Oscar: o mais previsível de todos

Apesar de sabermos antecipadamente como os votantes vão escolher pelas categorias, devido aos resultados iguais em outros festivais, sempre fica uma ponta de esperança de bagunça na hora de ouvir: And the Oscar goes to...

A alegria realmente começa na primeira categoria, onde mudando a tradição, é apresentado o filme vencedor de melhor animação: "Pinóquio", de Guilhermo Del Toro. Impecável. Um resgate do personagem (Pinocchio) do original de 1883, criada por Carlo Collodi. Outros tentaram montar filmes do menino de madeira, mas sem o impacto de Del Toro. A Disney fez uma versão live action, com efeitos em 3D, muito calcado na história recriada por Walt Disney. Nem Tom Hanks consegue salvar o filme com sua atuação de Geppetto. Nem antes, em 2019, um filme live action italiano com atuação de Roberto Benigni como Geppetto e Federico Ielapi como Pinocchio, salvou o pequeno garoto de madeira. Del Toro coloca uma animação tradicional, Stop Motion, bem de acordo com o personagem e mesmo com seu design, coloca a importância devida a história, mostrando até a luta emocional do Pinóquio no nazismo.

Também emocionante o recebimento do prêmio de melhor ator coadjuvante a Ke Huy Quan. Mesmo numa categoria forte, com Brian Tyree Henry (ator sensacional) e o veterano Judd Hirsch, Huy Quan era o favorito. Tudo fica mais evidente e tem uma camada de força pela sua história de tentar se conectar ao cinema e nunca desistir, além da luta contra o preconceito. Desde sua aparição como Short Round, em Indiana Jones e o Templo da Perdição, que o ator tentava se impor como grande protagonista. Finalmente ganhou reconhecimento tardio.

Jamie Lee Curtis, vencedora como coadjuvante, desbancou a minha favorita Angela Bassett, que salvou o filme Wakanda Forever. Mas o filme sobre multiverso Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, levou a maioria das categorias importantes como melhor filme, melhor direção, atriz, roteiro original, enfim, uma barbada. Acabou que a atuação de Bassettt ficou minguada diante da explosão que foi o filme vencedor, levando o público a viajar com um filme inesperado e dadaísta.

Nada tiraria o prêmio de melhor efeito especial de Avatar, que ainda terá mais sequências e mais prêmios no futuro. Nada de novo no front e Batman poderiam ser apostas mais realistas sob o ponto de vista da necessidade dos efeitos em cena. Afinal, Avatar é totalmente feito em efeitos especiais. Dentro do delírio de James Cameron, um filme totalmente pensado sob as águas não poderia ter mais efeitos do que já tinha, foi preciso submergir os atores para que as cenas ficassem mais realistas possíveis. Realmente, uma tarefa árdua para os profissionais Josh Friedman, Amanda Silver, Rick Jaffa e Shane Salerno.

Surpresa mesmo é a música indiana "Naatu Naatu" composta por M.M. Keeravani para a trilha sonora de RRR, desbancando várias grandes cantoras. O filme no bom e velho estilo de Bollywood, já chega ao Brasil dublado do Telugu para Hindi. Mas você nem percebe as três horas de filme passando e as músicas sempre presentes na produção.

O grande herói da noite fica para a barbada, mas merecida atuação de Brendan Fraser no filme A Baleia. O ator, que era uma promessa de grande herói de filmes de ação, foi do estrelato ao fundo do poço. Ficou anos deprimido e sumiu de cena por ser assediado sexualmente . A surpresa foi a atuação em um filme em que faz um bandido no filme The Poison Rose, onde interpretava o doutor Miles Mitchell e já mostrava seu retorno às atuações fora da estirpe de galã. Essa mudança de chave foi essencial para que dispensasse os mocinhos para se tornar um verdadeiro ator. O brilho de atuação, que por vezes salva o filme, mostra qual direção é preciso ir para se tornar aquilo que sabemos realmente ser. Merecido os aplausos demorados em todas as competições que ele estava presente. Um Oscar ativista lindo de louvar.