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Entre a medicina e a poesia: o renascimento criativo de uma médica de Campos

Patologista foi atrás do ofício de poeta durante uma crise existencial

Por Portal Eu, Rio! em 22/04/2025 às 15:42:40
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Foto: Divulgação

Idas e vindas da vida levaram a médica patologista Renata Magliano, 37 anos, a se tornar também escritora. Ainda criança apaixonou-se pela poesia. Mais tarde, o dia a dia atribulado, repleto de desafios pessoais e profissionais, fez com que deixasse um pouco de lado seu amor pela arte das palavras, que, de fato, nunca se apagou totalmente. Sempre em estado de latência, voltou com força total nos últimos anos e culminou no livro “Trinta e cinco pausas”, publicado pela Editora Devir. Nele, por meio dos 140 poemas divididos em quatro partes intituladas “Sentir”; “Sonhar”; “Viver” e “Ressignificar”, a autora reflete sobre a existência, abordando temas como amor, liberdade, recomeços e superação.

Natural de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, Renata nasceu em uma família que lhe incentivou a paixão pela leitura e pela escrita através de seus exemplos. Seu pai, engenheiro, leitor assíduo de livros de não ficção, certamente a instigou a se debruçar sobre livros. As mais fortes inspirações vieram, contudo, de seus avós. “Eles foram os grandes responsáveis pelo meu primeiro contato mais íntimo com a escrita e com a poesia”, diz. João, seu avô paterno, era poeta. Renata conta que ele gostava de reunir a família para declamar poemas de amor que dedicava a sua esposa (avó materna) ao som de variados instrumentos musicais, que ele gostava de “arranhar”.

Mas foi a avó paterna - que se interessava por ler livros espíritas e exercitar o ditado com a neta - que apresentou à médica patologista a poesia, que lhe marcou a alma. “Certo dia, ela, que costumava me presentear com exemplares de livros relacionados à religião que seguia, me deu uma obra chamada 'Os Mais Belos Sonetos Brasileiros'”, recorda-se. A partir daí, Renata, que já gostava de ler, descobriu o universo dos poemas e tornou-se ávida leitora desse texto literário, aventurando-se até a compor seus próprios poemas.

O pendor por uma atividade mais introspectiva moldou os interesses da médica na infância e adolescência. Ela se recorda de sentir-se bem de estar entre amigas, praticando as brincadeiras comuns dessa fase da vida: pique-esconde, pega-pega, etc. “Eu gostava de um pouco de tudo, menos de brincar de Barbie”, conta. No entanto, o que realmente brilhava seus olhos era estudar e escrever poemas. “Eu gostava do ambiente da escola, sentia prazer em fazer os deveres de casa e estava sempre ‘rabiscando' uns versinhos no cantinho do caderno”, conta.

A paixão pela escrita também quase selou os rumos da vida adulta de Renata. Influenciada por esse gosto, chegou a cursar jornalismo, abandonando a faculdade antes de se formar. “Aos 17 anos, achei o conteúdo apresentado pelos professores muito abstrato, subjetivo e não consegui me encontrar”, relata. Por isso desistiu, não sem antes arranjar um trabalho na área, para dirimir de uma vez todas as suas dúvidas. E foi nesse estágio, em que por vezes entrevistava profissionais da medicina, que a escritora coincidentemente conheceu mais a fundo a carreira que iria seguir no futuro.

Renata não tinha nenhuma referência na família que praticasse medicina e na época das entrevistas não se interessou particularmente pela profissão. Mas, estimulada pela irmã mais velha, que via nela uma pessoa afeita aos estudos, resolveu prestar vestibular na área e passou. “E fui muito feliz na escolha, porque me identifiquei de imediato com o curso”, diz. Na faculdade, por dois anos, ela continuou exercitando a escrita que lhe é tão cara, atuando como editora do jornal acadêmico, mas com o tempo e com os afazeres da profissão se acumulando, passou para outra estudante a coordenação do periódico. Aos poucos foi se distanciando da redação de textos.

Em 2019, já formada, com especialização em patologia, cursando mestrado e trabalhando em laboratórios de Campos dos Goytacazes, Renata começou a enfrentar uma crise existencial: se via insatisfeita em sua vida profissional e pessoal, e apresentava uma crônica insatisfação com sua cidade natal. “Diante dessas questões, comecei a me questionar sobre o que eu gostava de fazer para além da medicina e concluí que era a poesia. Decidi, então, retomar minha produção”, recorda.

No final de 2019, abriu uma conta em uma rede social e começou a postar quase diariamente poemas de sua lavra. “A repercussão foi ótima: em um ano, já tinha 50 mil seguidores. Dei entrevista em um jornal local e ganhei fãs, alguns dos quais chegaram a tatuar meus poemas”, conta. Diante do sucesso, passou a ser questionada sobre quando publicaria um livro, esquivando-se de uma resposta, já que se debatia com dilemas advindos da síndrome de impostora. Em 2020, mais uma reviravolta. Após o término de um relacionamento e um novo convite de trabalho, mudou-se para São Paulo e foi atuar em uma das maiores redes de laboratórios do país. Veio a pandemia e o sonho da publicação de um livro foi postergado.


A produção literária fez com que Renata conhecesse outros escritores, que acabavam a chamando para saraus literários. Foi num desses eventos, em 2023, que ela conheceu o editor da Devir, que naquele momento estava começando. “Ele gostou muito da minha escrita e me convidou para publicar. Eu gostei do trabalho que ele desenvolvia e achei que havia chegado a hora de arriscar”, relata. O livro, que já estava sendo escrito, em pouco tempo ficou pronto para ser publicado. A escritora fez uma mescla de poemas inéditos e de poemas publicados anteriormente em sua rede social. Diante da boa recepção e do prazer que sentiu na elaboração do livro "Trinta e Cinco Pausas", Renata projeta mais três obras: um romance (ainda muito embrionário); outro livro de poemas; e um diálogo poético, contendo textos de seu avô.

Durante muito tempo, Renata teve receio de 'misturar' os dois papéis que resolveu desempenhar: o de médica e o de poeta. Agora, depois de publicada, não mais. Ela, inclusive, na época da pré-venda, comunicou em uma lista formada por médicos da rede de laboratórios, que havia publicado um livro. Foi nesse momento que ficou sabendo da existência do movimento Médicos Poetas, do qual hoje é embaixadora. Renata conta que procura não ficar falando do assunto nas suas horas de trabalho. “Não quero que ninguém pense que eu estou lendo poesia quando deveria estar estudando um artigo científico”, brinca.

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