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Saiba como João Gilberto ajudou um escritor a se reconciliar com o pai

História relatada no livro "O Réu e o Rei" conta como Paulo César de Araújo voltou a procurar o pai depois de 13 anos sem se falarem

Por Gabriel Gontijo em 14/07/2019 às 16:33:16

Foto: Reprodução/TV Bandeirantes

Falecido há pouco mais de uma semana, o cantor João Gilberto deixou um legado incomparável para a música brasileira e internacional. Ao mesmo tempo, seu comportamento peculiar rendeu-lhe uma característica única.

Apesar de passar os últimos anos recluso e pouco aparecer publicamente, o baiano radicado há décadas na cidade do Rio de Janeiro teve amizades leais. E uma história envolvendo o pai da Bossa Nova até hoje só é conhecida no livro "O Réu e o Rei", de Paulo César de Araújo, o biógrafo de Roberto Carlos.

O ano era 1993. O então estagiário de jornalismo da Rádio Jornal do Brasil AM começou a pesquisar sobre o músico de Cachoeiro de Itapemirim (ES), mas de forma informal. Ainda não pensava em escrever um livro.

Paulo conseguiu o contato de João Gilberto e quando teve sua ligação atendida pelo baiano descobriu um lado afetuoso do cantor que o surpreendeu. O autor de "Roberto Carlos em Detalhes" relembrou ao "Portal Eu, Rio!" alguns momentos desse papo.

A primeira conversa e a carta para o pai

"Na época eu fazia uma pesquisa geral sobre a música brasileira e não imaginava qual seria o resultado. Nesse período, com exceção do Roberto, todos eram muito receptivos. Mas era aquele contato por causa de uma entrevista. Não existia muita proximidade. Quem me deu o telefone do João foi um xará dele, o João Máximo. Só que ele me alertou pra não criar muita expectativa, pois era certo que eu não seria atendido. Mas aquilo me deu mais gás. Daí quando o João Gilberto me atendeu, inicialmente ele alegou que estava ocupado. Eu pedi desculpas e quando ia desligar ele me perguntou se eu era baiano. Como saí muito cedo da Bahia e morei em São Paulo antes de vir ao Rio, até hoje muita gente pergunta se eu sou mineiro. Creio que é porque eu sou do sul estado. Mas o ouvido absoluto dele percebeu e conversamos por quase uma hora", relembra Paulo César, que nasceu em Vitória da Conquista.

O escritor conta que João começou a perguntar sobre a história de vida de Paulo César e da família até chegar em um tema incômodo para o jornalista. Falar sobre o pai. Ele recorda que estava há 13 anos sem falar com pai, desde que ele se separou. O cantor dizia que era um "absurdo" o então estagiário não procurá-lo e nem saber sobre a família paterna. Foi aí que Paulo foi convencido a restabelecer os laços familiares com ele.

"Ele falava para não ter ressentimento, que o mais importante era o amor. Ele até citou que já teve problemas com um dos filhos, o João Marcelo, mas que voltaram a se falar porque se amavam. Depois terminei a ligação, respirei fundo e senti que realmente tinha que fazer isso. Nunca ninguém tinha me dito aquilo. E o João Gilberto me convenceu. No dia seguinte escrevi uma carta", disse o escritor.

A carta chegou, por coincidência, na semana do aniversário de 90 anos de sua avó paterna e, de acordo com Paulo, ela relatou que esse foi o "presente mais feliz" que recebeu, pois a carta foi lida pelo pai durante uma festa organizada pela Primeira Igreja Batista de Vitória da Conquista.

Contatos telefônicos até 2000

"O Réu e o Rei" aborda outros contatos entre João e Paulo, sendo a maioria feita por telefone. O biógrafo de Roberto Carlos conta que desde meados dos anos 2000 não conseguia falar mais com o pai da Bossa Nova. Ao mesmo tempo, sentiu-se "entristecido" com a aparência "mais frágil" do cantor, que teve suas últimas fotos divulgadas em imagens postadas nas redes sociais por Bebel Gilberto.

Legado na música mundial

Para Paulo César, João deixou um grande legado para a música mundial ao criar um som inigualável e por ser o último grande cantor vivo a apresentar algo inédito.

"Ele apresentou ao mundo algo que até então não existia, uma sonoridade chamada Bossa Nova. E isso influenciou na forma de cantar e até outros ritmos, como o jazz. Se imaginarmos os gênios da música mundial, como Miles Davis, Louis Armstrong, João Gilberto foi o último deles a morrer", afirmou Paulo César.

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