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Uma em cada quatro gestantes deixa de tomar vacina tríplice e aumenta risco para futuros bebês

Falta de percepção de risco, para doenças ainda hoje letais, é principal causa da hesitação vacinal no Brasil

Por Portal Eu, Rio! em 10/06/2024 às 07:55:50

Resistência de gestantes à vacinação aumenta risco de retomada de doenças previníveis em recém-nascidos. Foto: Agência Brasil

O que você faria para evitar que o seu filho recém nascido pegasse uma doença que pode provocar dificuldade respiratória e até levar à morte? Ou uma outra doença que pode causar pneumonia? E o que dizer de um vírus que já levou à internação de quase 500 bebês só este ano e matou mais de 20 gestantes ou puérperas no ano passado? A gente está falando de coqueluche, influenza e covid-19.

A boa notícia é que existe vacina gratuita, em todo o Brasil, com eficácia comprovada contra as formas graves dessas doenças. E elas são recomendadas para grávidas, para protegê-las nessa fase mais vulnerável e garantir que os bebês já nasçam imunizados.

A má notícia é que muitas gestantes não estão se vacinando. A cobertura da Dtpa, ou tríplice bacteriana acelular, por exemplo, foi de apenas 75% em 2023. Essa é uma vacina aplicada quase exclusivamente em grávidas e deve ser tomada em todas as gestações, justamente para proteger os recém nascidos da coqueluche. Mas ela também protege a gestante e o bebê contra o tétano e a difteria. A jornalista e atriz Natália Gadioli, está grávida pela segunda vez, e vai tomar a dtpa assim que atingir o tempo recomendado, de 20 semanas de gestação.

Ouça no Podcast do Eu, Rio! a reportagem de Tâmara Freire sobre a redução da cobertura vacinal no Brasil e os riscos para a saúde de gestantes e bebês, com o retorno de doenças como coqueluche, tétano e difteria.

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, explica que a chamada hesitação vacinal é causada por muitos fatores. O mais consolidado deles é a falta de percepção de risco. No auge da pandemia, com 4 mil mortes por dia, todo mundo queria se vacinar contra a covid-19, por exemplo. Hoje, que o número de vítimas é menor, mas ainda soma centenas por semana, é difícil atingir a cobertura das doses de reforço. Mas Cunha chama atenção para o desafio da comunicação, em tempos de infodemia, a pandemia de desinformação. Especialmente porque até profissionais da saúde têm disseminado discurso contra as vacinas que têm atingido em cheio as grávidas e os responsáveis por crianças

A última vez que o Brasil teve um surto de coqueluche foi em 2014, mas o Ministério da Saúde alertou, na semana passada, que vários países do mundo têm tido aumento de casos, e essa onda pode chegar por aqui. Até o começo de abril, foram 31 infecções comprovadas, e mais de 80% delas em bebês de até seis meses. O Sus também vacina os bebês contra a coqueluche, mas apenas a partir dos 2 meses de idade, completando o esquema aos 6 meses. Ou seja, as maiores vítimas da coqueluche dependem totalmente da vacinação na gravidez para não adoecerem.

A ginecologista Nilma Neves diz que os profissionais que acompanham o pré-Natal devem, não somente prescrever as vacinas, mas também conferir se elas foram tomadas e questionar as grávidas sobre suas dúvidas e receios. Até porque, muitas têm medo de tomar qualquer substância ou remédio, e acabar afetando o bebê. Ela é vice-presidente da Comissão de Vacinas da Febrasgo, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e chama atenção para outro grande problema que tem afetado as coberturas vacinais:

“As salas de vacinas dos postos de saúde eles não abrem aos sábados e muita gestante trabalha”

Mas no caso da vacina contra a gripe, nem os chamados Dias D, com aplicação aos sábados, conseguiram fazer com que a meta de cobertura fosse alcançada. Atualmente, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, estão em campanha. Mais de 1 milhão e 700 mil grávidas fazem parte do público alvo e nem um quarto delas se vacinou. O imunizante protege contra três cepas do vírus Influenza. Ao contrário do que muitos podem pensar, não é só um resfriadinho. A influenza é um dos principais causadores da Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode levar à morte, especialmente de pessoas vulneráveis, como bebês pequenos e grávidas.

Outro grande causador da Síndrome é a Covid-19, que também pode provocar inflamação em diversas partes do corpo. Há evidências de relação entre a covid e efeitos como aborto espontâneo, restrição de crescimento no útero e parto prematuro. E a Fiocruz já identificou que a quantidade de mortes entre grávidas ou pessoas que acabaram de dar à luz nos dois primeiros anos da pandemia foi quase 70% a mais do que o habitual. Ainda assim, a vacina contra a covid-19 encontra grande resistência. Gestantes e puérperas devem tomar a nova vacina monovalente xbb da Moderna, que está sendo aplicada pelo SUS. E a diretora médica de vacinas da América Latina da Adium, farmacêutica que distribui a vacina no Brasil, Glaucia Vespa explica porque elas não devem ter medo:

“Quando a gente desenvolve uma vacina nós temos etapas. A primeira é o que a gente chama de pré-clínica que é quando a gente faz as pesquisas no laboratório, aí nós começamos com a fase clínica que é onde a vacina é estudada em seres humanos. Depois que se termina o desenvolvimento clínico, é feito um dossiê submetido para as agências regulatórias. Mas uma vez que a vacina chega (à população), a gente continua acompanhando. Por isso que as vacinas não mentem: a sua eficácia e a sua segurança é comprovada em grandes estudos de mundo real.”

De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da vacinação contra a doença em 2021, quase 2 milhões e 200 mil mulheres se vacinaram. Mas essa quantidade é inferior à previsão de gestantes e puérperas que devem se vacinar somente este ano, cerca de 2 milhões e 240 mil. O gerente médico de vacinas da Farmacêutica GSK, Marcelo Freitas, lembra também a importância do envolvimento familiar para que a estratégia vacinal das gestantes. Quando a família toda se vacina, é mais difícil que um indivíduo fique para trás, além de formar um círculo de proteção ao redor do bebê. No caso da Coqueluche, é inclusive recomendada a Estratégia Coccoon, ou casulo.

O calendário básico de vacinação do Sus também recomenda que a gestantes recebam a vacina contra a hepatite B, caso não tenham sido vacinadas anteriormente, ou completem o esquema de 3 doses se ele estiver incompleto. Também é preciso iniciar ou completar a imunização com a DT, que protege contra tétano e difteria em 3 doses, com reforço a cada 10 anos. A vice-presidente da Comissão de Vacinas da Febrasgo, Nilma Neves, reforça que o ideal é que antes mesmo de engravidar, as famílias confiram o cartão de vacinas da gestante. É muito importante que ela receba a tríplice viral, por exemplo, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, e não pode ser tomada na gestação.



Por Portal Eu, Rio!

Fonte: Agência Brasil e RadioAgência Nacional

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