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Moral, vergonha e medo: por que o crime nasce antes do primeiro disparo?

José Maria da Silva Filho (Dr. Zema), criminalista

Em 09/05/2025 às 15:21:31
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Com base em quase duas décadas imerso no Direito Penal, proponho um novo olhar sobre a criminalidade — como consequência do colapso emocional e da falência do pertencimento, não apenas de uma infração legal.

A trajetória de um indivíduo rumo ao crime não se inicia com o gatilho apertado nem com a regra transgredida. Ela começa silenciosamente — na ausência de freios internos que, quando intactos, moldam a consciência, o afeto e o medo das consequências. Essa é a espinha dorsal da Teoria Tríplice da Delinquência (TTD), construída por mim, após anos mergulhado nos bastidores da mente delinquente.

Referência em casos que ganharam projeção nacional, acumulei, ao longo de minha atuação como criminalista, uma pergunta que não me deixava em paz: o que falta em alguém antes que ele cruze a linha da legalidade? O que apaga os limites internos antes que a lei seja violada?

As respostas não vieram dos códigos processuais, mas da escuta atenta, da observação diária e da inquietação diante de um sistema que atua sempre depois do estrago. Assim nasceu a Teoria Tríplice da Delinquência — uma leitura interdisciplinar que identifica três travas psíquicas que, ao falharem em conjunto, deixam o sujeito à deriva: moral, vergonha e medo.

O crime, na prática, é o último estágio. O colapso já aconteceu antes — quando a pessoa já não distingue o certo, não teme o julgamento e já não se importa com as consequências. A moral diz respeito ao senso íntimo de integridade, à bússola que orienta sem necessidade de vigilância. A vergonha é o vínculo com o olhar do outro — a referência social que ancora o comportamento no coletivo. O medo, por sua vez, é o instinto de autopreservação, que se impõe quando as outras instâncias falham.

O Estado atua sempre no rastro da delinquência, mas raramente na origem dela. Quando chega a punição, é porque todas as outras estruturas já ruíram. Por isso, minha teoria não propõe afrouxar o sistema penal, mas reforçar a única fronteira que pode de fato conter o avanço do crime: a que se forma por dentro.

A proposta tem ganhado eco em diferentes esferas: de fóruns acadêmicos a gabinetes parlamentares, de mesas de compliance a debates em políticas públicas. A originalidade da abordagem está em recusar o reducionismo — nem o crime como produto exclusivo da pobreza, nem apenas da perversidade pessoal — mas como resultado de uma erosão subjetiva e progressiva.

Convido a sociedade a assumir um papel proativo, não punitivo. Podemos continuar enchendo presídios ou podemos começar a restaurar consciências?

A Teoria Tríplice da Delinquência não oferece atalhos. Ela propõe um reencontro com a raiz da convivência humana: a educação da consciência, a revalorização do respeito social e a reconstrução do temor legítimo às consequências. E, nesse caminho, o crime deixa de ser apenas um ato jurídico — para ser compreendido como um grito de colapso humano.

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