Theatro Municipal do Rio de Janeiro sofre corte de R$ 25 milhões

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro sofreu perda de 46,87%, este ano, no seu orçamento, o que corresponde a R$ 25 milhões. Esse contingenciamento supera a média dos cortes feitos à cultura no estado, em 2019. Os gastos do governo estadual com o Theatro Municipal são da ordem de R$ 8 milhões mensais e, administrados pela Secretaria de Cultura, que dispõe de uma verba de R$ 21 milhões por mês. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (13/05) durante audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), cuja finalidade foi discutir o orçamento do Theatro. 

Segundo Maria de Fátima Lopes Leite, secretária adjunta de Planejamento, Orçamento e Gestão da Casa Civil e Governança do Estado do Rio de Janeiro, a previsão de receita para este ano destinada ao Theatro Municipal é muito baixa, mas em junho será possível fazer um remanejamento. “O governo tem a prioridade de pagar os salários dos servidores. Em junho, faremos uma revisão. A secretaria está de portas abertas para minimizar essa situação de corte e fazer um remanejamento”, garantiu  a secretária. 

Já o secretário Estadual de Cultura e Economia Criativa, Ruan Lira, declarou que este ano conseguiu a verba de R$1,5 milhão liberados pela Secretaria de Fazenda para a realização de obras artísticas no Theatro Municipal, mas para ele os problemas do local estão longe de serem solucionados. “O Municipal tem uma simbologia de 110 anos. Com quase 50% de contingenciamento do orçamento, cerca de 8% acima da média, precisamos enxergar a cultura como um setor de investimento. É por esse caminho que queremos andar”, destacou o secretário. Ele disse ainda que é necessária a revisão de contratos dos últimos 10 anos para verificar supostos erros cometidos por empresas responsáveis pelas obras do Theatro. Segundo Lira, há muitos problemas estruturais no local, entre eles inúmeras infiltrações. 

O maestro Isaak Karabtchevsky. também presente na audiência pública, afirmou que a falta de sensibilidade do poder público em relação à cultura no estado é o que prejudica o setor. “A insensibilidade determina o futuro da nossa cultura e, independente de direita ou esquerda, pode definir o rumo do nosso setor. Trabalhei na Orquestra Sinfônica Brasileira e ainda como maestro  em Viena e Veneza, e raramente vi uma estrutura tão coesa num coro e corpo de baile como no Theatro Municipal. Me revolto com essa insensibilidade e sou um soldado nessa luta.”, destacou  o maestro, que fez a regência, no início da audiência, de 100 músicos da orquestra e coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A orquestra executou, juntamente com o coro, o Hino Nacional e Va Pensiero, da Ópera Nabucco de Verdi. Além de músicos, o corpo artístico do teatro também realizou uma apresentação.

Presidente do Theatro Municipal, Aldo Mussi disse que a falta de atenção com o local já acontece há muitos anos, mas que a programação dos espetáculos ainda não foi prejudicada em que pese o corte orçamentário: “Estamos herdando uma fundação negligenciada. O trabalho de agora é de restauração e está muito difícil. Mesmo com a crise não fechamos as portas nenhum dia. Queria que o governo nos ajudasse para não haver o desmanche da Fundação. Gostaria de contratar mais integrantes para o corpo artístico, seja por concurso ou qualquer outra via legal possível”.

O presidente da Comissão de Cultura da Alerj, deputado Eliomar Coelho (PSOL), afirmou que o corte interfere na programação cultural do Theatro, impactando economicamente o setor cultural no estado.

“O Theatro Municipal é um ícone da nossa cultura. O corte interfere na programação do ano inteiro e nós, como comissão, temos que intervir da melhor forma possível”, destacou o parlamentar. Ele anunciou que um ofício com as principais demandas será encaminhado para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, direção do Theatro Municipal e também para a representação dos Servidores do Theatro Municipal.

Também participaram da audiência pública os deputados Waldeck Carneiro (PT) e Luiz Paulo (PSDB),  e Flávio Lauria, procurador do estado.