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Cordelista popular da Baixada é tema de exposição no Catete

Centro de Folclore comemora 200ª mostra da Sala do Artista Popular

Por Portal Eu, Rio! em 27/11/2019 às 09:19:45

Jota Rodrigues. Fotos: Divulgação

O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNFCP-Iphan) comemora a 200ª mostra da Sala do Artista Popular , programa fundado há 36 anos, com perfil biográfico da obra de Jota Rodrigues, célebre artista do cordel no Brasil - "O verso e a vida". A inauguração será dia 28 de novembro, às 16h, no Museu de Folclore Edison Carneiro (Rua do Catete, 179) e pode ser visitada pelo público gratuitamente. A literatura de cordel foi reconhecida pelo Iphan em 2018 como Patrimônio Cultural Brasileiro. As obras do artista popular também estarão à venda no local para arrecadar fundos a fim de recuperar o telhado do espaço cultural que o artista criou em Nova Iguaçu, destruído por uma chuva de granizo em outubro deste ano

O poeta pernambucano Jota Rodrigues (morto ano passado aos 83 anos) foi um multiartista – cordelista, músico (estudioso da música popular brasileira) e artista plástico. Era também especialista em medicina popular, cultivava ervas e fazia elixir para os mais diferentes males. Sua incrível trajetória – do menino pobre e analfabeto até os 8 anos, que nasceu no município de Águas Belas, no semiárido de Pernambuco, a patrono de diversas bibliotecas na Baixada Fluminense, é tema de estudos.


Jota deixou um legado imenso, que inclui mais de 400 folhetos de cordel, xilogravuras, fotografias, entrevistas gravadas em áudio e vídeo, discos, novelas e até roteiro de filmes. Parte destes registros compõem a mostra, sob curadoria dos antropólogos Ricardo Gomes Lima e Ana Carolina Nascimento.

Serão apresentados ao público e colocados à venda folhetos de cordel de sua autoria, uma antologia publicada em livro, uma caixa para colecionadores com 250 títulos (os últimos exemplares impressos pelo próprio artista) e ainda camisetas e bastidores em madeira com tecidos impressos com suas xilogravuras. Também integram a mostra manuscritos, xilogravuras, ferramentas de trabalho, fotografias, gravações e os objetos que Jota Rodrigues reuniu ao longo de mais de oito décadas em suas atividades na música, na medicina popular e na poesia.

Lançamento de livro sobre cordel

No dia da inauguração será também lançado o livro Arte, Poesia e seus (en) cantos - Literatura de cordel nos territórios culturais (Editora Areia Dourada, SP, 2019, 248 págs), organizado pelas historiadoras e pesquisadoras Sylvia Nemer e Elis Regina Barbosa Angelo, que reúne trabalhos de professores, pesquisadores e poetas sobre a produção de literatura de cordel no Rio. Durante o lançamento da exposição vai acontecer uma mesa redonda reunindo os autores e alguns cordelistas.

A influência do pai violeiro e a do primeiro ofício, guiando um cego que memorizava versos e cantava de porta em porta, foram decisivas para a arte de Jota Rodrigues. "Aquilo foi me envenenando de uma tal maneira que o meu caminho era só aquele mesmo, não tinha outra coisa que me dominava", contou. Mas a vontade de criar histórias se impunha à barreira de não saber ler e escrever. Foi o poeta cego que o incentivou a se alfabetizar, aconselhando-o a catar pedaços de carvão ou tijolo e riscar nas calçadas, copiando o formato das letras.

"Como Jota nunca teve uma educação formal, se alfabetizou sozinho. Cometia erros de grafia e métrica e terminou sendo rechaçado pela maioria dos cordelistas. Pelo mesmo motivo, nunca conseguiu publicar numa editora. Ele tinha 12 anos quando compôs seu primeiro cordel, mas só 27 anos depois, ao comprar um prelo, pôde imprimir seus folhetos, que vendia nas feiras e praças" conta Ricardo Gomes Lima.

Caminhoneiro, marceneiro, pintor, pedreiro e catador de papel

Jota foi chofer de caminhão, marceneiro, dirigiu pau de arara, foi pintor, pedreiro, catador de papel nas ruas. Depois de passar por várias cidades, fixou-se no Rio de Janeiro. Aqui teve seu trabalho reconhecido pela folclorista, professora da UERJ e então diretora da Divisão de Folclore do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), Cascia Frade. Ela abriu pra Jota as portas das universidades, levando-o para dar palestras que ficaram famosas e requisitadas no meio acadêmico.

Em 2008, Jota ganhou o Premio Culturas Populares do Minc, atual Secretaria Especial de Cultura. Com o dinheiro construiu um pequeno centro cultural na sua casa, em Nova Iguaçu, onde reuniu suas grandes paixões: literatura de cordel, ervas medicinais e música popular. Na sala de música, reuniu sua coleção de livros e discos, enciclopédias e dicionários, uma vitrola, chapéus com que se apresentava e instrumentos musicais. Na sala dedicada à medicina popular, expôs alguns preparados em garrafadas, fotografias de bancas de ervas e raízes, livros sobre o assunto e cartazes impressos com o anúncio de seu trabalho e explicações sobre os princípios de seu entendimento sobre o corpo humano.

A sala dedicada à literatura de cordel é o maior espaço do Centro. Lá reuniu folhetos de cordel impressos prontos para venda, separados por título e classificados em assuntos: "tragédia", "social", "política", "saúde", "futebol", "religião", "cantores", "educação" e "infantil". Ali, Jota organizou uma lista em que relacionava sua produção escrita entre 1946 e 2008 (apesar de ter continuado a escrever depois desta data), somando 408 folhetos de cordel de 8 páginas (todos em sextilhas e septilhas), 44 romances (como chama os folhetos de 16 a 56 páginas), 14 folhetos de cordel infantis, 5 novelas, com 109 a 180 capítulos e 5 filmes. As novelas eram apresentadas nas palestras que fazia nas universidades com projeção de slides.

"Depois de sua morte, a família continuou mantendo o espaço cultural, um dos poucos da Baixada, recebendo as turmas de escola e especialistas em cultura popular para pesquisar no acervo - assim como Jota fazia. Mas depois de uma chuva de granizo, que destruiu o telhado do espaço no mês passado, toda a coleção está espalhada pela casa da família. No momento, sua família tenta conseguir verbas para consertar o telhado e reabrir o espaço", conta Ana Carolina Nascimento. É um pouco do legado dessa "vida em versos" que será apresentado nesta exposição.

Sala do Artista Popular (SAP)

A SAP foi criada em 1983, com o intuito de ser um espaço de exposições de curta duração, voltado para difundir e comercializar as obras de artistas e comunidades artesanais. O catálogo de cada exposição é desenvolvido a partir de pesquisa etnográfica e documentação fotográfica realizada pela equipe do CNFCP. Em decorrência da divulgação e do contato direto com o público, abrem-se oportunidades de expansão de mercado e da produção para esses artistas e comunidades.

Serviço

Exposição Jota Rodrigues: o verso e a vida

Museu de Folclore Edison Carneiro – Rua do Catete, 179.

Telefone: 21 3826-4434

Inauguração: 28 de novembro, às 16h – Apresentação de cordelistas e lançamento do livro "Arte, Poesia e seus (en) cantos - Literatura de cordel nos territórios culturais", organizado pelas historiadoras e pesquisadoras Sylvia Nemer e Elis Regina Barbosa Angelo

Período: 28 de novembro a 8 de dezembro de 2019

Dias e horários:

Terça-feira a sexta-feira, das 11h às 18h

Sábados, domingos e feriados, das 15 às 18h

Local: Sala do Artista Popular / CNFCP

Realização:

Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec)

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional (CNFCP/Iphan)

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