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Com oficina de teatro gratuita

"Ninguém sabe o meu nome" no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto

Espetáculo com Ana Carbatti aborda desafios de uma mãe preta diante do racismo da sociedade


Foto: Divulgação

Fechando o Mês da Consciência Negra, o espetáculo “Ninguém sabe o meu nome” retorna ao Rio de Janeiro para uma curtíssima temporada de 29 de novembro a 15 de dezembro no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Idealizada por Ana Carbatti, que assina a dramaturgia com Mônica Santana, a montagem com direção de Inez Viana e Isabel Cavalcanti foi aclamada por público e crítica em diversos estados do Brasil, trazendo na bagagem indicações a prêmios. Tendo como ponto de partida o dilema de uma mãe preta ao falar sobre o racismo com o filho, em cena a atriz se multiplica em muitas vozes para trazer ao palco reflexões sobre os códigos racistas já implícitos em nossa sociedade, bem como seus impasses, impactos e possíveis propostas de reparação.

“É lindo e muito emocionante retornar ao Rio, é como voltar para casa! Este projeto nasceu de reflexões muito pessoais, e foi construído com uma equipe que se tornou uma família. Como uma aldeia. E todo mundo sabe como é difícil manter um espetáculo teatral no nosso país. A resposta do público e da mídia que recebemos até hoje é um privilégio. E a gente não para de fazer novos planos pra peça, que se realimenta a cada temporada, a cada teatro que a gente visita, em cada cidade munida de suas peculiaridades, porque ele se realiza com a presença do público, mesmo. Estou com uma expectativa muito positiva pra essa temporada”, entusiasma-se Ana, indicada ao Prêmio Shell e Prêmio APTR por sua performance.

A peça começa quando a personagem acorda de um pesadelo onde ocorre o desaparecimento do menino. A partir daí, começa a questionar sua própria existência e sua função na sociedade, como mulher e mãe. Em uma conversa íntima com o público, ela discorre sobre suas principais angústias, medos e esperanças, falando através de todos os seus sentidos. Usando o humor, a peça provoca engajamento e empatia e procura conscientizar o público da dívida histórica que se tem para com a população preta e a necessidade de reparação, combatendo ainda o racismo estrutural. Para a diretora Isabel Cavalcanti, é urgente falar sobre o racismo no Brasil e sobre a violência sofrida pelas pessoas pretas, que compõem a maioria da população do Brasil - primeiro país do mundo com maior população preta fora do continente africano.

“É fundamental repensar a história brasileira e promover esse debate no teatro, onde ainda é possível estabelecer um diálogo amoroso”, declara Isabel. “Como artista e como mulher negra em plena atividade eu fico muito contente de estar, de alguma forma, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva. O Mês da Consciência Negra é um espaço pra se lembrar do quanto esse país precisou da presença negra para se constituir. Enquanto eu puder e enquanto me for dado espaço, eu quero estar ali, no palco, sendo motor dessa lembrança”, complementa Ana Carbatti. Imbuída do intuito de partilhar as descobertas da cena e partindo de um objeto não dramático, a atriz oferece a oficina de teatro gratuita “Meu corpo: ação e emoção teatral” no dia 07 de dezembro, das 14h30 às 18h30, no próprio teatro onde se apresenta com a peça.

A atriz e idealizadora reitera, contudo, que a intenção da montagem nunca foi constranger ninguém. “O barato é que o espetáculo fala pra todo mundo. Algumas pessoas não negras me dizem que se sentem envergonhadas. Eu não faço esse espetáculo pra isso, lógico que não! Mas eu entendo que essa sensação ajuda a se colocar numa posição que vai além da contemplação, além da resignação. E é disso que nós precisamos para mudar o caminho. As pessoas pretas veem suas histórias repetidas ali, se sentem acolhidas, representadas, e encontram espaço de expressão. Já as brancas abrem suas escutas e reconhecem seus lugares de privilégio, se fazem perguntas que nunca haviam feito antes. Então, eu fico com a impressão que a sociedade, como um todo se sente, contemplada”, comemora Ana.

Além de 10 cidades no estado do Rio de Janeiro, a montagem já passou por Belo Horizonte (MG), Passo Fundo (RS), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Salvador (BA). “O espetáculo mantém sua estrutura original, mas ele tem essa coisa linda que só o teatro carrega de acontecer no momento presente, na presença da relação entre ator e público. Então, sinto que a peça muda sempre, porque a resposta e a interação do público é 50% do que faz desse espetáculo o acontecimento que ele é”, finaliza Ana Carbatti.

SERVIÇO:

Temporada: 29 de novembro a 15 de dezembro de 2024

Horário: 6ª feira e sábado, às 20h; Domingo às 19h

Ingressos: R$ 25 (meia-entrada) / R$ 50 (inteira)

Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto

Endereço: Rua Humaitá, 163 - Humaitá - Rio de Janeiro

Tel.: (21) 2535-3846

Classificação Indicativa: 12 anos

Duração: 80 minutos

Instagram: @ninguemsabemeunome_

SOBRE A OFICINA GRATUITA “MEU CORPO: AÇÃO E EMOÇÃO TEATRAL”

No dia 07 de dezembro, de 14h30 às 18h30, a atriz Ana Carbatti conduzirá a oficina “Meu corpo: ação e emoção teatral”, que parte da exploração cênica de experiências físicas e vivências pessoais dos participantes para a construção da cena. Ela será voltada para adultos e jovens a partir de 17 anos, com ou sem experiência teatral. A atividade acontece no próprio Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.

SOBRE A ATRIZ

Nos últimos 30 anos, Ana Carbatti tem trilhado uma carreira de sucesso no teatro, televisão e cinema. Ganhou quatro prêmios de melhor atriz por sua atuação no filme Os Inquilinos. Atuou em mais de 20 novelas e recentemente interpretou a socialite Nanda Mancini na novela Família é Tudo, da TV Globo. No teatro, figurou em mais de 60 produções, destacando-se em Otelo da Mangueira, A Capital Federal e a Divina Comédia.

SOBRE AS DIRETORAS

Inez Viana atua há 38 anos como atriz e há 15 como diretora teatral. Trabalhou com nomes da cena brasileira como Aderbal Freire-Filho, Sérgio Britto, Enrique Diaz, Márcio Abreu, Grace Passô, Danilo Grangheia, Cristina Moura, Denise Stutz, Pedro Kosovski, Georgette Fadel, Newton Moreno, Diogo Liberano, entre outros. Também tem passagens pelo Cinema, TV Globo e Streaming. Em 2010, fundou, junto com nove atrizes e atores, a Cia OmondÉ, que já tem 8 peças montadas, além das 9 que dirigiu fora da companhia. Seus trabalhos em atuação e direção lhe renderam vários Prêmios e indicações, como Shell e APTR.

Isabel Cavalcanti é diretora, atriz e autora. Indicada aos Prêmios Shell, Cesgranrio e Arte Qualidade Brasil. Publicou os livros ‘Eu Que Não Estou Aí Onde Estou: O Teatro de Samuel Beckett’ (7Letras) e ‘Aquele Que Tem Mais O Que Fazer’ (Poesia/ 7Letras). Mestre em Literatura Brasileira (PUC/Rio) e Mestre em Teatro (UNIRIO). Trabalha nas Artes Cênicas há 30 anos e há 3 anos como diretora de cinema. Em cinema, codirigiu o documentário ‘A Última Gravação’, sobre o ator Sergio Britto, exibido na Première do Festival do Rio 2019 e nos Festivais de NY e Miami, além de um curta-metragem de ficção, a ser lançado em 2022.


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