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Lava Jato fisga em SP Dario Messer, o 'Doleiro dos Doleiros' do Rio

Alvo de operações há uma década e um dos comandantes da lavagem de dinheiro por esquemas de propina e fraude liderados pelo ex-governador Sergio Cabral Filho, Dario Messer foi detido em São Paulo e será trazido para a sede da Polícia Federal no Rio para ser interrogado sobre transações paralelas aos bancos que chegaram a movimentar US$ 1 milhão por dia

Por Portal Eu, Rio! em 31/07/2019 às 20:11:54

Equipes da Polícia Federal participaram da prisão de Dario Messer em São Paulo, ao final de mais de uma década de investigações, anteriores à Lava Jato Foto Marcelo Camargo

A Força Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu nesta quarta em São Paulo, Dario Messer, o 'doleiro dos doleiros'. Investigado há uma década, em operações de porte como 'Câmbio, Desligo' e 'Sexta-Feira 13', Messer será trazido para a sede da Polícia Federal no Rio. Deve ser interrogado e, depois de passar uma noite no prédio da autoridade policial na Praça Mauá, ser conduzido a uma unidade da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária.

Não há informação oficial sobre qual será a instituição, se alguma do Complexo Penitenciário do Gericinó, em Bangu, ou o ponto de ingresso habitual no sistema, a Cadeia Pública Frederico José Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio, onde ficaram sob custódia sócios e parceiros do esquema comandado por Messer, de acordo com as investigações da Lava Jato, como o ex-governador Sergio Cabral Filho.

A prisão de Messer é considerada um avanço importante na desmontagem de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e um marco na cooperação entre autoridades de segurança, de acordo com integrantes do comando da Lava Jato. "Dario Messer é foragido da Justiça há anos, operações passadas não conseguiram capturá-lo, diante do seu poder econômico e sua influência no submundo do crime. Mas hoje, (quarta, 31/7), a Força Tarefa do Rio De Janeiro, que congrega o MPF, a PF e a Receita Federal, conseguiu, em cooperação com outros países, prender o mais importante doleiro do Brasil. Provamos com isso que, se não há fronteiras para criminosos, também não há para investigadores. O “doleiro dos doleiros” terá que prestar contas à Justiça brasileira," afirma o procurador regional da República José Augusto Vagos.

Messer, pelos relatórios do MPF, é um dos cabeças de um sofisticado esquema de transferência de recursos de origem criminosa para paraísos fiscais, dispensando intemediação bancária e dificultando o rastreamento pelo Banco Central e pela Receita Federal.

O 'Doleiro dos Doleiros' era o alvo mais importante, ainda em liberdade da “Câmbio, Desligo”, deflagrada em maio do ano passado, segundo as notas divulgadas à época da operação pelo MPF. A operação contou com o apoio de autoridades uruguaias e visava desarticular um grandioso esquema de movimentação de recursos ilícitos no Brasil e no exterior por meio de operações dólar-cabo, entregas de dinheiro em espécie, pagamentos de boletos e compra e venda de cheques de comércio. Foram expedidos 43 mandados de prisão preventiva contra doleiros que atuaram ao longo de décadas de forma interligada em diferentes núcleos dessa rede de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Também foi determinada a prisão temporária de operadores financeiros, com o intuito de garantir a efetividade das diligências. Os mandados foram cumpridos no Uruguai e nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

As investigações, à época, partiram da colaboração premiada dos doleiros Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, conhecido como Tony ou Peter, de acordo com as notas divulgadas pelo MPF. Eles foram presos em 3 de março de 2017 no Uruguai e intermediavam operações dólar-cabo para os irmãos Chebar, também doleiros e operadores financeiros do esquema do ex-governador Sérgio Cabral. Em colaboração premiada, Renato Chebar reconheceu que o volume de operação de compra de dólares aumentou consideravelmente a partir do início da gestão de Sérgio Cabral em 2007, motivo pelo qual foi necessário buscar os recursos de Juca e Tony para viabilizar as operações.

“Os colaboradores Juca e Tony funcionavam como verdadeira instituição financeira, fazendo a compensação de transações entre vários doleiros do Brasil, servindo como 'doleiros dos doleiros', indicando clientes que necessitavam dólares (compradores) e que necessitavam reais”, explicam os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro. Junto com Dario Messer, dono de casas de câmbio, eles montaram uma complexa rede de câmbio paralelo sediada inicialmente no Brasil e, a partir de 2003, no Uruguai, de onde comandavam remotamente os negócios.

Os dois doleiros tinham um volume diário de operações nos anos de 2010 a 2016 de aproximadamente R$ 1 milhão. Para controlar as transações, os colaboradores desenvolveram um sistema informatizado próprio, de nome Bankdrop, no qual estão relacionadas mais de 3 mil offshores, com contas em 52 países, e transações que somam mais de 1,6 bilhão de dólares. Outro sistema, chamado ST, registrava todas as operações de cada doleiro como uma espécie de conta-corrente e foi utilizado para controlar a movimentação dos recursos tanto no Brasil quanto no exterior.

As colaborações premiadas de Juca e Tony foram fundamentais para esclarecer o papel de Dario Messer, que já havia sido alvo em 2009 da operação Sexta-Feira 13, no mercado paralelo de câmbio. De acordo com as investigações, Messer recebia 60% dos lucros das operações de câmbio, pois era o responsável por aportar recursos e dar lastro às operações. Dono de casas de câmbio, era ele quem dava respaldo às operações com seu nome e ficava responsável pela captação de clientes. Messer chegou a possuir um banco em Antígua e Barbuda em sociedade com Enrico Machado, denominado EVG, destinado à lavagem de recursos de modo transnacional. O EVG encerrou suas atividades em meados de 2013, e vários dos investigados pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro e até mesmo por outras operações estão listados entre seus clientes.

A rede estruturada por Messer, Juca e Tony foi utilizada por ao menos outros 46 doleiros. As operações dólar-cabo são uma forma de movimentar recursos de forma paralela, sem passar pelo sistema bancário. Usualmente, agentes públicos corruptos compram dólares no exterior de empresas que necessitam comprar reais em espécie no Brasil para corromper outros agentes públicos. Para que a operação funcione, é preciso uma extensa rede de contatos para casar as operações de compra e venda, o que era intermediado por doleiros do Juca e Tony. A metodologia traz vantagens para os doleiros como os irmãos Chebar, que utilizaram esse esquema, pois eles conseguem realizar as operações de seus clientes sem qualquer contato com o dinheiro em espécie ou custódia de valores, o que reduz consideravelmente os seus riscos.

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