas já foram assassinados.

"Os milicianos matam. Não temos paz, pois o toque de recolher é as 22 horas. Quem vem da escola ou do trabalho, depois do horário estipulado, apanha na rua e é humilhado. As milícias tomam nosso dinheiro, celular e o que a gente tiver", afirmou.

Ainda segundo o morador, as facções estão nos bairros de Visconde, Areal, Porto das caixas, Ferma, Nova cidade, Ampliação, Sossego, Quissamã e Jardim Imperial. Ele também denuncia que alguns agentes do 35° BPM andam junto com os grupos.

"Os criminosos chegaram na cidade há mais ou menos 3 anos e tomaram conta de tudo. Hoje, estão até no SINE que é o sindicato de vagas. Para fazer uma ficha é preciso pagar 500 reais", contou o denunciante.

A vítima relata que um conhecido fazia o serviço de moto- táxi, pois era ameaçado e obrigado a levar dinheiro e anotações do cartel para outros membros que estariam mais distantes. Ele reforça que, por este motivo, o colega printou as conversas do celular e entregou-as na 71°DP. Contudo, a polícia não resolveu e o homem precisou ir embora com medo. Na lista de integrantes denunciados pela testemunha estão nomes como Archanjo, Lota, Teles, Terra, Quintanilha, Lobak, Alex, Nelson e Filgueiras. Todos seriam policiais militares.

O outro é um ex-morador que confirma as denúncias e diz que foi expulso da cidade. Esta pessoa conta que acabou despejado, pois não tinha condições de pagar as taxas cobradas pela casa e pelo bar que mantinha em uma das regiões dominadas. Ele também diz que pagava R$ 20 pela segurança da residência e que o valor do estabelecimento comercial era variável.

"Vinte reais era a taxa de segurança. Tem vários lugares tomados por eles. Sei o nome de alguns como Macieira, Joaninha, os irmãos Bruno e Lucas, Alex, Nelson, China e Fabinho. Usam até espada. São cruéis, matam pessoas e escondem os corpos. Tem gente do 35°BPM que está envolvido com eles", destacou.

O que diz a PMERJ

Como as testemunhas citaram o envolvimento de militares do 35°BPM, a reportagem do portal Eu,Rio! entrou em contato com a assessoria da Polícia Militar para tentar esclarecer os fatos.

Em nota, fomos informados que as denúncias relacionadas ao assunto em questão devem ser enviadasatravés do 190 ou do Disque-Denúncia 2253-1177.Desse modo, as mesmas serão encaminhadas para Delegacia da área que terá a função de investigá-las.

O que diz a Polícia Civil

A reportagem do portal Eu,Rio! também entrou em contato com a Polícia Civil para obter maiores informações. Segundo o órgão, a 71ªDP, desde janeiro, já efetuou cinco prisões relacionadas ao fato. Além disso, a delegacia trabalha em conjunto com Ministério Público e com a Delegacia de Homicídios para desmantelar as organizações.

O que diz o SINE de Itaboraí

A reportagem também procurou a assessoria da prefeitura de Itaboraí para questionar sobre o possível pagamento no preenchimento das fichas da entidade. Em nota, a prefeitura de Itaboraí informou que no Sine não há funcionários ligados à Milícia e nem cobrança de dinheiro para vagas de emprego.

"Por que a milícia é pior do que o tráfico de drogas?"

Para Chico Alencar, ex-deputado federal do PSOL-RJ, as milícias possuem uma história longa, não somente no Rio de Janeiro, mas ainda em outras cidades do Brasil. Ele relembrou da relação entre a origem do grupo com a "Polícia Mineira", que em outros tempos realizava "serviços privados" de extermínio de bandidos. Os famosos esquadrões da morte.

Chico alertou para a evolução das organizações que ampliaram seus domínios e tipo de negócios. Assim como, tem representantes infiltrados em esferas públicas importantes.

"Por que a milícia é pior do que o tráfico de drogas? Embora ambos sejam forças extremamente violentas e cruéis, a milícia é mais poderosa. Isso porque, ainda que seja um fenômeno mais forte no Rio de Janeiro, ela pode se espalhar mais, pois possuem vinculações com o aparato do estado. Elas se disseminam no legislativo, no judiciário e no executivo. Afinal, várias autoridades públicas do Rio já disseram que se trata de uma autodefesa comunitária ou um mal necessário", afirmou o ex-parlamentar.

Ele também destacou o espírito de milícia que o país vive atualmente. Segundo o ex-deputado, esse sentimento vai além da materialidade letal das organizações criminosas citadas.

"Vivemos um caldo de cultura da violência, da negação, da divergência contra a diversidade e do monopólio da força que prospera um espírito miliciano. Uma sensação que promove o ódio ao outro e que é parte daquilo que é muito secular no nosso país: o MBLO - Movimento Brasil Livre do Outro. Onde o outro é aquele que incomoda, clama por direitos, terra, teto, saúde e educação pública. O espírito de milícia enxerga o inimigo sempre próximo. Vê o outro não como semelhante ao alcance de um abraço, mas como uma ameaça que pede o braço ao alcance de uma arma para enfrentá-lo. É o que chamo de reinado da estupidez.e da truculência. Com as últimas eleições, o espírito foi referendado pelas urnas. Seus simpatizantes ou candidatos com relações orgânicas com tais grupos foram vitoriosos. Isso é muito grave e empurra o Brasil para tempos de barbárie. É preciso resistir, pois da morte pode vir a vida. Pressionar é preciso!", ressaltou.

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