Após declaração do presidente Jair Bolsonaro na manhã desta segunda-feira (29), o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, declarou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir explicações sobre o que ele sabe sobre a morte de seu pai, Fernando Santa Cruz, em 1974 durante a Ditadura Militar.
"Quero saber do presidente o que ele efetivamente sabe, se ele soube nos porões da ditadura, o que é muito grave, porque ele diz que soube à época quando era militar, então ele reconhece relação com os porões da ditadura. Vou ao Supremo Tribunal Federal pedir, interpelar o presidente para que ele esclareça isso”, disse o presidente da OAB em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo.
Entenda o caso
Na manhã desta segunda, em uma coletiva de imprensa, Bolsonaro disse que se Felipe quiser saber como o pai dele desapareceu no “período militar”, contaria. “Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”, declarou o presidente enquanto comentava o desfecho do processo judicial que considerou Adélio Bispo isento de pena, devido a doença mental, no caso da facada que levou durante a campanha eleitoral.
“Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar às conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco, e veio a desaparecer no Rio de Janeiro”, completou em seguida.
Bolsonaro atacou o presidente da OAB, após criticar atuação da entidade no caso. Já que segundo ele, a ordem teria impedido o acesso da Polícia Federal ao telefone de um dos advogados de Adélio.
Repúdio
A OAB logo em seguida publicou uma nota de repúdio as declarações do presidente, onde afirma que todas as autoridades do país devem "obediência à Constituição Federal", que tem entre seus fundamentos "a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos".
Em outro trecho, lembrou que o cargo de presidente exige equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, "sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos". Por último, a diretoria da OAB manifestou solidariedade não só à família do presidente da entidade, mas também a "todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos" no país.
Já na tarde desta segunda, Bolsonaro voltou a falar sobre o tema, através das redes sociais ele falou que Fernando Santa Cruz não foi morto pelos militares e sim por uma organização de esquerda chamada Ação Popular do Rio de Janeiro, que segundo ele seria um “grupo terrorista”.
Comissão da verdade
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade, o pai do presidente da OAB “preso e morto por agentes do Estado brasileiro” em 1974 e "permanece desaparecido, sem que os seus restos mortais tenham sido entregues à sua família".
Em depoimento a mesma comissão em 2014, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS-ES), Claudio Guerra, afirmou que o corpo de Fernando Santa Cruz Oliveira foi incinerado na Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes no norte do estado do Rio.