Paulo Baía
Depois do dia 2 de outubro, primeiro turno, como analista político decidi não ler nem avaliar nenhuma das pesquisas publicadas do dia 3 até o presente momento. E não lerei nenhuma pesquisa, não vou analisar nenhuma pesquisa até o dia 30 de outubro.
Analisarei pesquisa de boca de urna, se houver, porque seu resultado será concomitante à apuração dos votos pelo TSE. Tenho trabalhado exclusivamente com os dados dos mapas eleitorais do TSE do dia 2 de outubro por estado e no Distrito Federal; tenho feito algo artesanal, conversado muito e muito com jornalistas que cobrem a área de política, estão acompanhando a eleição face-a-face.
Tenho conversado bastante com agentes políticos, tanto da campanha de Lula como da campanha de Jair Bolsonaro, tenho conversado com pessoas comuns - quando eu digo comuns, são "não-militantes" - que não são agentes políticos engajados mas que têm papel político importante na sociedade, como médicos, professores, magistrados, dentistas, advogados, ambulantes, entregadores de APPs, associações comunitárias, associações comerciais, clubes de serviços, protetores de animais, biólogos, matemáticos, padres, monges budistas, esotéricos, pastores evangélicos. A partir dessas conversas, da observação 'in loco', por vídeos, por plataformas de conversa, da observação presencial no estado do Rio de Janeiro, da leitura de mensagens, textos e artigos dessas pessoas não-militantes, com a conversa também com militantes políticos em todos os 26 estados federados e no Distrito Federal, chego a uma percepção, faltando uns poucos dias a mais que uma semana para a eleição.
Minha percepção para o dia 30 de outubro é que a eleição está efetivamente empatada entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, com uma pequena vantagem para Lula da Silva. Essa pequena vantagem que percebo em todas as conversas que tenho, até naquelas que faço com agentes políticos e estrategistas da campanha de Jair Bolsonaro, tende a se manter no dia 30 de outubro.
A campanha de Jair Bolsonaro está extremamente eufórica, num clima de "virada", de "já ganhou", em todos os estados e em Brasília.
Na campanha de Lula o clima é de "prudência", de "cautela não pessimista", mas com otimismo convenientemente comedido. A palavra de ordem é ir para as ruas virar voto e tentar diminuir a abstenção.
Teremos então uma eleição que Lula pode vencer no dia 30 de outubro, mas a vitória de Lula será uma vitória muito apertada. A diferença de votos que Lula terá sobre Bolsonaro será de um a no máximo cinco milhões de votos, no universo de 156 milhões de eleitores.
Portanto, preparem seus corações, seus antidepressivos, seus calmantes, seus chás de camomila, aromáticos e relaxantes, suas orações, suas preces, suas superstições, pois nas horas a partir das 17h do dia 30 até 20:30h, quando teremos o resultado final da eleição, haverá muita tensão, nervosismo e ansiedade, tanto na campanha de Lula da Silva como na campanha de Jair Bolsonaro, tanto naqueles que apostam em Lula como naqueles que apostam em Bolsonaro, principalmente nas pessoas que se engajaram nas campanhas eleitorais, que no momento são a maioria absoluta da população.
Tenho conversado diretamente com pessoas das campanhas de Lula e de Bolsonaro. Volto a insistir, não estou lendo, tomando conhecimento efetivo de nenhumas da inúmeras pesquisas publicadas após o dia 2 de outubro. Considero que os institutos estão com uma imprecisão estrutural. Isso não significa dizer que seja contra as pesquisas, não sou, sou radicalmente a favor das pesquisas; isso significa dizer que sou visceralmente contra esse projeto horrendo de censura às pesquisas de opinião eleitoral que está em pauta na Câmara dos Deputados. O que digo é que existem questões técnicas, metodológicas, questões de base de dados demográficos, socioeconômicos, de renda, de consumo, de religiosidade, do conjunto da população brasileira. Não sabemos qual o perfil efetivo, o número de habitantes e a localização dos habitantes, com precisão estatística e matemática. Essas questões precisam ser resolvidas para aperfeiçoar, para realizar a definição de categorias de renda, a definição dos planos de amostra do eleitorado, o perfil dos entrevistados, as técnicas de captura de informações com a utilização de softwares de Inteligência Artificial para aumentar a precisão e entender a diversidade da sociedade brasileira da atualidade e o fenômeno da recusa em dar informações em pesquisas dos Institutos e do IBGE.
Portanto, todas as análises que tenho feito são análises que desconsideram as pesquisas. Quando converso com as pessoas que citei, peço para não me falarem em pesquisas, falarem sem levar em conta as pesquisas eleitorais. Todas as vez que elas citam as pesquisas, reajo imediatamente, dizendo que não quero ouvir nada sobre as pesquisas.
Assim, a avaliação que faço é que a campanha de Lula da Silva vai apostar no segmento que hoje recebe os benefícios sociais como o Auxílio Brasil, em que Bolsonaro está tendo um retorno de votos favorável. Parece-me que esse retorno favorável é um ruído político, de narrativas de atores políticos engajados, mas é importante o que a campanha de Lula da Silva está fazendo, é importante que a campanha de Lula vocalize em alto e bom som uma pauta conservadora com Simone Tebet e Geraldo Alckmin. Foi crucial a carta-compromisso aos evangélicos, produzirá algum efeito no universo dos evangélicos e dos religiosos de todas as crenças e credos, pois na verdade a carta aos evangélicos é um libelo à plena liberdade de crença, credo e manifestação pública para todas as religiões.
Jair Bolsonaro, ao contrário do que muitos dizem, focou sua campanha na economia, está apostando no cenário macro e microeconômico, na ideia posta em prática do empréstimo consignado vinculado ao Auxílio Brasil, na ideia de que o Auxílio Brasil continuará, que terá um aumento de 200 reais, que não será retirado se a pessoa conseguir um emprego, um trabalho remunerado no mercado formal de trabalho e renda.
Jair Bolsonaro está apostando na deflação, na diminuição dos preços de alimentos e combustíveis.
Em relação à abstenção, creio ser um folclore da campanha de 2022, tanto na campanha de Lula da Silva como na de Jair Bolsonaro.
O histórico das últimas eleições registra uma abstenção de 20% do total do eleitorado, essa foi a abstenção do dia 02 de outubro.
Para a abstenção produzir um resultado diferente do primeiro turno ela terá que crescer para além de 25% dos 156 milhões de eleitores habilitados a votar no dia 30 de outubro. De maneira realista não creio nesse incremento da ausência ao pleito, em especial nessa eleição passionalizada, radicalizada ao extremo e polarizada desde o início da pré-campanha eleitoral em janeiro de 2022, além das providências adotadas pelo TSE sobre a possibilidade de transporte público gratuito para os eleitores nos 5570 municípios e no Distrito Federal.
A abstenção ficará em 20% do eleitorado, podendo diminuir para 18%, já os votos brancos e nulos ficarão entre 4 e 5% do eleitorado, como no dia 02 de outubro de 2022.
Assim, no meu entendimento, teremos no dia 30 de outubro Lula da Silva podendo vencer com diferença de um milhão a cinco milhões de votos a mais que Jair Bolsonaro.
Mas vale o registro, que percebo em meu flâneur sociológico, do crescimento real e significativo de Jair Bolsonaro em todos os segmentos de nossa sociedade.
Com esse resultado e os humores das campanhas, teremos um "TERCEIRO TURNO" nas narrativas, reclamações formais e informais, como foi inaugurado de maneira lamentável, vergonhosa e pusilânime por Aécio Neves em 2014, que não reconheceu a derrota eleitoral e questionou a lisura das eleições.
Tudo indica que teremos um novo Aécio Neves.
*Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ
Fonte: Paulo Baía