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Theatro Municipal do Rio de Janeiro: 109 anos de história, resistência e de amor à arte

Para celebrar a data, o teatro abrirá portas para o público e oferecerá uma programação gratuita neste sábado

Por Jonas Feliciano em 14/07/2018 às 10:57:44

Theatro Municipal celebra 109 anos de magia e grandes espetáculos (Foto: Cláudia Martini)

Hoje, sábado, 14, um dos principais teatros do país e da América do Sul completa 109 anos. Considerado uma das 7 maravilhas do Rio, o Theatro Municipal vai abrir as suas portas para receber o grande público que poderá aproveitar uma programação com inúmeras apresentações ao longo do dia.

Tradicionalmente, essa é uma cerimônia que acontece todos os anos. Dessa vez, os portões serão abertos a partir das 14 horas com um espetáculo da Escola de Dança Maria Olenewa, seguidos pelo Coro do Municipal e também do Quarteto Atlas. Às 20 horas, haverá a grande exibição dos Corpos Artísticos do Theatro Municipal.

A bailarina e diretora artística do ballet, Ana Botafogo, vai participar da festa e compartilhou a sua expectativa para o evento.

"Já é uma tradição abrirmos as portas do Municipal com vários espetáculos para celebrar a data. Este ano o ballet, o coro e a orquestra se apresentarão à noite com "Ode à alegria" do 4° Movimento da 9° Sinfonia de Bethoven. Além disso, preparamos o espetáculo Raymonda e vamos ter a oportunidade de mostrar todos os nossos bailarinos e solistas", adiantou.

Ana Botafogo é diretora artística do ballet (Foto: Cláudia Martini)


Ana ainda falou sobre algumas dificuldades enfrentadas nos últimos anos e da luta dos funcionários para manter a programação da casa.

"Em 2015 e 2016, quando me tornei diretora do ballet, nós tivemos temporadas excelentes. Já 2017, foi um período muito difícil, pois todos os funcionários, e somos mais de 500, ficaram sem salários. Logo, a crise se abateu no pessoal. Agora, já voltamos a receber e a nossa luta está focada numa continuidade da programação", contou a bailarina.

Um século de imponência e grandes espetáculos

Inaugurado no dia 14 de julho de 1909, o Theatro Municipal é uma das mais belas e imponentes construções da cidade do Rio de Janeiro. A sua história é parte da evolução cultural do Brasil e o seu palco já recebeu grandes nomes da música e da dança brasileira e internacional.

Idealizado durante o governo do prefeito Pereira Passos, a escolha do projeto foi realizada a partir de um concurso arquitetônico. Ao final das inscrições, duas propostas ficaram empatadas: o projeto Aquilla, do engenheiro Francisco de Oliveira Passos e o Isadora, do arquiteto francês Albert Guilbert.

Curiosamente, o Aquilla era de autoria do filho do prefeito. Na época, isso causou uma grande polêmica na Câmara Municipal, mas a obra final acabou sendo uma junção dos desenhos premiados. Ambos, inspirados na ?"pera de Paris.

Depois de 4 anos e meio, contando com a colaboração de 280 operários e grandes artesãos europeus, o prédio ficou pronto e iniciou as suas atividades sendo inaugurado pelo presidente Nilo Peçanha e o prefeito Souza Aguiar. Inicialmente, recebia companhias europeias, mas a partir da década de 30 passou a contar com o seu próprio corpo de artistas.

Ao longo dos 100 anos, o Theatro Municipal passou por 4 reformas. A última aconteceu em 2008 e custou cerca de R$ 65 milhões. Nela, foram instaladas 57 toneladas de cobre e 219 mil folhas de ouro. Hoje, com as instalações mais modernizadas e restauradas, a capacidade do local é de 2.252 lugares.

Entre os grandes nomes que já se apresentaram no Municipal estão Villa-Lobos, Maria Callas, Bidu Sayão e o ex-presidente americano Barack Obama.

Música, dança e resistência

O corpo artístico do Theatro Municipal é composto pela Orquestra Sinfônica, pelo Coro e também o ballet. O local é o maior teatro de óperas da América Latina e tem uma grande importância histórica e social para o Brasil.

Nas décadas de 40 e 50, a Orquestra Sinfônica Municipal recebeu os principais músicos e solistas internacionais. A companhia de ballet é a única do país que faz grandes repertórios clássicos, além de remontar espetáculos que são encenados no mundo inteiro.

Em dezembro de 2015, pela primeira vez, os funcionários tiveram seus salários atrasados. O violinista Ayran Nicodemo contou que nos últimos dois anos a situação ficou ainda mais complicada.

"Primeiro houve um atraso nos dias de pagamento, mas em seguida o estado não cumpriu o seu compromisso. Ficamos sem salário por 4 meses e também sem o 13°. Ainda assim, não aceitamos ficar em casa. Nós fizemos questão de vir para o teatro e abrir as portas para receber a população, pois é o que faz sentido para gente. Defendemos essa casa a qualquer custo e decidimos resistir aos ataques que a cultura vem sofrendo nesse estado", contou o músico.


Espetáculo celebra o aniversário do Theatro Municipal (Foto: Cláudia Martini)

Ayran é integrante da orquestra e também presidente da Associação dos Músicos da Orquestra do Teatro Municipal. Ele também expressou que o apoio da população foi fundamental para manter a luta dos artistas.

"Acima de tudo, nós acreditamos no poder do diálogo. As lideranças políticas também têm a sua importância e vamos continuar dialogando com eles. Assim como o espaço de debate entre os funcionários do teatro é bem democrático. Acreditamos na população, nós acreditamos que a arte faz sentido para o povo. Sabemos da importância e do papel de todos para que haja uma discussão democrática", afirmou Ayran.

A bailarina e 1° solista, Priscila Albuquerque, também reforçou a fala do instrumentista. Ela contou sobre o período sem salários e da resistência abraçada por toda a equipe.

"O ano passado foi bem difícil. Ficamos um ano e meio sem entrar em cena. Estou aqui há quase 20 anos e nunca fiquei tanto tempo fora do palco desse teatro. Foi um momento muito grave e isso acabou afetando o corpo de bailarinos. Muitos foram pra fora. Nós enfraquecemos, mas quem ficou, resistiu bravamente. Aos poucos, estamos voltando. O amor a dança fez toda diferença e esperamos que agora as coisas sejam diferentes", comemorou a artista.

Até o fechamento da matéria, a Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro não se posicionou sobre o período de atrasos salariais

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