Hoje (23/03), meu mentor artístico, tio e padrinho, Domingos Oliveira, faz quatro anos que entrou no universo do infinito da arte, e faço desse dia meu passaporte de saída da direção do Teatro Gláucio Gill.
Escrevo essa Carta Aberta para agradecer aos deuses do teatro que por seis anos brindaram comigo e com todos os artistas, técnicos e profissionais do ofício, o prazer de estar dirigindo esse renomado teatro da classe, o pequeno e charmoso teatro de arena, situado no coração de Copacabana, o Teatro Gláucio Gill.
Como filha de Copacabana, nascida na carioca década de 70, embalada pela arte da minha família, abençoada pelo meu tio, o dramaturgo Domingos Oliveira, que também teve sua caminhada artística selada nesse palco, despeço-me com a alma repleta de gratidão e deleito na taça frágil da existência humana que tudo tem início, meio e fim. Nesse ciclo eterno da vida fecho o meu aqui, no verão quente da retomada, com a Casa cheia, um festival verão lotado e um março de 2023 delirante de grandes talentos em cartaz.
Fecho com “Prazer, Hamlet” dando casa lotada em todas as sessões, tinha que ser, com ele Shakespeare, bebo a delícia do suco premiado de “As Metades da Laranja”, com talentos do humor da atualidade, brinco no belo infantil, o lúdico e criativo de “Ádil e os Leões”, ele o meu eterno e mago, acadêmico e literato Machado de Assis, com sua “A Sereníssima República” e, claro, depois de tudo tínhamos que deixar o registro da existência, com o divertido e realista "Como sobrevivi a mim mesma nesta pandemia”.
Entrei para dirigir o Teatro em 08 de março de 2017, um dia que marcou a comemoração do Dia Mulher. Sou mulher, mãe, avó, artista, educadora, e gestora cultural, título que recebi por gestar à frente deste lugar que tanto amo. Foram seis anos, 150 peças com dois anos de pandemia pelo caminho. Isso é histórico, então chegou a hora de escrever sobre tudo isso e fechar esse ciclo e abrir as portas para o mundo.
Quero começar agradecendo e destacando que, durante a pandemia, foi por causa de vocês, meus parceiros de trabalho do TGG, com reuniões online, ofícios, cuidados com o patrimônio cerrado pelo vírus e com muito respeito, que não morremos no último ato, e, hoje, estamos juntos com as cortinas abertas.
Obrigada, minha equipe! Vocês são maravilhosos, sem vocês isso aqui não funciona, isso eu tenho certeza, vida que segue.
Obrigada a todos os meus presidentes que levaram seus cargos com a faixa necessária.
Obrigada aos amigos da Funarj que resistem a tantos atropelos do sistema.
Obrigada a todos os produtores que dividimos pautas e belos momentos.
Obrigada aos elencos e mais elencos que por esse palco tiveram o prazer do gozo da magia.
Obrigada a Deus,
Obrigada Dionísio,
Obrigada Domingos,
Obrigada João,
Obrigada Vida, por presentear-me com a grande oportunidade de ser a Diretora de um Teatro Público, em Copacabana, no Rio de Janeiro, por tantos anos e a realizar pela Cultura Fluminense tudo que sempre acreditei.
Deixo aqui, palavras de novos caminhos e desejo um país livre e consciente com mais Arte e muita Educação.
A Arte Salva e sem Arte não existe Salvação.
Está feito.