Rock and roll. Estilo musical que teve seu auge midiático nos anos 80 e 90 aqui no país, mas que nos últimos tempos tem perdido cada vez mais espaço no chamado mainstream, que prioriza artistas de outros ritmos. Mesmo assim, o bom e velho rock n" roll segue vivo no cenário underground carioca.
"É claro que o rock não está mais sob os holofotes, isso tem um lado ruim porque acaba que a música da gente não chega a todo mundo, mas ela chega a uma parcela do público que é muito antenado e tá sempre por dentro das coisas", afirma Marcelo Hayena, vocalista da banda Uns e Outros, que ficou nacionalmente conhecida em 1989 com clássico "Cartas aos Missionários".
Ele afirma que mesmo depois de tanto tempo a recepção da banda ainda é muito boa. "Ano passado a gente lançou uma música nova, 'Pra Esquecer de Você', ela tocou muito bem nas rádios e o clipe teve muitas visualizações. O público está sempre sendo atualizado, a música do Uns e Outros está sempre passando de geração em geração então tem sempre muita galera nova no show", explica ele que revelou em primeira mão ao portal Eu, Rio que o grupo está em estúdio gravando um álbum acústico, algo que segundo ele era muito cobrado pelos fãs.
Marcelo afirma ainda que o rock estar fora dos holofotes tem também suas vantagens. "Você fica livre da obrigação de apresentar um trabalho periodicamente e pode lançar ele da maneira que você quiser, da forma que você quiser, sem nenhuma preocupação de mercado, então as coisas tendem a ficar muito mais verdadeiras".
Ele garantiu ter sim motivos para comemorar sobre ter motivos o Dia Mundial do Rock, celebrado nesta sexta-feira, dia 13 de julho. "Nós do Uns e Outros vamos comemorar em cima do palco, estamos indo para Taubaté. Acho que a gente tem muito que comemorar e eu indico para a galera que gosta de um bom rock n' roll, uma boa letra e uma boa melodia, uma banda do Rio chamada Canto Cego. Essa banda é um dos motivos que a gente tem pra comemorar, uma ótima banda, a menina canta muito bem, os caras tocam muito bem também. Eles abriram um show da gente recentemente no Suburbio Alternativo e foi uma grata surpresa. Acho que vocês vão gostar", indicou o vocalista.
Sem o mesmo lastro de fama que o Uns e Outros, mas com a mesma gana de fazer rock e entreter o público, o músico Marcelo Pinguim intercala sua carreira artística com a de jornalista e a de historiador recentemente formado.
"Tem muita gente falando que o rock morreu, mas essas pessoas precisam de atualizar. Claro que Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, etc, sempre serão referência por gerações, mas tem muita coisa nova por aí com uma sonoridade massa. Trazendo isso para o Brasil, tem muito artista fazendo misturas inteligentes de rock com samba, com forró, com frevo, coisas bem legais com uma sonoridade distinta. Gosto muito dele, mesmo, mas não dá para ficar gritando "toca Raul" para o resto da vida", afirma ele que ainda faz um balanço da cena. "Ela não está como todos gostaríamos que fosse. Mas recentemente o surgimento de diversos pubs e bares temáticos voltados para o rock tem ampliado os espaços para quem curte o estilo e, claro, tem aberto espaços para os artistas se apresentarem. Com isso quem frequenta esses locais, seja no Rio ou em Niterói, tem encontrado diversas bandas e artistas com trabalhos muito bons, com músicos e músicas de qualidade", avalia ele que se apresentará no próximo dia 21 no aniversário de dois anos do Coletivo Ponte Cultural às 17h em Itaboraí com entrada franca.
O jornalista e historiador Marcelo Pinguim se aventura no rock há quase 20 anos. Foto: Divulgação
A cena vive através de pubs, coletivos musicais e web rádios
Um desses espaços citados por Pinguim é o Saloom 79 em Botafogo na Zona Sul do Rio, administrado por Ricardo Abrahin. Ele tem uma relação de longa data com o estilo, cresceu ouvindo Jerry Lee Lewis, Bill Haley and His Comets, Elvis, Little Richard, entre outros, através de seu pai.
"Eu ouvia "Great Balls of Fire" em looping com uns cinco anos de idade fingindo estar tocando piano na penteadeira do quarto da minha mãe. Ainda adolescente entrei para minha primeira banda e nunca mais saí do palco. Rock vai além da música. É aquela elevação onde que você esquece de tudo quando entra aquele puta riff, um solo que marca, a voz rasgada. É um estado de espírito", revela ele que também é vocalista da Tarantino Soundtracks.
Ricardo oferece além de shows, sinuca e karaokê no Saloon 79. Foto: Divulgação
Ele afirma que é gratificante administrar um lugar como o Saloon 79.
"A gente sempre tenta equilibrar covers com autorais independentes para que tenha espaço para todos e ainda seja economicamente viável. É muito bom ver bandas novas, com uma garotada faminta de som mostrando ao que veio. Posso citar algumas que fizeram shows sensacionais no Saloon 79 nesse ano, como Rats, João Bonfá & Mambo Brothers, Nove Zero Nove, Apoema e Little Room. Recebemos também bandas de fora do Brasil e fora do Rio que, apesar de pouco público, fizeram apresentações memoráveis. Nessas horas a gente esquece todos perrengues e naquele momento, com eles no palco quebrando a porra toda, absolutamente todo esforço passa a valer a pena", garante.
Outro reduto onde o rock se faz muito presente também é no Rock N"Beer no bairro da Parada 40 em São Gonçalo. "O bar surgiu pela falta de estrutura de outros locais de rock. Eu sou musico e toquei em varias casas durante quase 15 anos. Além disso, eu também produzia eventos nos mesmos locais em que tocava e via que sempre falta algo. O som era ruim ou sem alimentação no local ou então a cerveja quente. Dai quando apareceu uma pessoa me arrendando um local eu aceitei e criei esse conceito de bar que vem dando certo", afirma o proprietário Markus Roza.
O local completou dois anos recentemente e eles serão devidamente comemorados com um evento no próximo dia 22 às 16h, que contará com a ilustre presença de Jimmy London, vocalista do Matanza. "Sobre a cena eu vejo que aos poucos o rock vai retomando seu lugar. Existem vários pubs hoje em dia que tocam só rock de um tempo pra cá. As casas de show que faziam rock foram minguando pela falta de frequentadores. Quando os pubs pegaram no Rio, o publico mesmo pequeno voltou a frequentar", analisa ele que ainda credita essa baixa a falta de segurança e as redes sociais. "Eu acredito que como o rock nunca vai morrer, sempre haverá motivo para comemorar."
Quem também acredita nisso é o cantor Velho Oliveira. "Acredito que atual cena do estado tenha grandes bandas, mas tenho pouco conhecimento do que está rolando em outras regiões do Rio de Janeiro, Posso falar com mais propriedade sobre a cena que está rolando no Leste fluminense. Em São Gonçalo, por exemplo, na atualidade existem alguns coletivos de rock, como o Encontro Acústico Autoral, M.I.G - Movimento Independente Garagem, Rock Metropolitano, Rock na Pista entre outros, que estão movimentando a cena", analisa.
Ele também fala que a cena é forte em outras cidades como Itaboraí. "Várias bandas autorais se apresentam principalmente no Bar do Beco e no Pub Fiction of Rock entre outros pontos da cidade. Em Maricá, os moto-clubes e alguns bares puxam a onda rock na cidade, já em Niterói rola alguns eventos de Rock no Bar do Renato, Caverna"s Bar e no Convés no bairro de São Domingos (Praça da Cantareira), existem também alguns bares Rock n" Roll na região oceânica da cidade como o Easy Rider em Itaipú", afirma.
Por fim ele ainda faz questão de citar outras formas de propagação do som, as web rádios" Elas colaboram de forma extraordinária com a divulgação do rock das cidades citadas e de outras partes do país como Web Rádio Studio Galpão, a web rádio M.T.N.P - Música tá na pista, web rádio Trilogia com o programa Essência do Rock e web rádio Araribóia Rock News", enumera Velho que neste sábado (14) comandará a 14º edição do Encontro Acústico Autoral no Pub Fiction of Rock no centro de Itaboraí.
A Web Rádio Studio Galpão, citada acima pelo cantor é o formato atual de um projeto que nasceu há 16 anos quando o ainda adolescente Gabriel Telésforo ensaiava com a sua a sua primeira banda. "O Studio surgiu em 2002 de uma necessidade de deixar meus pais em paz, já que a banda que tinha com meus primos ensaiava no meio da sala de casa (risos)", revela ele bem humorado lembrando de sua primeira banda que tinha o sugestivo nome de The Telésforos onde era baterista.
Gabriel toca há 16 anos o Studio Galpão criado nos fundos de sua casa. Foto: Divulgação
Depois não apenas a sua banda, mas as de amigos também começaram a ensaiar nesse novo espaço que fica aos fundos de sua casa no Barreto na Zona Norte de Niterói. Gabriel se aprimorou, fazendo cursos para aprender a gravar profissionalmente. Depois de produzir seus próprios álbuns e de amigos, ele acabou transformando o Studio Galpão em um selo, gravando e dando oportunidades para diversos artistas iniciantes, assim como a já citada web rádio. "Antes pra lançar em cd era caro, mas agora com as plataformas digitais ficou muito mais viável com a facilidade de ter sua música nos celulares de todo mundo", explica ele que avalia as agruras do cenário. "Temos grandes bandas fazendo trabalhos muito bons, mas estamos sempre com dificuldade de ter um palco pra música autoral. O mais complicado é que muitos artistas não conseguem viver só da música e tem q trabalhar em outras coisas, isso sempre dificulta as bandas, coisas como bater horário de ensaio, shows etc", avalia Gabriel que também integra o Encontro Acústico Autoral com Velho Oliveira e Helton Alves