O poder destruidor das linhas chilenas

OiCom um poder de corte quatro vezes maior que a do cerol, a linha chilena transforma a brincadeira de soltar pipa em uma atividade criminosa. Além de vítimas fatais, o produto deixa cicatrizes para o resto da vida. O último caso aconteceu em fevereiro deste ano na Rodovia Presidente Dutra - via que liga Rio de Janeiro a São Paulo - e feriu levemente o motociclista Jair Sena, de 42 anos. O empresário, que pilotava a sua moto, ficou com um corte no pescoço após ser atingido pela linha chilena.

Ao Portal Eu, Rio! o motociclista reforçou o cuidado com o uso desses produtos. "As pessoas precisam se conscientizarem, pois elas matam ou ferem vítimas e não sabem o crime que cometeu. O terror dos motociclistas é a linha chinela e poucos ficam vivos para contar essa história", relata.

Casos como de Jair se repetem diariamente. Dados da Associação Brasileira de Motociclistas (ABRAM), apontam que no Brasil são mais de 100 acidentes por ano, sendo que 50% causam ferimentos graves, e 25% fatais. Estima-se que em dados atuais os acidentes anuais podem passar de 500 mantendo com a mesma proporção.

Para evitar ações como essas, o organizador da campanha Cerol Mata, Léo Ferreira, afirma que é necessário tornar a prática de soltar pipa com cortantes um crime nacional. "Os motociclistas são as principais vítimas. Em diversos Estados do Brasil existe casos de pessoas que morrem ou simplesmente ficam feridas pela linha chilena ou cerol. Nós da campanha estamos junto aos deputados Federais para buscar formas de criminalizar essa prática tão perigosa", ressalta.

Acredita-se que dez pessoas morrem anualmente no Brasil vítimas de ferimentos provocado pela linha revestida com vidro e quartzo moído - pedra altamente cortante. O levantamento foi feita pela Brazilian Kite Club. Segundo o médico cirurgião plástico, Aurílio Luís, o produto é fatal. "Um simples corte na veia jugular pode causar a morte de uma pessoa em poucos minutos. Esse produto se corta muito mais do que uma lâmina", afirma o especialista.

O poder de corte, especificamente, da linha chilena é tão alto que além de provocar acidentes graves, que levam a morte, os cortantes - como são conhecidos - também pode provocar grandes estragos, como um corte profundo em uma peça carne ou até mesmo "serrar" uma lataria de carro.

Quando se tem contato com a rede elétrica, pode ser ainda pior. A linha chilena, sendo um potencial cortante, é capaz de cortar o metal utilizado no revestimento da fiação. De acordo com a Engenheira Elétrica, Márcia Thompson, o produto é condutor de energia. "Diferente do cerol, a linha chilena é composta com cristal de quartzo, que gera uma pequena corrente elétrica de alta tensão. Se uma pipa tem contato com essa fiação com certeza pode gerar um curto circuito", conta.

As estradas que cortam as cidades a beira das vias expressas são dramas para os motociclistas. Segundo a especialista, o único meio de evitar acidentes graves ou fatais é utilizar objetos de proteção como capacete revestido com produto altamente resistente ao corte além da antena nas motocicletas.

Além disso a especialista em segurança pessoal lembra que alguns conceitos de proteção devem ser repassados quando pequenos. "Deve ser ensinado desde novo sobre os riscos que a pipa oferece, mas deve ser brincada sem cerol ou linha chilena. Um trabalho de conscientização seria o fundamental."

Se por um lado as alta das férias escolares aguenta o número de vítimas, por outro é preciso mais fiscalização e trabalho em conjunto. Na próxima série de matérias vamos conhecer os Estados que realizam ações de prevenção contra o uso da linha chilena e cerol.