Eliane Brum, jornalista e diretora de redação da SUMAÚMA, foi eleita a "Pensadora do Ano" pela revista britânica Prospect. A publicação a reconheceu como uma das 25 pensadoras mais influentes de 2024. Após votação popular, Eliane Brum ficou em primeiro lugar, sendo a primeira brasileira a receber essa distinção desde a criação do prêmio em 2005, que teve como primeiro vencedor o linguista americano Noam Chomsky.
A Prospect seleciona os Top Thinkers globais com o objetivo de destacar pessoas cujas ideias estão moldando o planeta. Os editores, escritores e colaboradores da revista apresentaram uma lista de 25 pessoas de diversas áreas do mundo, reconhecidas por suas contribuições em temas como clima, economia, liberdade, geopolítica e tecnologia. Eliane Brum foi a mais votada pelo público.
A jornalista, que possui 37 anos de carreira no jornalismo, com 27 deles dedicados à cobertura de pautas socioambientais e à Amazônia, também é a fundadora da Sumaúma, uma plataforma de jornalismo trilíngue focada na região amazônica. Em 2016, após um trabalho em Altamira, no Pará, ela decidiu se mudar para a região, considerada um "epicentro de tudo o que precisamos mudar".
Em suas redes sociais, Eliane Brum expressou sua alegria em ser escolhida como uma das 25 pensadoras mais importantes do mundo pela Prospect, ressaltando que o reconhecimento garante que suas ideias circulem por outros mundos. Ela defende a recentralização do mundo, não apenas a centralidade da Amazônia, mas de todos os biomas e oceanos, e vê esse reconhecimento como um deslocamento de centralidades, colocando outros valores e ideias no centro.
As quatro principais ideias de Eliane Brum, de acordo com SUMAÚMA, podem ser resumidas da seguinte forma:
A linguagem que destrói: a jornalista argumenta que a crise atual é resultado de uma "linguagem" hegemônica eurocêntrica, antropocêntrica, binária, patriarcal, colonialista e branca, que trata a natureza como um recurso a ser explorado. Essa linguagem, segundo ela, ignora as questões de raça, gênero, classe e espécie, perpetuando a destruição da vida.
A linguagem que cria: Para a jornalista, a floresta amazônica é uma teia de interdependência e criação mútua, onde tudo está interligado. Ela defende a necessidade de adotarmos a linguagem dos povos que vivem em harmonia com a natureza, priorizando a interconexão e a criação conjunta.
Negacionismo e imaginação: Eliane Brum critica o negacionismo generalizado que impede as pessoas de agirem diante da emergência climática. Ela propõe que usemos a imaginação como ferramenta política para conceber um mundo pós-capitalista onde a vida seja priorizada, imaginando coletivamente para que esse mundo se torne realidade.
Recentralização do mundo: Eliane Brum defende um deslocamento das noções tradicionais de centro e periferia, colocando os enclaves de resistência da natureza – como a Amazônia e outros biomas – no centro do mundo, em vez dos centros financeiros e políticos que destroem o planeta. Ela também propõe recentralizar as cidades, valorizando as periferias onde as populações criam tecnologias de resistência. Como cita sua plataforma (sumauma.com):
“O centro de São Paulo não é o chamado 'centro expandido', onde estão os bairros dos mais ricos mais Brasilândia, Paraisópolis, Heliópolis etc.; o centro do Rio não é a Zona Sul, mas os complexos do Alemão, da Maré etc.; o centro de Brasília não é o plano-piloto, mas as cidades- satélites. E, de novo, não como retórica. É nesses centros, tachados de 'periferias' onde está a maioria da população, com uma intensa criação de tecnologias de resistência. É preciso fazer a ponte entre esses centros-centros para que seja possível criar presentes.”, define.