LinkedIn não é lugar de política

Gosto do LinkedIn, mas diariamente vivo essa ingrata luta de tentar domar o algoritmo. Desviar das fanfics emocionadas, daquelas histórias que forçam para ter alguma moral ou aprendizado, daquela enquete inútil, daquele post caça-like pedindo pra você tocar duas vezes na imagem, do post copiado, de quem compartilha citações próprias acompanhadas de uma foto olhando para o horizonte, visionário.

E claro, desvio de toda e qualquer pessoa que repete o mantra "LinkedIn não é lugar de política". Explico. Pode até ser que você seja uma pessoa bem intencionada, mas que acredite que política não esteja presente em todo e qualquer espaço que a gente ocupe. Mas é que em 90% dos casos a frase sai da boca de algum racista, homofóbico ou machista ao comentar políticas de contratação inclusivas, vagas com foco em diversidade e outras questões que, afinal, são política. Isso sem contar as famigeradas enquetes sobre quem você pretende votar nas próximas eleições.

O Lula tá no LinkedIn, vocês viram? E a turma tá no maior bafafá. Memes (alguns bem engraçados, verdade seja dita), acusações, ou mesmo análises emocionadas. Eu achei bom. E estou seguindo. E espero, sinceramente, que outros candidatos façam o mesmo. Aliás, isso nem é novidade. O Obama fez isso anos atrás. O Boris Johnson e o Emmanual Macron também. Aliás, até o Aécio Neves e a Marina Silva estão aqui. Todos com perfil meio morto, é verdade.

E aí você vai dizer: ora, o Lula entrou aqui pra fazer campanha. Como profissional de comunicação, eu concordo. Foi mesmo. E fazer campanha tem a ver com ocupar espaço, conversar com as pessoas, se posicionar como autoridade, compartilhar conteúdos pertinentes à rede e ao público. Antes se ia pras ruas, pro comício. E tudo isso continua existindo, mas limitado pela pandemia e disperso pelos tantos canais digitais que surgiram. E se você parar pra pensar, é exatamente o que nós fazemos aqui. É exatamente o que CEOs, VPs, líderes de toda sorte que você adora seguir fazem aqui. Esse não é um espaço sagrado que deve seguir as regras que você acredita. LinkedIn é espaço para debater eleição, política pública. E pode ser espaço para fazer humor, poesia, ficção. Por que não? Esse é o espaço que temos agora. Que muda, se transforma. Que amanhã talvez não faça sentido mais estar. Mas hoje faz.

Não tem um significado maior, não tem uma mensagem secreta, não tem a moral da história. Ele entrou porque parecia fazer sentido. Se flopar, logo o perfil vai estar abandonado. Mas se for considerar o buzz que gerou, acho difícil que ele (sua equipe de comunicação, né?) desista tão cedo.

Não gostou? Bloqueia ele, dá unfollow. Eu já silenciei mais de uma dezena de top voices, de influenciadores, de gente chata que compartilha conteúdo que não me interessa.

Bem-vindo ao Linkedin, Lula. Que venham os próximos candidatos.