O curta-metragem Desova, dirigido por Laís Dantas e produzido pela Quiprocó Filmes, será apresentado em diversas cidades da Alemanha entre os dias 12 e 24 de março, em uma agenda que inclui exibições do filme, debates e encontros institucionais.
A iniciativa é organizada por Misereor, uma organização católica da Alemanha para a cooperação internacional, com o apoio do pesquisador Jan Simon Hutta, da Universidade de Beyruth e organizações de direitos humanos alemães e brasileiras, entre eles a Imbradiva, Médico Internacional, Fundação Heinrich Böll, Centro de Pesquisa e Documentação Chile-América Latina, Comitê Marielle Franco, além do Serviço Europeu de Ação Externa, Aliança Livre Europeia e o responsável pelo Brasil do Ministério Exterior Alemão.
A delegação brasileira será formada por Renata Santos, da Rede de Mães e Familiares de Vítimas de Violência de Estado da Baixada Fluminense; Joseane Martins, do coletivo de mulheres “Filhos nos Braços do Pai”; Gabriel Barbosa, produtor do filme e da Quiprocó Filmes; Adriano de Araujo, Coordenador Executivo do Fórum Grita Baixada e Nalayne Pinto, Pesquisadora do Observatório Fluminense da UFRRJ. O roteiro inclui exibições e encontros em Frankfurt, Dresden, Colônia, Aachen e Bruxelas.
Com uma trajetória premiada, Desova aborda o desaparecimento forçado na Baixada Fluminense e seus impactos sociais e políticos. Durante a viagem, os representantes brasileiros também participarão de encontros com membros do Grupo Parlamentar Alemão-Brasileiro, da Comissão para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, do Serviço Europeu de Ação Externa e do Parlamento Europeu.
"Esta é uma oportunidade essencial para internacionalizar o debate sobre os desaparecimentos forçados e o impacto da violência de Estado no Brasil. Levar a voz das mães e dos movimentos sociais para este espaço fortalece nossa luta por memória, verdade e justiça e reparação. Esperamos que o estado brasileiro reconheça a importância de tipificar o desaparecimento forçado de pessoas, promova criação de programas de atendimento psicossocial para mães e familiares de vítimas de violência de estado, estruture a perícia criminal independente e tenha um cadastro nacional integrado para o registro e a identificação de pessoas desaparecidas", afirma Adriano de Araujo, coordenador do Fórum Grita Baixada.
Joseane Martins, do Coletivo Filhos nos Braços do Pai disse que está com grande expectativa em relação à turnê do filme na Alemanha: "Estou muito ansiosa e espero que o filme cause muito impacto quando for exibido lá. Que eles percebam o quanto nos esforçamos coletivamente na promoção e garantia de direitos e para a criação de projeto de lei que criminalize os desaparecimentos forçados. Queremos que esse filme traga ainda mais visibilidade à causa das Mães Vítimas da Violência de Estado na Baixada Fluminense. E não falo apenas do meu filho. Falo pelos filhos de todas as periferias do país".
O grupo também vai promover debates e intercâmbio de conhecimento com ONGs que trabalham com o tema do desaparecimento forçado, além de reuniões com importantes atores como o Grupo Parlamentar Alemão Brasileiro e a Comissão para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, um encontro no Serviço Europeu de Ação Externa, um almoço no Parlamento Europeu com os deputados Miguel Urban e Mariza Matias, entre diversos outros compromissos oficiais.
As organizações parceiras desta iniciativa incluem a Imbradiva, Médico Internacional, Fundação Heinrich Böll, Centro de Pesquisa e Documentação Chile-América Latina, Comitê Marielle Franco, além do Serviço Europeu de Ação Externa, Aliança Livre Europeia e o responsável pelo Brasil do Ministério Exterior Alemão. A comitiva será formada por Renata Santos e Joseane Martins, da organização “Filhos nos Braços do Pai”; Gabriel Barbosa, produtor do filme e da Quiprocó Filmes; Adriano Araújo, do Fórum Grita Baixada; e Nalayne Pinto, da UFRRJ.
Premiado em diversos festivais, “Desova” expõe o descaso do Estado com o assunto
Filmado na região do KM 32, em Nova Iguaçu, além de localidades próximas, “Desova” apresenta dados alarmantes sobre o desaparecimento forçado, traz depoimentos de mães que se organizaram em coletivos e em grupos de arteterapia para lidar com a dor da ausência, além de depoimentos de pesquisadores e estudiosos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) que desenvolvem pesquisas focadas no assunto.
“Desova” é dirigido por Laís Dantas, cineasta cria da Baixada Fluminense, e teve sua estreia internacional no 12º Festival Internacional de Cine Político - FICIP, em Buenos Aires, em maio de 2023, levando o Prêmio de Melhor Filme na Competição Oficial Internacional de Curtas-metragens.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2022, foram registrados 369.737 desaparecimentos no Brasil, uma média de 203 casos por dia. “Desova” também retrata os impactos que esses desaparecimentos podem causar a longo prazo, não só nas vidas das “mães órfãs”, mas também na própria região.
Filme foi viabilizado graças a emenda parlamentar de 2020 do deputado Marcelo Freixo, conta com o apoio do Fórum Grita Baixada e da Fundação Heinrich Böll
“Desova” foi viabilizado por meio de uma emenda parlamentar de 2020, de autoria do deputado federal Marcelo Freixo, que não só possibilitou a realização do filme, mas também uma bolsa de pesquisa sobre o assunto intitulada “Mapeamento exploratório sobre desaparecidos e desaparecimentos forçados em municípios da Baixada Fluminense”, conduzida por diversos pesquisadores da UFRRJ, e coordenada por José Cláudio Souza Alves e Nalayne Mendonça Pinto.
Sobre o Fórum Grita Baixada
O Fórum Grita Baixada nasceu em 2012, como um espaço de diálogo, formação e incentivo à organização, articulação e mobilização para a busca de soluções da sociedade civil para as problemáticas sociais e de direitos humanos na Baixada Fluminense, especialmente a questão da violência letal que dizima centenas de jovens todos os anos. O Fórum Grita Baixada (FGB) é um movimento social, constituído por uma rede de organizações e pessoas da sociedade civil articuladas em prol de iniciativas voltadas aos direitos humanos, justiça e a uma política de segurança pública cidadã para a Baixada Fluminense.
Sobre o Observatório Fluminense
O OF é um grupo de pesquisa acadêmica formado por professores da UFRRJ, criado em 2015, que tem por objetivo promover, abarcar e fomentar pesquisas sobre as diferentes cidades do Estado do Rio de Janeiro, a fim de participar da produção de um campo de estudos capaz de dar conta das complexidades e heterogeneidades dos territórios fluminenses, suas dinâmicas societárias e seus cenários políticos e culturais. Desta forma, este núcleo tem interesse nas temáticas relacionadas ao campo da cultura política e do pensamento social, da formação de fronteiras, configurações territoriais, gestão de populações, das práticas do estado, da formação de moralidades, da educação, da religião, dos movimentos sociais, das ações coletivas, da violência e dos direitos humanos, dentre outras temáticas.