Uma milícia atua há ao menos 12 anos nas comunidades Praia de Ramos e Roquete Pinto, que integram o Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio.
O grupo age quase em silêncio sem despertar a atenção da opinião pública. Há muito tempo não há operações policiais para reprimir a quadrilha, nem ameaças de traficantes de duas facções criminosas que também agem no conjunto de comunidades. A região é conhecida por abrigar a área de lazer Piscinão de Ramos.
Os milicianos cobram taxas de segurança do comércio e de esgoto, detém o monopólio da venda de botijões de gás e galões de água e exploram a agiotagem. Há denúncias que exigem dinheiro até de pescadores e que ocupem imóveis vazios.
Outras localidades dominadas por esse grupo são a Borgauto e Chaparral, que ficam nas imediações.
Regras
Recentemente, surgiram informações de que os paramilitares teriam imposto uma regra para moradores que curtem bailes fora das comunidades.
Segundo a denúncia, quem for para baile em favelas dominadas por facções do tráfico, é aconselhado nem voltar para Ramos. Será expulso da comunidade com a roupa do corpo, sem direito a levar nada.
Homicídio
Três milicianos respondem na Justiça um processo acusados de matar um jovem no ano de 2014 com requintes de crueldade. O rapaz foi morto porque teria urinado em local impróprio, o que irritou os paramilitares. A vítima foi espancada e os criminosos jogaram o corpo na pista da Avenida Brasil para ser atropelado. Morreu no hospital em consequência dos ferimentos.
Apontado como chefe do grupo, Lenílson Roque Gonçalves, o Biliu, e Paulo Roberto da Silva Souza, o Paulinho Gaiola, têm recompensas pedidas pelo Disque-Denúncia no valor de R$ 1 mil. Os dois são acusados de envolvimento no homicídio do rapaz em 2014.
Acordo com policiais
No início desta década, policiais militares e civis foram acusados de integrar a milícia na Roquete Pinto e Praia de Ramos.
Alguns dos atuais paramilitares que dominam as comunidades, como Biliu e Paulinho Gaiola, responderam também a outro processo, de 2010, acusados de crimes, foram condenados.
Segundo o processo, os atuais milicianos eram traficantes ligados à facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) e perderam as duas favelas para os rivais do Terceiro Comando Puro (TCP). Eles, então, se aliaram a policiais, tomaram as comunidades do TCP e implantaram a milícia no final de 2006. Biliu e Gaiola recebiam dos agentes a ordem para matar sem deixar pistas.
Os autos registram que, quando os paramilitares se instalaram, os moradores passaram a pagar uma taxa de condomínio de R$ 25,00 ou R$ 50,00, cujo não pagamento implicava na perda da casa.
Motoristas de caminhões de cerveja que abasteceriam bailes funks tinham que pagar de R$ R$ 2.000,00 ou R$ 2.500,00 para descarregar. Os postos de gasolina também pagavam uma taxa para a milícia, assim como os ambulantes do entorno do Piscinão e os restaurantes.
Os paramilitares ganhavam dinheiro ainda com a cobrança pelo uso do campo de futebol, pelo estacionamento e até mesmo de firmas grandes, que para se estabelecerem, dependiam do pagamento de uma taxa.
Procurada pelo Portal Eu Rio, a Polícia Civil informou que de acordo com a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (DRACO-IE) , a investigação sobre essa milícia corre sob sigilo.