Um curso profissionalizante de Língua Brasileira de Sinais (Libras) está qualificando profissionais de saúde de 32 unidades de Atenção Primária (clínicas da família e centros municipais de saúde) e de dois centros de atenção psicossocial (CAPS) e duas unidades de pronto atendimento (UPA) da Zona da Leopoldina para atendimento de pacientes com deficiência auditiva. Em duas turmas iniciadas em abril e maio deste ano, mais de 60 alunos já se formaram – entre agentes comunitários de saúde e territoriais, enfermeiros e técnicos de enfermagem – com um norte em comum: proporcionar um atendimento mais acolhedor a esses usuários.
O projeto acontece nas clínicas da família Felippe Cardoso e Augusto Aloysio Novis, localizadas na Penha, com encontros presenciais e atividades remotas. Entre as 60 pessoas que se formaram nas primeiras turmas está a agente comunitária de saúde (ACS) Camilla Bastoni, lotada no CMS Necker Pinto. Ela aproveitou o curso para aprimorar sua forma de trabalho com mais excelência e humanização e realizou o que já era um sonho antigo, o de aprender a se comunicar pela língua gestual-visual.
– Após o curso já tive a oportunidade de utilizar a Libras. Em todas as ocasiões que tive, o que me marcou foi o sorriso do usuário ao ver que alguém ali conseguiria se comunicar com ele. Foi maravilhoso ver que, mesmo eu sinalizando que ainda estava aprendendo, eles sorriam, estavam felizes e tinham muita paciência em indicar pausadamente para que eu pudesse compreender o que eles precisavam -, revelou a agente comunitária.
Outro agente comunitário de saúde formado é o Ronaldo Pacheco da Clínica da Família Zilda Arns. O profissional de saúde já sabia o básico da comunicação em libras, por conta de sua esposa, e decidiu entrar logo nas turmas iniciais para se aprimorar. O ACS acompanhou o pré-natal e toda a gravidez de uma usuária surda, e relembra como ela ficou agradecida pelo contato realizado.
-Posso dizer que é muito gratificante fazer a diferença na vida de todos os nossos usuários cadastrados na unidade. Eu me lembro com muito carinho quando recordo a minha experiência no curso e tudo o que eu aprendi. Eu me apaixonei pela comunicação em Libras -, compartilhou o ACS.
Com o aumento da procura, outras três turmas foram abertas no mês de setembro para suprir a demanda. Atualmente, são 105 profissionais distribuídos em três classes, cada um conciliando o tempo entre o serviço e a educação. O ACS Johnny Barbosa da Silva do CMS Nagib Jorge Farah é um deles. Ao saber do curso pela gerente de sua unidade, motivado por adquirir conhecimento para ajudar as pessoas e também transformar a sua carreira profissional, ele correu para se inscrever.
-Está sendo desafiador. O que me marcou nas aulas foi o fato de eu estar conseguindo falar pela língua de sinais. A primeira coisa que aprendi foi o alfabeto manual, as letras do meu nome. Consigo formular nomes próprios, de frutas, paz, amor e alegria -, diz Johnny, animado.
A professora de Libras Viviane Pinheiro é responsável por transmitir conteúdos da Língua Brasileira de Sinais e a prática da conversação entre os alunos. Uma vez por semana, em duas horas, Viviane traça diferentes estratégias de comunicação para preparar a desenvoltura da compreensão de perguntas e respostas, sob contexto da rotina de uma unidade de saúde.
-Educar profissionais da área da saúde é enriquecer a nossa cidadania, é pensar que estamos tornando cada vez mais a comunidade surda com autonomia de ir a sua clínica da família e dizer que está com dor, que deseja tomar uma vacina ou uma medicação e participar de um planejamento familiar -, destacou a professora Viviane.
Idealizado pelo coordenador de Atenção Primária à Saúde da Zona da Leopoldina, Thiago Wendel, o curso já rendeu resultados em menos de um ano, possibilitando a quebra da barreira linguística entre o usuário e o profissional. Todas as unidades de Atenção Primária da região já contam com pelo menos um profissional capacitado em Libras e a meta é crescer esse quadro.
– Quando pensamos em saúde, temos que pensar na maneira de garantir o acesso de todos de forma equânime. O direito à saúde não pode ser negado por uma falha de comunicação. Unir saúde e educação acessível é uma forma de ampliar o nosso cuidado e as ferramentas que usamos. Garantimos assim um atendimento digno e de maior qualidade a uma grande parcela da população -, conta Thiago Wendel.
Com três turmas em andamento, a expectativa é que novas edições, tanto para iniciantes quanto para avançados, tenham início em janeiro de 2025. Os profissionais interessados nas novas turmas podem procurar a gerência de suas respectivas unidades de lotação.