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Atraso mortal

Catador baleado morre antes de remoção judicial para hospital de ponta

Justiça elevou multa para R$ 5 mil, para forças transferência urgente, mas paciente não resistiu.


Luciano Macedo foi baleado pelo Exército no dia 7, ao tentar ajudar uma família cujo carro foi alvejado por mais de 80 tiros. Foto: Reprodução

Justiça elevou multa para R$ 5 mil, para forças transferência urgente, mas paciente não resistiu. Saúde alega que Luciano Macedo já foi internado dia 7 em estado gravíssimo

Baleado pelo Exército no dia 7, ao tentar ajudar uma família cujo carro foi alvejado por mais de 80 tiros durante uma patrulha não-oficial de um grupo de militares, o catador de materias recicláveis Luciano Macedo morreu às 4h20 da manhã desta quinta-feira (18), depois de ser submetido a uma cirurgia de emergência. A família, representada pelo escritório de advocacia de João Tancredo, havia conseguido nova liminar determinando a transferência imediata de Macedo para um hospital da rede pública que contasse com um especialista em cirurgia de pulmão. A liminar saiu no início da noite de quarta-feira, e quando a notificação chegou ao Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, depois de nove horas de espera pela definição do juiz, o catador já se encontrava na mesa de cirurgia.

A juíza Erica de Paula Rodrigues da Cunha, do 3° Juizado Especial Fazendário do TJ-RJ, determinou na noite da quarta-feira (17) que os órgãos públicos de saúde transferissem o catador de materiais recicláveis Luciano Macedo do Hospital Estadual Carlos Chagas para outro da rede pública com estrutura adequada para o seu tratamento. O prazo dado foi de 24 horas.

A Justiça determinou a imediata transferência do catador de materiais reciclavéis Luciano Macedo para um hospital público dotado dos equipamentos e profissionais necessários ao tratamento dele, como um pneumologista e cirurgião.

A decisão desta quarta reforça a determinação da véspera, ampliando a multa por descumprimento para R$ 5 mil. A Prefeitura e o Estado ficam condenados ainda a custear a internação em um hospital privado de primeira linha, caso não haja vagas nas instituições públicas. A sentença lista o São Vicente de Paulo, na Tijuca, o Quinta D'Or, na Quinta da Boa Vista, ou o Samaritano, em Botafogo. A direção do Hospital Carlos Chagas, contudo, argumenta que a transferência no momento é impossível, pois foi iniciado um procedimento cirúrgico no paciente.

A decisão da juíza emitida nesta quarta aconteceu após os órgãos públicos descumprirem a decisão judicial proferida na terça-feira (16), que determinava um prazo de 6 horas para transferência de Luciano para o Hospital Municipal Moacyr Carmo.

Porém, o Hospital Carlos Chagas, mesmo já ciente da primeira intimação judicial ordenando a transferência, realizou procedimento cirúrgico em Luciano nesta quarta, o que deverá impedi-lo de ser removido.

"Luciano está sendo destroçado por todos as esferas do Estado. Foi baleado pelo Exército, foi levado para hospital estadual sem condições de realizar todos os procedimentos necessários e foi impedido de ser atendido em hospital municipal por falta de vagas", criticou a advogada dos familiares do catador, Maria Isabel Tancredo.

Após a cirurgia realizada nesta quarta-feira, sem que os familiares tivessem sido consultados, o quadro de Luciano passou de grave para crítico.

Histórico revela tragédia da segurança e colapso da Saúde no Estado do Rio

Luciano foi baleado no último dia 7, ao tentar prestar socorro à família do músico Evaldo Santos Rosa, que teve o carro alvejado por mais de 80 tiros e morreu no local. Desde então o catador foi internado no Hospital Carlos Chagas.

Devido ao constante agravamento do quadro de saúde e da falta de estrutura necessária do hospital para atender as atuais necessidades de Luciano, o Escritório de Advocacia João Tancredo acionou o plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro na noite desta terça-feira (16) para que o paciente fosse transferido para um hospital particular, com os custos bancados pelo estado.

A juíza do plantão, Maria Izabel Pena Pieranti, atendeu parcialmente o pedido e ordenou a transferência de Luciano para o Hospital Municipal Moacyr Carmo em um prazo de 6 horas, o que não aconteceu por falta de vagas. Em caso de descumprimento do prazo, a decisão judicial determinava multa para o poder público e delegava a responsabilidade para o juiz natural. O trâmite burocrático para definir para qual juiz o processo seria distribuído se arrastou ao longo de toda esta quarta-feira (17) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Já no final do dia, enquanto a equipe do Carlos Chagas já operava Luciano, saiu a decisão da juíza designada, Erica Cunha.

Internado no hospital estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, subúrbio da Central do Brasil, Luciano está febril e com dificuldades respiratórias. Luciano foi baleado na ação de um grupo do Exército que alvejou com 83 tiros um carro em Guadalupe, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e resultou em uma morte e em duas pessoas feridas. Luciano segue internado em estado gravíssimo.

O catador foi baleado na segunda-feira (8) ao tentar prestar socorro à família do músico Evaldo Santos Rosa, que teve o carro alvejado por mais de 80 tiros e morreu no local. Nove dos doze militares presentes na ação foram presos em flagrante, a pedido do Ministério Público Militar.

De acordo com a advogada da família, Maria Isabel Tancredo, ao anunciar o primeiro pedido de transferência, na segunda (15), a necessidade da transferência é urgente e reconhecida em laudo pelos próprios médicos do Carlos Chagas.

"Luciano está respirando por ventilação mecânica, usando dreno de tórax e sedativos. Ele apresenta febre recorrente, sinalizando quadro de infecção generalizada, o que pode ser fatal. Os próprios profissionais do Carlos Chagas já fizeram tudo o que podiam e disseram que não tem estrutura física e de pessoal qualificado para os procedimentos que Luciano precisa agora. Mas, o sistema público de saúde ainda não o atendeu e por isso fomos à Justiça", disse.

A advogada acionou o plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no início da noite de terça-feira (16) e foi atendida pela juíza Maria Isabel Pisanti. Frustou-se, contudo, a expectativa de que a transferência para o Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, viesse a ser realizada ainda na mesma noite, o que obrigou a novo recurso, concedido pela juíza designada, Erica Paula Cunha.

Secretaria Estadual de Saúde argumenta que paciente já ingressou no hospital 'em estado gravíssimo' e que 'atendimento precoce' foi decisivo

A Secretaria de Estado de Saúde divulgou nota oficial sobre a morte do catador, destacando a agilidade no atendimento e buscando atribuir a demora no cumprimento das ordens judiciais de transferência ao próprio estado clínicco de Luciano Macedo. Eis a íntegra da nota: "A Secretaria de Estado de Saúde informa que todos os esforços clínicos necessários foram realizados por profissionais multidisciplinares do Hospital Estadual Carlos Chagas com o objetivo de oferecer o melhor atendimento ao paciente Luciano Macedo, vítima de perfuração por arma de fogo que deu entrada na unidade no último dia 7.

A SES esclarece que o paciente apresentava estado de saúde gravíssimo desde a entrada na unidade, o que impossibilitava sua transferência. Na tarde desta quarta-feira (17), Luciano passou por cirurgia torácica, mas infelizmente foi a óbito às 4h20 desta madrugada (18).

A SES reitera a confiança nos profissionais da unidade durante o caso e acredita que o atendimento precoce prestado ao paciente foi fator decisivo na busca para salvar a vida de Luciano apesar da gravidade da lesão."


Exército Luciano Macedo Guadalupe

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