Roteiro de descanso merecido, dos 15 dias de julho, enquanto o governo não estiver pensando em acabar com esse merecido repositório de forças do meio do ano. Sempre tento lugares onde estão os entes queridos e paz. Tenho opção de ficar no meio da natureza e na praia. Procuro ter um pouco dos dois. Nesse momento, estou em Lagoa Santa. Possui uma população de 61.752 habitantes e está localizado a 35 km de Belo Horizonte. Normalmente gosto de ficar em comunhão com a natureza. Estando com as plantas faça como as plantas, ou seja, não faço nada. Estou vegetando. De vez em quando tento fazer fotossíntese sem sucesso, lagarteando nas frestinhas de sol que acontecem entre os cômodos da casa.
Esse é o lado bom, somado ao tempo que posso ter de ler um livro, terminar uma série, ver filmes que perdi durante a semana e até esquecer a dieta e perder a mão nas gostosuras, que deixariam Paola Carosella babando. O lado ruim, tirando o fato que me distancio um pouco da tristeza da qual nos afundamos no nosso país, que pode ser considerado um lado bom também, é que a temporada de visitas a lugares históricos, culturais e naturais aumenta exponencialmente. No caos econômico que vive o Brasil e o mundo, muitos vão agredir a natureza por dinheiro. Tudo é motivo para lucrar sem responsabilidade, colocando o Vil metal na frente de qualquer coisa.
Recordemos os recenes problemas. O caso mais emblemático foi a superlotação do monte Everest. Uma montanha para ser desbravada como uma conquista pessoal, com um preparo às vezes de um ou dois anos para escaladores experientes para ter no final a medalha de ouro desses aventureiros, hoje é tratada como mercadoria. Hordas de milionários, pagando os olhos da cara para ter esse gostinho de triunfo não sendo profissional, levaram a ganância dos Sherpas e autoridades locais que criaram essa nova modalidade de excursão ao Everest. A montanha, que fica na Cordilheira do Himalaia, entre o Nepal e o Tibete, nunca viu até então a fila indiana de aventureiros domingueiros. Como não poderia deixar de acontecer, houve problemas e até morte. Se para um escalador experiente é preciso uma preparação grande, imagina um transeunte comum. Isso sem contar a exposição por longo período em condições extremas e o fluxo de oxigênio escasso.
Outro caso que chamou a atenção foi a pouco tempo, quando a Austrália decidiu proibir subidas ao monólito Uluru, lugar sagrado aborígene no deserto do centro do país. Virou um parque temático do tipo Disneylândia. Como se não bastasse o aumento do fluxo de turistas ao redor, existe as modalidades de invasão e vandalismo. Isso sem contar o lixo acumulado, excursão com superlotação e destruição do monte. Como um patrimônio natural foi sucumbir aos vândalos? Simples: Dinheiro. Desde 1985, os indígenas reclamam das condições a qual a montanha é exposta ao indiscriminado fluxo de visitantes.
Por que estou elaborando sobre isso? Porque o famoso tudo por dinheiro está contaminado em todos os lugares e nem Lagoa Santa é salva. Aqui é uma região de relevo cástico, com grande patrimônio paleontológico, tendo o dr. Lund como pioneiro nesse estudo. Aqui foi encontrado o crânio de Luzia, a brasileira mais antiga do Brasil. Quando você visita as cavernas no sítio arqueológico da Lapa do Santo, encontra a depredação feita por casais e a população local. A decisão dos espeleólogos em manter essa destruição é acertada por motivos educacionais, para despertar nos visitantes o espírito de preservação e respeito pela natureza. Mais ainda, quando a exploração não deve ser contaminada pelo capitalismo selvagem. Nesse contexto, os instrumentos de gestão ambiental se encontram especialmente marginalizados. Tornaram-se urgentes a popularização da Educação e da Ética Ambiental pelas sociedades, para um engajamento real do poder público, na formulação de políticas de gestão ambiental adequados.
Rezo para que os últimos redutos de paz não se acabem, por que senão, iremos ter que pagar por respirar o ar verde e pagar taxa de apreciação ao pôr do sol.