O Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, chama atenção para os números de casos dentro das instituições da área da segurança. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), os Policiais Militares estão entre os profissionais mais vulneráveis ao suicídio, seguido do Corpo de Bombeiros e Polícia Civil. Especialistas da área da segurança e saúde comentam e sugerem mais atenção aos primeiros sinais apontados no comportamento.
Fala-se de um crescimento de 116,7% entre 2022 e 2024, conforme dados do Anuário e que acende um alerta sobre o impacto da cultura organizacional nas corporações de segurança pública. Fatores como a alta pressão, a exposição constante ao perigo e a falta de apoio emocional são apontados por especialistas como elementos que contribuem diretamente para essa “tragédia silenciosa”.
O Especialista em Segurança Rildo Anjos explica que o ambiente de trabalho, com exigências de desempenho impecáveis e constante exposição ao perigo, agrava o estresse. “Fatores como o trabalho em um ambiente com características pesadas, no que tange ao emocional e a dura exigência de um bom desempenho no serviço seriam fatores importantes a serem considerados para a ocorrência desses casos”, afirma.
Para Rildo, a rotina de extremo estresse também é um gatilho para pensamentos suicidas e também coloca em evidência a falta de acompanhamento por parte da organização. “Suas ‘tempestades’ emocionais, internas e pessoais não são tratadas, por vezes motivadas pelo preconceito em relação a problemas de natureza emocional”, declara Anjos.
Em 2023, foram 118 casos no Brasil todo, com um aumento de 26,2% em relação ao ano anterior. O Rio de Janeiro aparece no topo da lista com 116,7%, seguido do estado de São Paulo, com 80%. Ainda segundo os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, os casos chegam a superar os casos de mortes em confrontos e operações.
Já o especialista em Segurança Pública, Erivelton Lopes destaca o esgotamento físico e mental como agravante. "A tropa está doente e sobrecarregada. Todo policial que trabalha diretamente com a sociedade é passivo de estresse extremo. O primeiro passo para enfrentar essa crise seria a criação de um protocolo oficial para lidar e tratar possíveis vítimas dentro da corporação através do acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular, para que se possa ter um acompanhamento mais contínuo do estado emocional de cada indivíduo", afirma Lopes ao citar ainda, a possibilidade de afastamentos temporários e a adoção de protocolos preventivos mais eficazes.
De olho na saúde mental
Pessoas que apesar de serem capacitadas para enfrentar situações extremas, após algum tempo podem começar a manifestar sinais de adoecimento, com sintomas físicos e emocionais agravados aos casos de depressão, transtorno de ansiedade, burnout, estresse pós-traumático e algum tipo de dependência química ou abuso de álcool. Esses sinais podem ser um sinal vermelho, segundo o psicanalista Raí Rocha.
Raí diz que a maior incidência dos casos é com homens e têm relação com a pressão enraizada da sociedade por uma masculinidade tóxica. “Historicamente os homens foram ensinados a serem fortes, a resolverem seus problemas sozinhos e a não demonstrarem vulnerabilidade. Essa pressão social faz com que eles demorem a perceber que precisam de suporte emocional e psicológico, e assim, pedirem ajuda”, explica Raí Rocha, que também atua como analista comportamental.
Apesar dessa realidade, as corporações policiais ainda não dispõem de legislações que exijam suporte em saúde mental para seus membros, mesmo diante dos altos níveis de estresse a que estão submetidos pela própria natureza do trabalho.