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Não se pode falar de Educação Digital sem antes resolvermos a Inclusão Digital

* Por George Soares, Jornalista

Em 05/07/2020 às 14:54:08

O período escolar e, sobretudo, de volta às aulas, é sempre caótico. Trânsito, filas duplas em frente aos colégios e uma readaptação à velha rotina. Em termos práticos, aqui na cidade do Rio, a volta às aulas significa ter mais 1 milhão de pessoas nas ruas diariamente.

Em tempos de pandemia, o dia a dia da escola mudou e aí iniciou um grande debate: até que ponto é possível digitalizar a educação. Essa seara envolve diversos fatores que vão além da tecnologia mas que, de forma sucinta, se resume em uma verdadeira e massiva inclusão digital.

Parece meio sóbrio falarmos disso atualmente, sobretudo, quando quem lê essa expressão vive em um grande centro urbano. Mas a verdade (dura, no caso) é que uma parcela significativa da população não tem acesso à rede mundial de computadores. No relatório divulgado na última semana de junho, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) informou que 40% de um grupo de mais de 200 países não têm como oferecer apoio a estudantes no ensino a distância, durante a pandemia.

Apesar da velocidade média da internet no Brasil ter praticamente dobrado nos últimos dois anos (passou de 8.6Mbps para 14.1Mbps, segundo um dos sites mais famosos que fazem essa mensuração), ter uma conexão relevante ainda é realidade para poucos, isso quando ela existe. A pesquisa mais recente sobre a penetração da Internet no Brasil aponta que, pelo menos, 21% dos lares brasileiros – o equivalente a 17 milhões de unidades residenciais – não possuem acesso à rede mundial de computadores, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do quarto trimestre de 2018. Tal fato impossibilita o acesso de alunos ao material de ensino a distância disponibilizado em plataformas virtuais por escolas do ensino fundamental e do ensino médio

Muitos alunos que não tem conexão cabeada usam os aparelhos smartphone para entrar na Internet. A consequência mais recorrente é que a maioria não possui um pacote de dados que permita participar de transmissões ao vivo das aulas. Imaginemos assistir um filme qualquer na Netflix. Ver conteúdo em HD na plataforma consome 3 GB por hora (se o conteúdo for em Full HD, o consumo sobre para 7 GB por hora), o que nos leva a uma conta bastante entristecedora: um plano de 20 GB, que custa entre 80 a 120 reais, em média, garante apenas 6 horas de Netflix por mês — pouco mais de 20 minutos por dia.

Além da dificuldade financeira, porque muita gente perdeu o emprego e não tinha como pagar pela internet, existe também a psicológica e, para os alunos periféricos, isso se agrava muito mais. Associado a isso, ainda precisamos citar que problemas em relação à privacidade, concentração e disciplina são um recorrente. Nem todos os estudantes possuem um local em casa adequado para assistir aulas. As desigualdades e assimetrias de aprendizado nas escolas, principalmente públicas, tendem a se agravar, passado o período da quarentena. Esse é apenas um dos desafios na implementação do ensino remoto durante a pandemia do coronavírus.

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