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Montagem inédita "Sal" estreia no Sesc Copacabana

peça aborda a decadência das salinas da Região dos Lagos fluminense

Por Portal Eu, Rio! em 15/08/2024 às 18:33:10

Foto: Divulgação/Thaís Grechi

Há aproximadamente 30 anos, numa salina em processo de desativação nos fundos da casa da artista Adassa Martins, em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, ainda era possível brincar entre as quadras de água salgada, subir e descer pequenos montes de sal - e até levar um punhadinho para sua avó cozinhar. Contudo, as salinas já estavam em decadência na região, devido à mecanização dos modos de produção do sal e do mercado imobiliário a pleno vapor na localidade – o que veio se intensificando com o tempo, destituindo uma das práticas econômicas mais marcantes da história do Brasil. Partindo dessas vivências e memórias nasceu “Sal”, espetáculo inédito idealizado e dirigido por Adassa que estreia nesta quinta-feira (15), às 20h30, no Mezanino do SESC Copacabana, marcando ainda sua estreia como dramaturga ao lado de Fernando Marques, também interlocutor artístico do projeto.

Tendo no elenco Miwa Yanagizawa, Laura Samy, Tati Villela e a própria Adassa Martins, o espetáculo narra o reencontro inesperado de um velho trabalhador do sal, em sua salina decadente, com seu filho que, ao chegar, também reencontra um grande amigo do passado. O pai é um dos únicos que ainda restam numa comunidade que vive da salina há gerações. Esse encontro traz à tona a antiga relação entre eles, apartada por 10 anos de distância, e a relação com aquele lugar, suas memórias, sua história, e toda a transformação que a região sofreu com o passar dos anos.

O desejo de falar sobre uma das práticas econômicas mais relevantes da história do Brasil, as mãos que fundaram e que sempre sustentaram o país, deu impulso a levar aos palcos as histórias que pouco são contadas e lembradas, as histórias por detrás da História. “A história do sal na Região dos Lagos é a disparadora desta ficção, e nosso desejo é trazer um trabalho que reflita sobre relações familiares, relações de gênero em espaços tidos como essencialmente masculinos, a estrutura de uma sociedade que enrijece relações de afeto entre homens e discrimina existências que fujam aos padrões da heteronormatividade, a ação exploratória e massacrante do capitalismo, que passa soterrando outros modos de viver e existir, as relações de trabalho e a luta de classes no Brasil”, resume a autora e diretora Adassa Martins.

Fundada em caráter multidisciplinar, com os artistas integrantes da equipe criativa presentes desde o início do processo de ensaios, o desejo da criadora sempre foi poder tocar nos temas que o espetáculo apresenta por diversos pontos de vista e ferramentas expressivas, em um processo colaborativo. Deste modo, toda a equipe se deixou atravessar por temas relacionados a patrimônio material e imaterial, apagamento sistemático de histórias e subjetividades, relações de trabalho, familiares e afetivas. O espetáculo é, sobretudo, interessado em desbravar caminhos artísticos e expressivos para contar uma história ficcional e, também através dela, falar sobre nós mesmos.

“É uma experiência inédita em vários aspectos pra mim, mas que conserva o que mais me interessa como artista: reunir pessoas diferentes para que se atravessem e respondam criativamente às provocações da nossa sociedade, de temas que afetam nosso estar no mundo. As atrizes são também autoras de uma escrita cênica que transita entre a ficção e um caráter investigativo do jogo teatral. Trabalhamos o trânsito entre estar num espaço e também estar no outro, o contar a história na perspectiva do personagem e também por perspectivas outras. E isso sustenta uma criação que não se assenta no aspecto histórico ou documental e, sim, se move a partir de inquietações sobre o passado para pensar o porvir”, elabora Adassa.

Uma das grandes inspirações para o projeto é a Casa da Flor, patrimônio de São Pedro d’Aldeia tombado pelo IPHAN, criada e construída por Gabriel Joaquim dos Santos e seus cadernos da década de 1960. Seu Gabriel, ex-salineiro, usou conhecimento empírico para construir uma casa feita de cacos. Seu sobrinho-neto, Valdevir Soares dos Santos, é o atual guardião da Casa, e faz uma visita guiada que carrega em si toda a riqueza de seu patrimônio imaterial. Seu Vivi, como é conhecido por todos na região, integra a equipe com uma participação especialíssima de voz em off.

“Os cadernos de seu Gabriel, também preservados pelo IPHAN e que chegaram até mim através do artista e pesquisador Bruno Peixoto, fizeram parte da pesquisa para o espetáculo. Um poema registrado em um dos cadernos foi musicado pelo Diretor Musical e criador da trilha sonora, Arthur Braganti, e está presente na peça”, antecipa Adassa. “Sal” apresenta o universo das salinas, sendo o sal uma substância presente na vida das pessoas, conhecido como “ouro branco” por séculos, uma matéria de grande importância na economia do Brasil, cujo universo talvez seja pouco conhecido.

“Este espetáculo é uma homenagem à vida das pessoas do sal, dos verdadeiros donos daquelas terras, do conhecimento para sua produção, da força produtiva e cultural que moveu toda essa engrenagem. A expectativa é que o trabalho chegue ao público na intensidade que chegou para nós, e siga se desdobrando para além da sala do teatro. Como um primeiro projeto próprio, falar sobre minhas origens, a terra onde fui criada, as lembranças das paisagens salineiras, a ‘gente do sal’ cabofriense, é motivo de muito orgulho. Este foi um projeto gestado durante muitos anos e construído com muita dedicação, pesquisa e trabalho”, encerra Adassa Martins.

SERVIÇO:

“SAL”

Temporada: 15 de agosto a 08 de setembro de 2024

Horário: 5ª feira a domingo, às 20h30

Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Local: Mezanino do SESC Copacabana

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana - RJ

Informações: (21) 2547-0156

Bilheteria: Terça a sexta - de 9h às 20h; Sábados, domingos e feriados - das 14h às 20h

Classificação Indicativa: 12 anos

Duração: 90 minutos

Instagram: @espetaculosal

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