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Museu Nacional busca recursos para reinaugurar prédio histórico em 2026

"Após a reforma, serão aproximadamente 10 mil exemplares distribuídos em 7 mil m²”, conta o diretor do Museu, Alexander Kellner

Por Ana Beatriz Casilo em 20/08/2024 às 10:03:27

Fotos: Divulgação/Site Museu Nacional

Completando 206 anos em 2024, o Museu Nacional (MN) da UFRJ, localizado em uma edificação histórica tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), construída no início do século XX e que foi destruída por um incêndio em 2018 será reinaugurado no primeiro semestre de 2026. A tragédia resultou em perdas incalculáveis, incluindo parte da estrutura da edificação e suas coleções de ciências naturais e antropológicas que, juntas, comportavam mais de vinte milhões de itens catalogados, muitos deles insubstituíveis. Desde então, esforços vêm sendo feito para recuperar e revitalizar essa instituição cultural vital. Mesmo com as obras em andamento, as atividades não pararam com o fechamento do local.

“O museu tinha 20 milhões de exemplares, agora reduzido a menos de 3 milhões. Antes do incêndio, as galerias expositivas de 3.278m² abrigavam 5.774 itens; após a reforma, serão aproximadamente 10 mil exemplares distribuídos em 7 mil m²”, conta o diretor do Museu, Alexander Kellner.

A busca por recursos financeiros é um aspecto crítico desse processo, envolvendo diferentes esferas do governo, além de parcerias com o setor privado e organizações governamentais. O dinheiro para custear parte da restauração veio de patrocino do BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico de Social), do Bradesco, da Fundação Vale e também de doações. Em 2018, logo após o incêndio, deputados da bancada do Rio de Janeiro concordaram em indicar uma emenda coletiva destinando 55 milhões para a recuperação do Museu Nacional. Esses fundos foram utilizados para a recuperação do espaço físico, implementação de novas estruturas de segurança e preservação.

Segundo Kellner, o investimento necessário para continuar a revitalização do museu, visando a reinauguração em 2026, é de R$ 95 milhões. Após uma audiência pública no âmbito da Comissão da Cultura que aconteceu no dia 5 de junho deste ano no Congresso Nacional, o museu recebeu a quantia de R$ 14 milhões do MEC (Ministério da Educação e da Cultura), mas ainda não é o suficiente. “O museu todo não dá para entregar em 2026, mas queremos inaugurar uma grande parte. O intuito agora é captar o valor de R$ 95 milhões via Lei Rouanet. Estamos esperando vir alguma coisa representativa para que possamos entregar o museu no primeiro semestre de 2026, mas para que isso seja possível, temos um grande desafio pela frente que é o de captar recursos financeiros nos próximos meses.”

A administração do Museu Nacional Vive explicou que o investimento faltante para a captação é necessário para finalizar a restauração do Palácio de São Cristóvão (sede do Museu); implementar o projeto de museografia para as futuras exposições; reformar o prédio anexo - onde funcionará o auditório e que servirá de apoio ao funcionamento da instituição -; concluir a ampliação da Biblioteca Central, que fica no Horto Botânico; e finalizar a implementação do novo Campus de Pesquisa e Ensino Museu Nacional, com laboratórioos para conservação e restauro de acervos, além de departamentos científicos.

A entrega total da obra está prevista para 2028. Para além dos reparos, Alexander Keller vislumbra uma proposta diferenciada. Ele não quer um museu igual, mas sim um espaço moderno, inclusivo e que, sobretudo, promova o diálogo com a sociedade.

A reinauguração do Museu Nacional representa um momento significativo para a cultura e a história do Brasil e a expectativa é reestabelecer sua função como um importante centro de conhecimento e identidade nacional. Para tanto, está sendo planejada uma série de exposições que prometem revitalizar o seu acervo, ressaltando a diversidade cultural e histórica do Brasil. "Novas montagens irão incluir tecnologias interativas que proporcionarão experiências imersivas aos visitantes. Além disso, há uma forte intenção de incluir as vozes de comunidades indígenas e afro-brasileiras nas narrativas representadas, promovendo uma abordagem inclusiva e educacional ao patrimônio cultural, alinhando-se às demandas contemporâneas por representatividades", garante Kellner.

A campanha “Recompõe”, que foi criada como estratégia para reafirmar a importância da democratização do conhecimento, tem resultado na doação de novo acervo. Das 14.548 peças recebidas, 1.815 serão usadas nas áreas expositivas. O acervo recém-adquirido de fósseis, que conta com um exemplar raro do crânio completo de um Tupandactylus imperator, um pterossauro nativo do Brasil, foi doado pelo Grupo Interprospekt em parceria com o Instituto Inclusartiz, uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover a arte contemporânea em escala global. Essa doação incluiu mais de mil peças que originalmente faziam parte da coleção de fósseis do colecionador Burkhard Pohl e do paleontólogo Frederic Labombat, ambos da Alemanha, após mais de dois anos de negociações.


Além disso, o novo acervo incluirá fósseis de plantas, penas, anfíbios e insetos. A coleção também inclui um fragmento de um pterossauro diferente, cujos dentes e mandíbula ainda estão preservados.

Outro grande acontecimento foi a devolução do Manto Tupinambá que estava no exterior desde 1689, sendo exposto no Museu Nacional da Dinamarca, e chegou ao Museu Nacional do Rio de Janeiro em julho deste ano. A peça é uma vestimenta do século XVI, de 1.80 de altura, confeccionada com penas vermelhas de guará sobre uma base de fibra natural. O objeto é um símbolo espiritual da cultura Tupinambá e era utilizado por lideranças indígenas antes da chegada dos europeus ao Brasil. Outros onze exemplares ainda existem, todos em museus europeus. Segundo Kellner, é a peça mais importante produzida em território nacional e que estava fora do Brasil. Quem está coordenando o trabalho para exposição do manto é o Ministério dos Povos Indígenas em parceria com o MEC (Ministério da Educação). A data para exposição do Manto ainda não foi divulgada, mas Kellner adianta que serão dois dias de rituais indígenas dos Tupinambás e no terceiro dia, acontecerá a apresentação pública, com a presença da Ministra dos povos Indígenas, Sonia Guajajara, do Ministro da Educação, Camilo Santana e do presidente Lula.


Nos últimos anos, a restituição de objetos que foram levados para outros países tem ganhado destaque, refletindo a crescente conscientização sobre direitos culturais e patrimoniais. Durante o período colonial e as primeiras décadas após a independência do Brasil, muitos objetos de valor histórico foram enviados a museus e instituições de outros países. Este fenômeno inclui desde itens indígenas até artefatos do período imperial. A maioria desses objetos foi adquirida sob circunstâncias duvidosas, muitas vezes sem consentimento ou compensação apropriada para comunidades de origem. O reconhecimento dessa prática levou a um movimento crescente por sua devolução, com o Museu Nacional se posicionando como um líder na recuperação de seu patrimônio. Esse processo também é visto como uma forma de reparar injustiças históricas, contribuindo para a reconciliação de comunidades marginalizadas.

A legislação brasileira sobre a restituição de bens culturais é complexa e envolve tanto normas nacionais como internacionais. O Brasil é signatário de várias convenções que defendem a proteção do patrimônio cultural, como a Convenção de UNESCO de 1970. Essa legislação proporciona uma base para reivindicar a devolução de artefatos, embora a aplicação efetiva das leis encontre desafios, devido a questões de consensos diplomáticos e propriedade. Iniciativas e projetos de lei para fortalecer a proteção do patrimônio cultural estão continuamente em discussão nas esferas legislativas.

"O acolhimento de objetos devolvidos pelo Museu Nacional é um processo cuidadoso e repleto de significados. A instituição não apenas preserva esses bens, mas também busca integrar esses artefatos em narrativas que representam sua história", diz Kellner.

A comunhão entre a expectativa da comunidade e as opiniões dos especialistas em museus tem sido notável desde o anúncio da reinauguração do museu. Muitos esperam que o novo Museu Nacional sirva como um modelo de inovação e resiliência na preservação do patrimônio. Especialistas destacam a necessidade de investimentos contínuos e políticas públicas eficazes para garantir que o museu não só se recupere, mas que também prospere em longo prazo. Portanto, a união de esforços entre a sociedade civil, órgãos governamentais e iniciativas privadas são fundamentais para assegurar que o Museu Nacional reconquiste seu papel central na cultura do Brasil.

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