A campanha Setembro Amarelo, realizada no Brasil desde 2014, tem o objetivo de alertar e reforçar a importância dos cuidados com a saúde mental e prevenção ao suicídio. Segundos dados divulgados em 2023 pelo Ministério da Saúde, são registrados no Brasil cerca de 12 mil suicídios anualmente. A maior parte dos casos está relacionada a transtornos mentais: em primeiro lugar estão casos de depressão, seguidos de bipolaridade e abuso de substância químicas.
Em razão disso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) chama a atenção para o cuidado com a saúde mental e a prevenção do agravamento de doenças. Em meio a esse cenário, a ANS vem buscando impulsionar uma mudança no modelo de atenção à saúde hegemônico no setor, a partir do estímulo à adoção, por parte das operadoras de planos de saúde, de práticas cuidadoras e integrais, como a implantação de programas de Promoção de Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças (Promoprev).
"Quando não damos atenção aos sutis sinais que nosso corpo nos aponta, cotidianamente, algo que poderia ser identificado numa fase inicial, acaba só sendo observado – não raras vezes – quando nos encontramos já em profundo adoecimento emocional, quando estamos tão acometidos pela dor e pelo sofrimento que nos sentimos sufocados", explica Roberta Flach, que é psicanalista, especialista em prevenção ao suicídio e doutora em Saúde pela Fiocruz.
"É como um afogado no mar que não tem mais forças para nadar contra a força da natureza, que não vê mais saída para vencer a correnteza, que faz com que a pessoa fique cada vez mais desgarrada da faixa de areia. E quando fica sem fôlego para respirar, com um forte aperto no peito, e por vezes, sem nenhum suporte próximo para estender a mão e pedir ajuda, sucumbe a dor e ao sofrimento. Neste estágio avançado, sem forças, a pessoa se entrega e começa a achar a ideia de se matar uma solução cabível para acabar com tanta angústia, vazio, sufocamento, tristeza e desespero", completa a especialista.
Após um suicídio, às vezes é comum ouvir de parentes e amigos frases como “nossa! Mas foi do nada, né!?” ou “caramba, estava rindo comigo ontem” ou mesmo algo como "mas ele (ela) estava tão bem, eu não poderia imaginar que ia acontecer isso"...
"Nos esquecemos que as mudanças são processuais, gradativas. Ninguém dorme bem emocionalmente e acorda desejando cometer o suicídio. Daí a importância de prestarmos mais atenção no outro e em sinais sutis, como mudanças constantes de humor, alteração de hábitos, etc. Nem sempre identificamos esses sutis sinais – por vezes, até negamos - inclusive, quando somos nós mesmos àqueles que estão entrando neste quadro de adoecimento", alerta Roberta.
CENTRO DE VALORIZACAO DA VIDA (CVV)
Buscar ajuda é fundamental e conversar pode salvar vidas. Por isso, especialista afirmam que conversar com um profissional de saúde de confiança ou buscar conforto e apoio ligando para o Centro de Valorização da Vida (CVV) são boas opções.
O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. Disque 188.
Histórico
O termo Setembro Amarelo se originou em 2014 no Brasil, por meio de uma campanha criada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Apesar de as ações de conscientização durarem todo mês, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio é comemorado anualmente em 10/09, sendo organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e endossado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para reforçar, no mundo todo, as iniciativas voltadas ao cuidado com a saúde mental e às formas para identificar o problema.
Sinais de alerta
É importante estar atento a simples mudanças que indiquem comportamentos que podem evoluir para o suicídio. Confira alguns sinais que podem ser percebidos, de acordo com o Ministério da Saúde:
- Aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais (falar constantemente que dará fim à vida);
- Preocupação exacerbada com sua própria morte ou falta de esperança (baixa autoestima e uma visão negativa da vida);
- Expressão de ideias ou de intenções suicidas (falar frases como "Vou desaparecer", "Eu queria dormir e nunca mais acordar", "Eu vou deixar vocês em paz");
- Isolamento contínuo (evitar atividades, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de fazer).