Um processo que tramita na Justiça revela que PMs de dois batalhões convencionais, o 9º (Rocha Miranda) e 41º (Irajá) e unidades especiais, BPVE (Batalhão de Policiamento em Vias Especiais), BOPE (Batalhão de Operações Especiais) e BPChoque (Batalhão de Choque) negociavam com as três facções criminosas que exploram o tráfico de drogas no Rio.
No caso do 9º BPM, o esquema de propinas envolvendo traficantes de Madureira, na Zona Norte do Rio começou em 2015. Na ocasião, surgiram denúncias apócrifas, que continham imagens de traficantes que atuam da comunidade da Serrinha, ligados ao Terceiro Comando Puro (TCP), ostentando armas de fogo junto às viaturas operacionais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Foi identificado um novo ramal telefônico que supostamente estaria sendo utilizado por um traficante conhecido como ´Shrek´, da comunidade da Serrinha, e que possivelmente teria contato com os demais traficantes e policiais militares envolvidos.
Em relação ao Comando Vermelho (CV), os PMs do mesmo batalhão repassavam informações sobre operações policiais a traficantes atuante nas comunidades Faz-quem-quer, Congonha e Cajueiro, situados nos bairros de Rocha Miranda, Vaz Lobo e Madureira, assim como na comunidade da Barão, na Praça Seca, em troca do pagamento semanal de dinheiro oriundo do comércio de substâncias entorpecentes.
As investigações descobriram que policiais militares do Grupamento de Ações Táticas do 9º BPM ´estariam, semanalmente, encontrando-se com uma pessoa chamada ´André´, suposto traficante de entorpecentes da organização criminosa ´Comando Vermelho´, em ruas nas adjacências do batalhão com o fim de receberem dinheiro oriundo da exploração do tráfico de drogas´.
Foram colhidos indícios que PMs de unidades especiais (BOPE, BPChq e BPVE) também tinham envolvimento com a facção criminosa Amigos dos Amigos (A.D.A.) que atuava nas comunidades do Complexo da Pedreira (Pedreira, Lagartixa, Quitanda e Final Feliz), em Costa Barros, na Zona Norte
Foi possível verificar que os policiais militares suspeitos buscavam identificar traficantes com mandado de prisão em aberto e ´sequestrá-los´, com o objetivo de exigir propina para sua liberação.
No último período de interceptação, um oficial da PM relatou a Subsecretaria de Inteligência da então Secretaria de Segurança Pública, que enquanto esteve lotado no 9º BPM, uma soldado tentou persuadi-lo a retirar a ocupação policial na Comunidade da Serrinha, pois todos os policiais militares que atuavam lá recebiam propina. E ainda que esta mesma pessoa possuía um relacionamento afetivo com o traficante Walace de Brito Trindade, o Lacoste, tendo inclusive sido presenteada um veículo novo por dele, sem contar outros benefícios. Narrou também que outro oficial da PM teria recebido uma vultosa quantia de dinheiro de traficantes de drogas.
As investigações evidenciaram também que os policiais e os traficantes envolvidos comunicam-se e ´fazem negociações´ por meio de mensagens de texto criptografadas através do aplicativo BlackBerry Messenger (BBM), bem como por meio de contato telefônico.