Você se considera uma mulher forte?

"Não sou, nem devo ser, a Mulher Maravilha, apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa... Uma mulher" (Lya Luft)

Eu acabei de passar por uma cirurgia de retirada da vesícula. Foi a minha primeira cirurgia.

Eu assisti, criança, a comoção nacional acerca da morte da cantora Clara Nunes em decorrência da anestesia geral e cresci com muito medo de ter que operar algum órgão.

Desde que descobri os cálculos na vesícula, me preparei fisicamente e psicologicamente para a cirurgia. Entrei no hospital feliz, entendendo que era para me curar. Me internei e aguardei tranquila, assistindo uma série até a hora H.

Quando desci para a cirurgia, lembrei do medo, tremi e a pressão subiu um pouquinho, mas a atenção da equipe médica me tranquilizou.

A cirurgia correu bem, mas foi baterem em mim para me acordar que a controladora que há em mim despertou com força. A primeira pergunta que fiz à enfermeira foi: quanto tempo durou a cirurgia?

Eu tremia muito, devido ao efeito da anestesia, ficava fazendo respiração de medicação para parar de tremer, achando que era tremor de pânico. Chamei o médico e uma enfermeira para reclamar dos tremores. Vi que tinham outros leitos onde estava e pensei que estava na UTI.

Eu não fiquei sonolenta, despertei de vez. Fui para o quarto e me comuniquei através da escrita com minha filha e meu marido. Pedi para ir ao banheiro, para comer, pedi para pagarem uma conta.

O tempo todo eu ouvia das enfermeiras: "nossa, você é muito forte! Parabéns, você é muito forte!" Elas me falavam isso como um elogio sincero, mas não era dessa forma que eu me sentia.

Vamos parar de romantizar essa história de ser uma mulher forte porque nem sempre isso é bom. Para algumas pessoas, ser forte é a única opção. Você precisa acreditar em você, ir atrás das oportunidades, torcer e fazer acontecer, se não o mundo lhe engole.

A pessoa que nasce pobre cresce com essa couraça da força e, às vezes, mesmo em momentos de vulnerabilidade, não consegue relaxar.

Naquele momento, eu não queria ser forte. Eu queria fazer como ouvi as pessoas me contarem, dormir o dia inteiro depois da cirurgia, devido ao efeito da anestesia geral, mas eu não consegui.

Ser uma mulher forte é bom, mas tudo bem permitir-se ser frágil em alguns momentos.

Tudo bem ser cuidada. Tudo bem relaxar.

Eu estava segura, ao lado da minha filha e do meu marido. Poderia dormir tranquilamente, mas foi mais forte que eu.

E para dizer a verdade aquela frase: "você é muito forte!" estava me irritando. Até porque chamar mulheres de "fortes", algumas vezes, é pretexto para explorá-las, mas isso é uma outra conversa.