Mesmo sendo uma mulher branca entendo meu lugar de fala e digo com muito orgulho que fui criada com todo amor e carinho pelos meus pais adotivos, que são pretos. Quando criança não fazia diferenciação de cor, até me achava muito parecida com meus pais. Porém, conforme fui crescendo as pessoas comentavam a nossa diferença e as crianças, com quem brincava, acabavam repetindo para mim o que ouviam dos adultos: "porque você é tão diferente dos seus pais? ". Com isso, minha mãe — que só queria revelar que eu era adotada quando se sentisse segura —, foi obrigada a falar sobre o assunto antes da hora.
Com isso, aprendi e continuo evoluindo nesse assunto e no meu modo de ver "Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista" — frase da professora e filósofa Angela Davis, que deveria estar exposta no mural de todas as empresas do Brasil. Diante de tantas falas de autoridades negando a existência do racismo no Brasil, precisamos urgentemente pensar em práticas de liderança antirracistas.
Na atualidade não basta dizer que não é racista, é preciso se posicionar sobre o assunto não só em palavras, mas também em atitudes. Não é preciso ser militante, postar fotos no facebook ou colocar uma telinha preta no instagram, é necessário estudar mais e ter propriedade histórica sobre o assunto.
Não é necessário que uma pessoa preta vire professor nesta questão e tenha responsabilidade de explicar o que é certo ou errado a outra pessoa branca. É responsabilidade de todos maior conscientização para mais inclusão e diversidade. Nas empresas, por exemplo, quando o RH abrir novas oportunidades de trabalho, é fundamental que os profissionais pretos tenham espaço garantido. Caso não haja candidatos pretos, há como buscar bancos de currículos ou inscrever a vaga em sites e grupos, permitindo que todas as pessoas enxerguem a oportunidade. A desculpa de que só tinha candidatos pretos já não funciona no Brasil, que segundo o IBGE possuí 36% da população preta e 10% parda.
As empresas precisam dialogar mais sobre esse assunto, pois não basta deixar de falar sobre isso para não denegrir a imagem, já que essa atitude também é racista. É importante mudar o que mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Ethos, em 117 empresas brasileiras de médio e grande porte, revelando haver apenas 4,7% pessoas negras no quadro executivo. Atualmente há sim mais profissionais negros preparados para as inúmeras funções que as companhias necessitam. Só o que precisa ser vencido são conceitos e pré-conceitos antigos, que não representam a igualdade.
Hoje há inúmeras formas de incluir práticas antirracistas na sua vida como um todo e também no ambiente profissional e, se você é ou está se desenvolvendo para ser um líder de equipes, reflita sobre seus comportamentos:
* Estudo sobre o assunto! Existem series, livros, filmes, artigos etc...
* Seja Ativo! É uma questão a ser abordada no dia a dia, fale com sua equipe, promova reuniões e debates sobre o assunto.
* Abra vagas para pessoas pretas, promovendo a diversidade na sua equipe;
* Não haja como se o racismo não existisse. O discurso "somos todos iguais" não funciona mais;
* Mude seu vocabulário e entenda o significado das palavras e se elas têm contextos racistas e você usa sem saber e delicadamente corrija as pessoas que usam ao seu redor;
* Denuncie o racismo em suas diversas formas e manifestações.