Safiya Umoja Noble, em Algoritmos da Opressão (tradução livre), destaca como os algoritmos que movem os mecanismos de busca e as redes sociais podem perpetuar preconceitos sociais. No Brasil, isso significa que as práticas religiosas afro-brasileiras podem ser marginalizadas online, enquanto versões superficiais e mais aceitáveis para um público global recebem mais visibilidade.
Essa tendência de exclusão reflete as desigualdades estruturais existentes na sociedade, trazendo novas formas de invisibilidade digital para essas práticas. O ambiente online, que deveria ser um espaço de democratização de vozes, acaba reforçando uma hierarquia que favorece conteúdos embranquecidos e de fácil consumo, enquanto marginaliza conteúdos autênticos.
Historicamente, as religiões afro-brasileiras sempre enfrentaram desafios em busca de preservação e resistência. O sincretismo com o catolicismo foi uma forma de garantir a sobrevivência dessas práticas durante períodos de intensa repressão. No entanto, no ambiente digital, essa adaptação assume uma nova forma. O sincretismo digital muitas vezes descontextualiza e dilui o significado original das práticas religiosas, transformando-as em elementos superficiais e desprovidos de suas raízes culturais.
Apesar dos desafios, comunidades religiosas e culturais afro-brasileiras têm encontrado formas de resistir e se afirmar no ambiente digital. Em 2022, entrevistei Conceição Evaristo na Flip e, brevemente, tentamos trazer a ideia de escrevivência, proposta por Conceição Evaristo, aplicada ao mundo online. Nele, narrativas autênticas são usadas para confrontar a invisibilidade e fortalecer a identidade cultural.
Essas iniciativas, que vão de projetos em redes sociais a plataformas de conteúdo focadas em histórias e vivências reais, têm sido essenciais para contrabalançar a lógica excludente dos algoritmos. Elas trazem à tona a importância da autenticidade e da ancestralidade, garantindo que essas tradições continuem a existir e a se desenvolver no ambiente digital.
Vejam bem: essa discussão está para além do reducionismo que algumas pessoas tendem a fazer de que tal religião é para tais pessoas. Pelo contrário: elas são acolhedoras. Contudo, para que o espaço digital seja realmente inclusivo, é fundamental questionar e reavaliar a forma como os algoritmos são programados e como afetam as representações culturais, sobretudo, na esfera da espiritualidade. Pressionar por mudanças nas grandes plataformas e incentivar práticas que valorizem a diversidade e a equidade são passos importantes nesse processo.