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Você está pronto para envelhecer de verdade?

Nos últimos dias, o "Faceapp" instigou a curiosidade dos internautas e viralizou o envelhecimento virtual

Por Jonas Feliciano em 15/07/2019 às 21:49:33

Adriana Sancas / Imagem: Arquivo pessoal

Desde o último fim de semana, as timelines do Facebook e do Instagram foram invadidas por centenas de velhinhos. O mais curioso é que o motivo da enxurrada de imagens com pessoas mais velhas não estava ligada a nenhuma data especial ou a uma homenagem a terceira idade. Na verdade, os usuários apenas se divertiram usando uma das funções do aplicativo "FaceApp". A plataforma é um editor de fotos que, entre inúmeras funções, consegue envelhecer com bastante realismo as fotografias de quem deseja simular o futuro.

Muitos famosos e anônimos aderiram à brincadeira. Tanto que a mobilização chegou a ser um dos assuntos mais comentados no Twitter. De alguma forma, a curiosidade em ser mais velho por um instante consegue despertar um certo fascínio. Mas afinal, o que uma simples aventura virtual pode revelar sobre a relação das pessoas com a velhice? Será realmente que todo mundo quer ou está pronto para envelhecer um dia?

A digital influencer Adriana Sancas, 40, experimentou o app. Ela contou que sempre foi muito vaidosa e que já se submeteu a procedimentos estéticos para amenizar os sinais do tempo. Porém, também teve curiosidade em saber como ficaria.

"Eu sou extremamente vaidosa e, desde a adolescência, sempre trabalhei com a minha imagem. Cuido muito da parte estética porque uma ruguinha aqui ou ali me incomoda demais. Além disso, sou bem preocupada com a velhice. Embora achem que não aparento meus 40 anos, eu já cheguei nesta casa. Como muita gente, acabei ficando curiosa em saber como ficaria no faceapp. Apesar da imagem não informar a idade exata, confesso que fiquei assustada com o resultado. Mas se eu chegar até lá, vou ter que me conformar, pois é daquele jeito que devo ficar. Mesmo com todos os procedimentos, uma hora não vai ser diferente", comentou Adriana.

A influencer ainda ressaltou que seus receios com a terceira idade vão além da beleza. Para Adriana, a velhice acaba trazendo outros medos como a morte e as doenças crônicas. Por isso, segundo ela, cuidar da saúde deve ser outro fator primordial quando ainda se é jovem.

Natália Nascimento e o marido também experimentaram a brincadeira / Imagem: arquivo pessoal

A esteticista carioca, Natália Nascimento, reafirmou a busca pelos procedimentos estéticos por uma significativa parcela da população. Natália disse que a procura abrange ambos os sexos, bem como, diferentes faixas etárias.

"Atualmente, o rejuvenescimento é o principal atrativo. As pessoas querem até envelhecer, mas também querem se sentir saudáveis e com uma aparência jovem. Por tal motivo, o botox e outros tipos de tratamento são os mais realizados do mercado. O botox, por exemplo, paralisa a musculatura. Assim, é possível retardar o envelhecimento de áreas da testa e da região dos olhos. O colágeno e peeling são outros muitos solicitados. Afinal, todos devem envelhecer, mas não desejam mostrar que estão envelhecendo", revelou Natália.

"Envelhecer é um processo e no meio do caminho as escolhas irão definir a melhor idade"

A médica Roberta França é pós-graduada em geriatria e gerontologia, além de graduanda em psiquiatria. De acordo com a especialista, é preciso parar com a ideia que a terceira idade começa a partir dos 60 anos.

"Hoje, nós geriatras, não mais trabalhamos com a idade cronológica e sim com a funcional. Isso porque, é possível encontrarmos pessoas com 40 ou 50 anos que já possuem múltiplas patologias e tem a saúde extremamente comprometida. Assim como, temos pessoas com 80 e 90 anos gozando de uma saúde exemplar. Desse modo, a saúde está relacionada a maneira como cada um encara a vida e a idade, sem brigar ou negar a sua faixa etária", ressaltou a médica.

Roberta ainda relembrou que durante a vida haverão momentos mais fáceis ou difíceis. Entretanto, tudo é um processo de adaptação.

"Se o indivíduo se adapta bem a sua idade, ele vai conseguir lidar com todas as situações de uma forma melhor. Porém, se a pessoa acha que está velha, acabada, cheia de rugas e isso acaba limitando as suas perspectivas, provavelmente, ela terá uma velhice muito ruim. Ao contrário de alguém que encara os seus cabelos brancos como um símbolo de experiência e de mais uma etapa da vida", destacou.

A geriatra também comentou que as doenças mais comuns da terceira idade ainda são a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, o hipotireoidismo, o excesso de colesterol e a osteoporose. Ela relacionou à prevenção dessas patologias aos hábitos do cotidiano.

"A prevenção das doenças tem muito haver com o que nós escolhemos ao longo das nossas vidas. Por isso, sempre digo aos meus pacientes que ninguém dorme com 20 e acorda com 70 anos. Envelhecer é um processo e no meio do caminho as escolhas irão definir a melhor idade que teremos ou não. Se eu como mal, durmo mal, bebo ou fumo, não posso chegar na terceira idade com saúde e qualidade de vida. Portanto, os cuidados começam lá atrás e são um reflexo positivo no processo de envelhescência", sugeriu a especialista.

Ela ainda explicou que as doenças não são uma especificidade da velhice. Logo, envelhecer não seria um sinônimo de adoecer, mas sim uma etapa natural da vida como a infância e a adolescência.

"Podemos viver com 70, 80 ou 90 anos e conviver com possíveis patologias adquiridas e sob controle. Sempre pensando nas escolhas de hoje e em como elas poderão ser refletidas amanhã. O segredo é sempre se perguntar sobre isso. O que estou fazendo por mim? Quando pensamos assim, abraçamos a responsabilidade sobre a nossa saúde".

Nutrição e saúde

Os nutricionistas Lucas Nonato e Rodrigo Stocco, da clínica Nutrição & Saúde X, alertam que, na terceira idade, todo o cuidado relacionado à alimentação é necessário, desde o ambiente em que o idoso realiza as refeições até a montagem do prato.

Os cuidados básicos e necessários são as consistências dos alimentos. Às vezes, os mais velhos não comem. Isso pode acontecer não apenas pela ausência de apetite, mas devido alguma dificuldade ao mastigar ou ingerir os alimentos.

"É extremamente importante observar tais fatores e a combinação dos alimentos, explorando as suas funcionalidades e personalizando o prato de acordo com as necessidades do idoso", sugeriu Lucas Nonato.

Para Rodrigo Stocco, a idade não é um obstáculo quando o assunto é a alimentação. Ele acredita que dá para comer bem e sem restrições exageradas.

"O importante é equilibrar a alimentação ao ponto de você estar suprindo as necessidades e não se sentir tentado a comer besteiras em excesso", informou Rodrigo.

Além disso, a dupla de nutricionistas já constatou nos seus atendimentos que em diversos pacientes idosos a implementação de uma alimentação saudável melhora a aparência e proporciona notáveis resultados.

"A ausência de algumas vitaminas e minerais causam, ao longo do tempo, uma piora em cabelos, unhas e aparência da pele. Nós podemos perceber isso a olho nu, assim como devemos direcionar a alimentação para um amenização do envelhecimento estético", avisou Lucas.

Vale destacar que, em maio deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que houve um crescimento de 26% na população com 65 anos. O índice verificado corresponde ao período entre 2012 e 2018. A pesquisa "Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2018" também constatou que a população com até 13 anos diminuiu 6%. Isso significa que os brasileiros estão envelhecendo. Entre os 207,8 milhões de brasileiros que vivem no país, 10,5% tem 65 ou mais. Isso quer dizer que 21,872 milhões são idosos.

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